segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Quando as estrelas encaram o futuro cravado em nossas retinas...

Em horário ultrapassado, ela acariciava suas mãos com a parte mais macia de seu corpo.
Pensava nele, neles, e naqueles, sem imaginar que no dia seguinte sua cama seria tingida de tinta vermelha.
Agradeceu a existência de toda aquela cor. It's good news, como ela mesma disse, um dia, em um filme. Always good news.
Ouviu, naquele dia, histórias que a apavoravam, mesmo contra todas as evidências.
E prometeu que se jogaria do alto do terraço itália, de vestido azul de seda, se aquela fosse sua história.
Eu não tenho dúvidas de que ela se jogaria, pois sua expressão era bem séria, apesar do tom desesperado e sarcástico de sua voz.
Ela sabia ser bem má, um inferno, apesar da carinha de anjo, como outro dia dissera sua pessoa favorita nesse mundo.
Mas nada disso importava, nem mesmo a distância das palavras do outro dia supracitado, pois ele decidira voltar, melhor do que isso, decidira permanecer. E essa notícia já bastava, pois ela amava. Mesmo sem correspondências de qualquer parte do ser dele.
Aquele último abraço dera-lhe forças para continuar uma vida inteira, mesmo que fosse apenas sabendo que ele estaria bem.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

“Like a Hurricane”

Escrito em 17/12.

E ontem eu recebi a melhor notícia do mundo!
Não vou entrar em detalhes agora por ser também uma questão de exposição, não minha, mas dos outros.
Por uma questão de orgulhos e comparações e invejinhas que eu não quero cutucar.
Mas fica registrado que foi uma das melhores notícias do mundo.
Fica registrado também que por isso, mas não só por isso, não vou parar de dançar. Nunca!
Que é a única outra coisa que eu amo tanto quanto o teatro.
Achei meus mundos. Meus lugares. Meus holofotes.
Foi meu segundo sinal significativo.
Firmarei meus pés nesse terreno.
É sobre quando alguém descobre a que veio.
Fôlego e força. O melhor presente de fim de ano.
Sim, sim, alguém acredita em mim.
Não inibirei meus pés nunca mais. Porque ainda há tempo.
E o ser humano só é limitado quando quer.
Abram espaço em meu caminho, pois aqui nesse peito despertou um furacão.

“Once I thought I saw you
in a crowded hazy bar,
Dancing on the light
from star to star.
Far across the moonbeam
I know that's who you are,
I saw your brown eyes
turning once to fire.
You are like a hurricane
There's calm in your eye.”

Marshmellows e Monstros

Me faz falta o ar.
Meus pulmões do tamanho de caroços de azeitonas.
Minha pele amarelada de apatia.
Mais tarde chega o natal.
Mas eu não sei se anseio por isso.
Minha garganta engolindo minha voz.
Moinhos de vento lentamente giram no meu peito.
Muitas preocupações desnecessárias molham minha linha de raciocínio.
Muda, gélida, telepática, asmática.
Mamãe, sinto saudades daquela época em que meu mundo era seu colo.
Meteoros rasgavam nosso céu de veludo púrpura.
Minha morada era a copa de nosso pé de goiaba.
Marshmellows brotavam nas escadas.
Monstros ainda não dançavam em minha sala.
Meu mundo era seu colo.

I don’t love anyone...

Não amo ninguém.
Acho que isso está bem claro, não?
Nem adianta comentar do brilho dos meus olhos, que sempre brilharam um pouco além e isso não mudou agora, por qualquer razão romântica que as pessoas insistem em acreditar.
Na verdade, amo a todas as pessoas do mundo, exatamente da mesma maneira. Ninguém é privilegiado.
E quando vocês acham que eu sou a carente da história, na realidade, sou a única caridosa. Mas isso é amplo demais para vocês entenderem.
Ok, talvez eu ame dois cachorros e umas três ou quatro pessoas de forma mais especial do que o resto. Mas é só.
Eu garanto.
Ninguém pode afirmar o que acontece aqui, bem lá dentro, ou no funcionamento de meu juízo.
Só eu.
Eu aconselho que não criem expectativas. Não se iludam. Isso vai poupá-los.
E não vão julgando que sou inocente ou boba demais para cair nesse joguinho de vocês, para não perceber as piadinhas internas e risadas altas demais.
Pois, além de mais velha, já encarei mais brigas e corri com mais lobos.
Tenho mais veneno na saliva e carrego um furacão de caos no lugar do coração.
Descobri algo recentemente. Descobri que você não gosta de mim.
Você pensa que sim, mas na verdade não gosta.
Você primeiro precisa aprender a fazer isso, gostar. Para então descobrir se gosta. Complicado, não?
Mas fique tranqüilo, porque eu nunca tive a pretensão de que fosse diferente. É até um alívio.
Cuidado, porque essa sua brincadeira pode ficar muito perigosa.
E no fim das contas, a única pessoa que não vai sentir absolutamente nada serei eu.
Nada diferente do que sempre foi.
Fui clara?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Pareados

A menina que gostava de dois homens. E nunca foi diferente disso. Sempre dois.
Talvez o 2 não seja um número auspicioso.
Olho todas essas planilhas e todos esses números e nada disso faz sentido.
Não porque não entendo. Entendo. Mas essas coisas estão deixando o sentido, de ser o que são, cair pela estrada.
E a estrada, nada monótona, não tem posto de gasolina e também parece não ter faixa de chegada.
Sobe todas as escadas de dois em dois degraus. Só de dois em dois. Acha que assim é mais divertido.
A estrada é sempre uma só. Tem nuances e curvas. Tem opções de entradas e saídas. Mas é sempre a mesma estrada a percorrer. Não há de dois em dois na estrada. Sempre em frente. Mas ela quer mais. Ela quer para o alto e avante. Quer transcender, quer tele-transportar, quer desvendar o que há ali, ó, ali na frente, tá vendo? Não né?
Tudo bem...
Ela se comunica com as estrelas, porque as estrelas são as únicas que sempre escutam de forma adequada e são as únicas que respondem, nem sempre de forma adequada.
Pratica telepatia com cães de rua, pois sabe que eles conseguem ler pensamentos. Mais do que isso, sabem ler olhos.
Amava, com todas as fibras de seu ser, dois homens e não entendia como as pessoas não entendiam que isso era possível sim.

Uma carta leviana, para Nietzsch

Os homens e o amor difícil.
Sim Nietzsch, nós somos o inferno de Deus.
Custamos muito a entender esse conceito, a aceitá-lo. E não nos envergonhamos nem um pouco disso, para desespero dele. Para desespero nosso. Não arredondamos nada. Apenas criamos mais e mais e mais arestas. Pontudas. Cortantes. Dilaceramos tudo que há de bom e puro em nossos caminhos. Porque temos vários caminhos, mas não enxergamos isso. Somos cegos, desmaiados, ignorantes por livre arbítrio. Somos fracos por escolha. Enquanto touros sobrevivem e cospem milagres em nossas caras. Enquanto o sol não explode e cospe fogo em nossas caras. Reclamamos. Doemos. Somos covardes. Somos a maior dor daquele que carregou a maior dor. Uma cruz. A mais pesada cruz. Nós todos. Uma humanidade em existência. Humanos desgraçados, insatisfeitos, mal agradecidos. A pior raça, por livre arbítrio, por vontade própria. Escolhemos ser a pior raça. Dentre todas as constelações, fomos os únicos que escolheram errar atrás de erros. Encostamos as costas e os pés nos muros, e não nos movemos mais. Com audácia para botar defeito em tudo que foi criado. Sem coragem de mover uma palha. Corremos pesadamente nas salas do universo, destruindo tudo pelo caminho, destruindo a decoração divinal, comendo rostos de divindades, como porcos pútridos e famintos. Cegos como cobras subterrâneas desesperadas por achar um caminho, uma resposta, quando a resposta estava o tempo todo bem ali, explodindo as nossas caras.

“Convalescente”

Pelo abraço.
Pelo olhar.
Pelos sonhos que tentaram dizer alguma coisa.
Pela saudade.
Por todas aquelas razões que ficaram escritas com saliva nos copos.
Pelo brilho que mora em seu cabelo.
Pela estranha luz que corria ao seu redor naquele momento.
Pelo meio sorriso de meia felicidade que eu sei que você sentiu ao me ver...

Eu voltei.

E fui feliz pelo instante da duração de um abraço sem jeito. Sem encaixe, mas do tamanho certo.
Mesmo com os meus cabelos bagunçados, como você sempre deixa. Mesmo com um susto certeiro.

Eu contei com você e tudo valeu à pena.

Porque tudo sempre volta ao normal e você fez uma escolha que não me decepcionou.
Porque apesar de tudo-tudo-tudo que já foi sentido e visto e falado, você nunca me decepciona.

(F. B.)
Alguém aí já descobriu o que realmente importa para si?

Bem, eu descobri.

O problema é que eu também descobri que estou longe de conseguir.

Preciso me movimentar, mas cada passo que dou vira um looping.

Eu queria ter visto você chorar.

Pra guardar suas lágrimas, para sempre, dentro da minha boca.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Irremediável

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Te ver assim tão bem e amando é bom, muito bom.

Mas dói em tudo que há em mim.

Dói o mesmo tanto que não dói em você me ver assim tão bem também.

Agora, pertencemos menos um ao outro. Mesmo quando nunca foi diferente disso.

Por aqui, para a hora que você quiser voltar. Ou só me olhar.

Porque meu amor por você, além de impossível, platônico, ridículo, é assim... irremediável.

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sábado, 28 de novembro de 2009

Não pode

Hoje eu sonhei com quem não deveria mais sonhar...

E no sonho beijei e fui beijada de volta. Acudi. Ajudei. Acolhi. Orientei. Bebi uísque junto, como em outros tempos.

Sonhei com ele, que deveria estar chegando em casa na hora em que acordei.

E algo muito forte me disse que ele precisava de mim.

Assombração, eu te amo, e é pra sempre, mas eu preciso de paz assim como preciso de você, assim como preciso da minha vida de volta.

Mesmo sozinha. Mesmo sem você.

Um beijo no seu ombro, porque na boca não pode.

Band-aid.

Deus... tenho salvação? Ainda nessa vida?
As pessoas estão me abandonando... aos pouquinhos, como um band-aid.
Só que dói em mim. Só em mim. Dói mais quando é aos pouquinhos.
Dá pra sentir mais. Prolongadamente.
Cordas de guitarras desafinadas vibram na minha cabeça. Dentro e ao redor.
Tenho estado mais longe do céu. Minha saúde também notou isso.
Então eu danço, pra pensar menos, para sentir menos. Me entorpeço.
Substituo uma dor por outra. Pé em ponta. Coxas alongadas. Coluna ereta.
Vou tentando alcançar a virtuosidade que desconheço, que não encontro em outros lugares.
Deixo ele me adorar e me sinto cada vez mais culpada.
Tenho tomado uns remédios que não deixam as dores físicas entrarem.
Ando com tonturas e leveza. Não encontro concentração. Ou motivação.
Meu corpo busca o dele inconscientemente. E minha mente sempre deixa.
Sou assim tão desprezível? Mesmo?
Sinto dor e dó... emoções envenenadas.
Euforias súbitas. Alegrias desconexas. Vazio.
Como se chovesse purpurina atrás de minhas retinas.
Minha ambição? Ficar saudável. Não sofrer muito quando o sertão virar mar.
O que ficou escrito em meu destino que me faz temer e tremer tanto?
Fico pensando se minha lucidez extrema é uma dádiva maldita...
E essas febres sem explicação?
Me sinto na obrigação de tirar mais fotos e de escrever mais, mas sobre o quê?
Preciso de foco. E de mais cigarros.
Sinto que eles precisam de mim, mas não faço idéia de como suprir.
Eles precisam do meu abraço e do meu apoio. Estamos invertidos. Não sei quem vai cuidar de mim agora.
Não me prepararam para isso. Esqueceram-se de me avisar que seria assim.
Não me preparei para ser sugada e cobrada e julgada. Eu sempre achei que teria uma corda de segurança, mas quando notei eu já estava caindo... e só caindo.
There is no Mother Mary when I find myself in times of trouble...
No words of wisdom have been whispered.
Sem resposta. Um coração partido.
Só isso.

Conto - Como suspeitos de um crime...

Ela acorda com a barriga gelada de expectativa pela tarde que chega. Afasta, com um banho demorado, todos aqueles pensamentos impacientes. Prepara o corpo e a mente. Arruma sua mala para o dia seguinte, pois sabe que hoje poucas peças serão necessárias. Está louca para sair logo de casa mas enrola. Está com medo de sair de casa e se apressa. Se convence de que não está sonhando, pois há muita lucidez nessa loucura toda. Lucidez excessiva é altamente prejudicial, conclui. Dragões incandescentes percorrem seu corpo. Um pouco de febre também. Um truque e mais uma brilhante atuação perante a família. A pressão de olhar nos olhos deles. Bigornas em queda livre acertam seus pés. Verifica a chave e foge para a rua. Respira. Está livre. Decide que vai de táxi para conservar o perfume no corpo. Passa no mercado e compra uma bebida de menina, quase rosa. Compra também chicletes e coragem. Finge prestar atenção na conversa do taxista enquanto seu coração quase explode no céu da boca. Um caminho conhecido. Paga o taxista tagarela com vontade de enfiar o dinheiro na boca dele. Chega e encara o porteiro descaradamente, assumindo as peripécias iminentes, como se ele quase conseguisse adivinhar seus planos. A longa e asfixiante espera no elevador. A porta. Ela, previamente orientada que deveria entrar, pois a porta já estaria aberta. Clec. Estava aberta. Segurando o coração com as mãos para que esse não fugisse pela janela, a visão do corredor, o som da presença dele no banheiro. Cheiro de perfume masculino. A sala asseada. Ela passeia pela casa reconhecendo os cômodos, matando saudades de bons momentos, da primeira vez em que pisou no quarto, só para ler alguns contos, das outras visitas um tanto comprometedoras. Ela ainda passeia pela casa, já descalça, com um sorriso leve, infantil e malicioso. Encosta na janela e acende um cigarro. Ela veste seu lenço favorito, só para despi-lo depois.

Ele, perfumado, chega a sala com seu olhar perigoso de cigano. Beija-a com vontade, invadindo sua boca com língua e dentes sedentos, violentos, a mão já preparada com aqueles óleos próprios e irresistíveis. É ali no sofá da sala, a luz do dia, que iniciam sua manobras de amor tendo como platéia os moradores dos prédios vizinhos e os passageiros dos aviões que se preparam para aterrissar no aeroporto da cidade. Deliciando Voyers, quase gozam juntos. Aproveitando o pique adolescente dele e a eterna vontade dela, retomam as ações, mas em posições trocadas. O sofá torna-se, então, um aparelho de acrobacias enquanto ele abusa do alongamento dela. Um ponto nunca antes devidamente explorado é encontrado. Um tesouro numa praia deserta. Um tesouro úmido em uma praia explosiva. Ela sem fôlego, os pés próximos à cabeça, explodindo em mil sóis. Novas constelações nascem no céu que desaba sobre a cidade. Ela chove-se toda sobre a cidade. O céu inunda o chão de janelas abertas da sala. Consegue contar só até 7, depois perde-se em quantidades e sensações. O corpo dela aperta o dele ferozmente, retardando, atrapalhando, molhando todo ele. “Só posso estar morrendo”, conclui ela. “Ah, se morrer fosse tão bom assim! Indescritível”.

Entre banhos e muito mais chuva, entre cama e sofá, pia da cozinha, entre copos de vinho cor-de-rosa, entre mais cigarros e conversas e cócegas e piadinhas, entre saudades e mais vontades, entre calcinhas com brilhos e lambidas, entre outros veste-e-despe, quente e frio, entre pizzas e esperas, ela morreu e deliciou-se tantas outras vezes por todas aquelas vinte e quatro fantásticas horas seguintes.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Sub(in)consciente

Hoje eu acordei com uma saudade de você no meio das minhas pernas.
Daquele cheiro que deixamos impregnado no quarto.
Do seu cheiro misturado ao meu. Do meu gosto misturado ao seu.
Das nossas risadas silenciosas. Estripulias maliciosas.
Sua língua passeando sem pudores pelos meus cantos.
Relâmpagos iluminando as frestas da veneziana.
A chuva visitando cinza e mansa o asfalto da cidade pela janela indiscreta.
Beijos em lugares surpreendentes. Descobertas.
Compasso e descompasso. Arrepios. Pé e mão.
Multiplicidade de sensações. Prazeres.
Fôlego e água derramados no lençol.
Suor acumulado entre ventres.
Pêlos e cabelos enroscados no chão.
Aquela cena perdida por muitos cineastas.
Dentes e mordidas roxas. Mimo, oferta de colo.
De todas as partes e tipos de colo.
Do útero ao seio.
O banho que não foi dado e nem tomado junto. O banho de gato.
Do sussurro, da pressa e do segredo.
Nossa prece para que a cidade se movesse em câmera lenta.
A vontade de não desperdiçar nem o último segundo.
Mesmo com ou sem cigarros.

Outro lugar

Algo pontual.
Uma distração para minhas lagriminhas. Sem ter que explicar nada.
Cheguei, tomamos cerveja, otras cositas, sex, more sex, cigarrettes, muitas risadas.
Colo. Me deu colo, em sentido literal.
Nada demais. Foi demais, por não ser nada demais.
“Entramos, pecamos e partimos”.
"Você mordeu a maçã
E renunciou ao paraíso
E condenou a tal serpente
Sendo você quem quis fazê-lo


Eu que sou um caos completo
As entrada, as saídas
Os nomes e as medidas
Não cabem nos meus excessos
"
As coisas estão perdendo a graça.
A comida está menos saborosa. As emoções escorrem pelo ralo.
As pessoas riem, mas eu não consigo esboçar um sorriso.
Acontecimentos explodem na minha cara, mas não consigo percebê-los.
Tenho a pele anestesiada e o toque, o meu e o dos outros, parece qualquer coisa sobre qualquer pedaço de carne morta.
Não consigo reproduzir mais as cenas porque não consigo mais sentir.
Parece que não estou mais ali. Não estou mais aqui. Tudo acontece maior e melhor dentro da minha cabeça. É como se minha alma tivesse se desprendido do meu corpo e ficasse presa no interior do topo do meu crânio, entre o cérebro e as têmporas, olhando pra baixo e para dentro. Estou vazia. Minha alma só vê esse vazio. Um vazio irônico que quer arrancar o que há de pior nas outras pessoas. Um vazio que aponta seu dedo indicador na minha e na sua cara e debocha e ri até vomitar.
.
.
.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Após completar 1/4 de século...

"
TENHO SENTIDO UMA VONTADE DE COLO.
SIM, DE COLO. É INCONTROLÁVEL. INSACIÁVEL.
QUERO COLO. DE MÃE, DE AMIGA, DE NAMORADO, DE PRIMA, QUERO COLO, SEM DISTINÇÃO.
E TEM QUE SER UM COLO VERDADEIRO, DAQUELES QUE SUSTENTAM PERNAS E LOMBO, APÓIAM CABEÇA E OMBROS.
QUERO COMPRAR UMA GARRAFA DE VINHO BRANCO, SENTAR NAQUELA PRAÇA PERTO DA VILA E ASSISTIR O PÔR-DO-SOL. SIMPLES ASSIM.
QUERO ASSISTIR MINHA PELE ALARANJAR-SE COM O REFLEXO DOS RAIOS. QUERO FICAR MORNA DE SOL QUE VAI DORMIR. OS PÊLOS ARREPIADOS DE CALOR. OS OLHOS CINZAS-CASTANHOS MAIS VERDES.
QUERO QUE O SOL ME INVADA PELO UMBIGO, PELA BOCA DO ESTÔMAGO, PELO NARIZ, PELOS JOELHOS, PELOS DEDOS INDICADORES E SE MISTURE AO VENTO NO MEU CABELO. PENETRE NO MEU SANGUE E ME ENTORPEÇA JUNTO AO VINHO. ME ACARICIE OS PÊLOS, OS POROS, O PULMÃO DIREITO E O ESQUERDO, ACALME ESSA SENSAÇÃO NA BOCA DO ESTÔMAGO, AQUEÇA MEU ÚTERO, ME LIBERTE E ME PEGUE... NO COLO.
"

Extintos (Instintos)

*

Perdi a chave do meu coração. E meu peito foi rasgado e escancarado para as moscas.
Sentimentos extintos. Vagas abertas.
Se você possui mais de 40 anos e cabelos cor de prata, para combinar com meus olhos cor de prata, inscreva-se.
Recomendações: não ouse me dobrar.
Cansei de cuidar das pessoas. Agora eu quero alguém que cuide de mim. Que me coloque na cama, ou no colo, e me balance. Quero ser ninada.
Porque tenho lágrimas nos olhos há tempo demais, e elas não secam, não cessam.
Quero ir embora. Ir pra casa. Deitar na minha cama e acordar só na vida seguinte.
Eu quero escolher nunca mais ter dessas febres repentinas no meio da semana, no meio do nada, e finalmente dormir. E descansar. E acordar sendo amada.
Quero um beijo que invada a minha nuca. Levantar sem ter que escolher roupas, sem ter que vestir roupas, passear pela MINHA CASA com uma taça de vinho, um cigarro, nua, e escrever descomprometidamente para a vida. Dar vazão de mim no papel. E adormecer sobre a pena na mão na mesa. Acordar entre milhares de penas e sentir que o mundo é fofo e confortável e leve assim, com papéis e inspiração se misturando por todos os lados. Ter sempre o beijo que invade a nuca para me acordar. Tenho corrido com lobos e meu corpo todo dói. Dói porque tenho ressaca das pessoas. Enquanto isso minha mão formiga e eu passo frio. Os lobos são meus amigos e eles aprenderam que não conseguem me dobrar. Então, brindamos e bebemos à nossa corrida. Bebemos uísque, que é feito para aqueles que cansaram de sentir o gosto do mundo.
Por isso, agora escancaro meu peito dolorido e dilacerado pela 5ª vez e abro todas as vagas, mesmo que seja só para as moscas. Quem sabe o 6 seja meu número de sorte.
Ultimatos: Mas não vá pensando que sou sua, nem que estou garantindo uma morada no meu peito. Porque não é possível domesticar um lobo que nasceu para correr o universo.
É a chance. Se você tem o cabelo ou os olhos cor de prata, para combinar com os meus, ou se você é selvagem o suficiente para correr do meu lado... chegou nossa hora. Te aguardo de frente para a avenida com as luzes mais fortes, perto da última floresta.

*

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Prata

*

Inconstante.
Eu sou muito inconstante.
Não vou pedir desculpas por isso.
Gosto é de chegar sozinha nos lugares e beber sozinha e observar sozinha e escrever sozinha e conhecer pessoas.
Não consigo me desacostumar. Sou e sempre fui uma anti-social profissional. Odeio o burburinho.
Gosto quando o mundo gira aos meus pés. Meu corpo é só meu.
Sou egoísta sim, mas disso você já sabia.
Então não fale assim comigo. Não desse jeito manso.
Não me toque. Por favor, não me toque.
Tenho espinhos no couro.
E eu garanto. Você vai se machucar. Não-me-toque, eu disse.
Me deixa em paz. E me deixa beber em paz. E não se aproxime assim, porque sou perigosa assim.
Porque assim eu sufoco.
Tome cuidado e não vá achando que sou sua. Porque nunca quis ser sua. Ou de qualquer alguém.
Porque jogo e brigo com artilharia pesada. Estou em um outro lugar.
Vou acabar te estragando também.
Vou destruir sua inocência e sua pouca experiência.
E vou te jogar aonde cheguei. Onde sangrei.
Para me acompanhar, querido, você precisa de um pouco de malícia e uma dose de sorte.
Além da paciência e da experiência que só se adquirem quando os cabelos ficam grisalhos.

*

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Badabá

FODA-SE.
VIM AQUI ESCREVER SÓ PRA ME SENTIR VIVA.
MAS ISSO NÃO SIGNIFICA QUE EU VOU ESCREVER ALGO QUE VAI MUDAR SUA VIDA. PORQUE EU NÃO VOU.
OUTRA COISA QUE ME FAZ SENTIR VIVA, UM SER PENSANTE, É A MÚSICA. E HOJE ME DEI CONTA QUE HÁ ALGUM TEMPO EU NÃO OUVIA NADA MELÓDICO QUE VALESSE A PENA.
DAÍ EU ESTAVA A TOA. A TOA NÃO, TAVA TRABALHANDO (RSRS) E GARIMPEI MEU CELULAR DE DENTRO DA BOLSA, COLOQUEI UNS FONES NELE, PROCUREI UMAS RÁDIOS E ACHEI POUQUÍSSIMAS COISAS BOAS.
MAS UMA VALEU A PENA. ESTAVA TOCANDO “COMO NOSSOS PAIS”.
E A RAIVA NA VOZ DAQUELA MULHERZINHA FÉLADAPOTA QUE É A ELIS FEZ ARREPIAR CADA PÊLO DO MEU CORPO NADA MAGRO, MAS AINDA PEQUENO.
ISSO SEM MENCIONAR REM, KID ROCK COM O POP-ROCK-FOLK “SWEET HOME ALABAMA”, A VOZ DA JANIS JOPLIN PEDINDO UM MERCEDEZ-BENZ PRA DEUS...
E DAÍ EU LEMBREI EM COMO EU SOU FELIZ E VIVA POR TER A MÚSICA, MESMO QUANDO JÁ ESTÁ TUDO FERRADO MESMO...
COMO FUI FELIZ DE TER UM PRIMO QUE INJETAVA MTV E THUNDER BIRD NO MEU CÉREBRO DE 6 ANOS DE VIVÊNCIA 77H POR DIA.
MEU VELHO! COMO AQUILO TUDO ME DEIXOU IRRITANTEMENTE LÚCIDA, NEM PRECISEI LER SARTRE AOS 15 ANOS PRA TER CRISES EXISTENCIAIS E OVERDOSE DE MUNDO.
MAS FOI TUDO VÁLIDO.
DIA DESSES TIVE A CHANCE DE FALAR COM O THUNDER... E DEVO TER IRRITADO ELE PÁCACETE COM MEU BLÁBLÁBLÁ ÉBRIO. MAS, IMAGINEM SÓ, EU TINHA TOMADO UM MONTE DE VINHO E ME DEPAREI COM O ÍDOLO DA MINHA INFÂNCIA E PRÉ-ADOLESCÊNCIA... DEPOIS DO CARA, A MTV NUNCA MAIS FOI A MESMA!
BEM, MAS ESSA É SÓ MINHA OPINIÃO.
MAS TAMBÉM TEVE MUITO DE BEETHOVEN E MOZART NA MINHA FORMAÇÃO. MINHA MÃE, CANTORA LÍRICA FRUSTRADA, DEIXAVA O DIA INTEIRO TOCANDO A “CULTURA FM”, ACHO QUE É ESSA A RÁDIO... AQUELA QUE FICAVA UMA MULHER CANTANDO BADA BÁ BADABÁ BADABÁ BADABÁÁÁDA, SABE? ENFIM, ISSO ME APRESENTOU UM OUTRO MUNDO.
UMA COISA LOUCA QUE CONDUZIA MEU CÉREBRO PSICODÉLICO DE 7 ANOS POR OUTRAS ERAS...
TINHA TAMBÉM A PAIXÃO DO MEU PAI POR MPB.
TODOS OS FINAIS DE SEMANA NÓS VIAJÁVAMOS DE CARRO PRA PRAIA OU PARA MARÍLIA, NO INTERIOR PAULISTA, E DAÍ ERA INJEÇÃO DE GUILHERME ARANTES, ROUPA NOVA, CAETANO VELOSO, MILTON NASCIMENTO, ZELIA DUNCAN, ROBERTO CARLOS.
ISSO, QUANDO NÃO ERA CARMINA BURANA QUE TOCAVA INTEIRINHA NAS VIAGENS E EU CANTAVA INTEIRINHA AOS 8 ANOS, TODA SERELEPE. A 9ª SINFONIA AOS 9 EM ALEMÃO.
E TINHA MAIS UMA QUE EU OUVIA REPETIDAS VEZES ATÉ DORMIR. O REFRÃO ERA ALGO ASSIM “VIVER É FÚRIA E FOLIA RUMO AO MÁGICO” QUE NÃO LEMBRO DE QUEM É... EU ADORAVA. ME DAVA UMA SENSAÇÃO DE INTENSIDADE, OLHANDO A ESTRADA, O SOL NASCENDO NAS COSTAS DO CARRO. UMA SENSAÇÃO DE “ADEUS, AGORA, TUDO BEM”.
EU ACHO QUE EU ERA AUTISTA QUANDO CRIANÇA, NÃO FALAVA COM QUASE NINGUÉM, VIVIA EMBURRADA, TUDO ERA PSICODÉLICO, O VENTO E SEUS SONS, A MÚSICA E SUAS CORES, OS SENTIMENTOS, O FRIO, O CALOR, TINHA UM MILHÃO DE AMIGOS IMAGINÁRIOS E TROCAVA DE ROUPA VÁRIAS VEZES EM UM DIA, PARA AGIR DE ACORDO COM MEU ACOMPANHANTE IMAGINÁRIO OU COM A SITUAÇÃO. EU SEGURAVA FORMIGAS NAS MÃOS E FICAVA CONVERSANDO COM ELAS. DEPOIS EU AS AFOGAVA E UM MINI POÇA DE ÁGUA AO LADO DO BEBEDOURO. DAÍ EU AS SECAVA E FICAVA ESPERANDO ELAS REVIVEREM (ISSO RARAMENTE ACONTECIA). EU ACHAVA QUE TINHA O PODER DE COMANDAR O TEMPO E FICAVA TESTANDO ISSO NO QUINTAL. MANDANDO AOS CÉUS QUE CHOVESSE, POR PURA VONTADE.
A COURTNEY LOVE ERA MEU ÍDOLO. EU QUERIA CRESCER E SER EXATAMENTE IGUAL A ELA.
SONHO PARTIDO BEM CEDO, HAJA VISTA MINHA PELE MORENA E MEU CABELO NEGRO. E A HERANÇA VOCAL NÃO HERDADA DE MINHA MÃE.
MINHA MÃE CANTAVA MUITO. OS VIZINHOS DO QUARTEIRÃO AO LADO VINHAM COMENTAR QUE A TINHAM OUVIDO E QUE ERA LINDO. ERA LINDO! MAS MEU OUVIDO DOÍA MUITO E ELA PAROU DE CANTAR.
NÃO ME LEMBRO DISSO. POR BLOQUEIO DEVE SER. SEI QUE DEPOIS QUE DESCOBRI QUE ELA PAROU DE CANTAR POR MINHA CAUSA ME DOEU MUITO.
DÓI ATÉ HOJE QUANDO LEMBRO QUE ELA TEM UM CALO NA VOZ E QUE NÃO CONSEGUE MAIS ATINGIR AQUELAS NOTAS.
É...

CHICO BUARQUE EU DESCOBRI SOZINHA. E LEMBRO QUE FOI DELICIOSO. NÃO SEI SE FORAM OS OLHOS DELE OU A VOZ DE OURO LÍQUIDO, SEI QUE DERRETEU MEUS SENTIDOS. PULSOU.
O BLUES VEIO ESPONTANEAMENTE, COMO AQUELE GAROTO DO BAIRRO QUE SEMPRE ESTEVE ALI POR PERTO, MAS VOCÊ SÓ REPAROU QUANDO ADQUIRIU CERTA MATURIDADE, ENTENDE?
O MAIS ENGRAÇADO É QUE A MATURIDADE TROUXE UM CERTO APREÇO POR CAIXINHAS DE MÚSICA.
UMA SENSAÇÃO DE INFÂNCIA PERDIDA... OU DE ALGO PERDIDO NA INFÂNCIA. NÃO SEI AO CERTO.

UMA COISA É CERTA, E NÃO É BRINCADEIRA, SEM MÚSICA EU JÁ TERIA ABANDONADO O BARCO HÁ MUITO TEMPO.
AOS 13 ANOS, COMECEI A TER INSÔNIAS INFERNAIS.
AOS 14 ANOS, EU DESEJAVA ME TRANSFORMAR EM ALGO SEM VIDA, UMA PEDRA, UM FOLHA CAÍDA NA CALÇADA.
AOS 15 ANOS, O MEDO DE TER CÂNCER DE MAMA, UM CHOQUE E UMA PERDA.
AOS 16 ANOS, SOLIDÃO.
AOS 17 ANOS, NÃO QUERIA CHEGAR AOS 20.
AOS 18 ANOS, UM CORAÇÃO, PELA TERCEIRA VEZ, ESTRAÇALHADO (DUPLAMENTE), SÓ ESPERANDO O PRAZO FINAL.

MAS A MÚSICA SEMPRE ESTEVE ALI. DENTRO DO RÁDIO, NA TV. DENTRO DA PELE. NA GARGANTA. ESCONDIDA NOS FONES DE OUVIDO SOB MOLETONS.
FALANDO TUDO QUE EU NÃO PODIA FALAR.

Sobre a verve, a ação e a melancolia...

Carente, carente, carente. Como um cachorro em dia de chuva.
Atribuo isso ao período fértil e cíclico de meu corpo.
Gosto tanto da lua que a peço em casamento. Sem resposta.
Dias nublados e noites pesadas.
Caminho pelas ruas sem parar. Acendo um cigarro. Outro.
Minha cabeça toca um blues. Sinto falta do som de um baixo, nessa história toda.
Um pouco de transparência nos braços e nas pernas.
A pele pálida exigindo maquiagem. Um pedido declaradamente ignorado, por enquanto.
Os pés tristes porque não estão dançando.
E a noite prometendo segredos que não existirão.
Uma garrafa de vinho abandonada na mão esquerda.
Não sei aonde meu corpo me leva então caminho sem rumo. As ruas barulhentas da cidade gritam meu nome.
Gritam todos os meus nomes, dessa e de outras vidas.
Os sentimentos se confundem dentro da minha cabeça e eu sinto uma coisa só. Que já não sei mais se é boa ou ruim.
Meus pés não param, e seguem um caminho traçado por impulso e instinto.
A rua ainda grita tantos nomes que eu não sei se ainda reconheceria o meu próprio.
Luzes amarelas e vermelhas passam agressivamente sobre meus olhos.
Jogo mais fumaça em meus pulmões. E a fumaça, sem encontrá-los, se espalha por todo meu corpo, entorpecendo meus sentidos, como se isso ainda fosse possível.
Uma música metálica e de acordes repetidos não me abandona.
Vagando, olho nos olhos de uma mendiga velha, e talvez sábia, que tenta me aconselhar em dialeto próprio.
Num dialeto igualmente antigo que deve ter sofrido influências de todas as outras línguas do mundo.
Estranhamente, ela baba enquanto fala e sua saliva reluz como ouro à sombra das luzes dos automóveis.
Uma luz forte no final da rua, o som alto de uma freada brusca e...
Uma luz forte no final da vida.
A boca invadida por um gosto salgado e ácido. Devo estar comento pilhas.
Mas é só sangue. Só sangue. Por todos os lados.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

"O carro encosta.
Ela segura uma garrafa de vinho.
Tem fones e ouve uma música do Lou Reed que incendeia seus ouvidos.
Masca chicletes. Sem dizer nada.
Analisa a deliciosa pele branca da amiga-namorada.
My milky-love, ela pensa.
Se depara com um olhar irresistível do pirata, ao volante.
Entra no banco de trás do carro e estoura uma bola de chiclé,
apreciando as expressões registradas pelo espelho retrovisor.
Pra onde nós vamos? – Alguém pergunta.
É segredo, ela sussurra.
Em silêncio todos concordam.
Pois cada um sabe que vai se perder na pele e nos sentidos dos dois outros...”

Só porque, às vezes, o universo conspira...

*
SEUS CABELOS, SENDO DA COR DO TRIGO, DO FOGO, DO CARVÃO OU DA MADEIRA, SÃO EMARANHADOS, DESARRUMADOS OU CACHEADOS.
SUA PELE É DE MÁRMORE E TEM MÃOS COM DEDOS LONGOS DE ANJO.
CONSCIENTE E VEGETARIANO. GOSTA DE CRIANÇAS E CONVERSA COM ANIMAIS.
É INTELIGENTE E CHARMOSO COMO UM DIABO.
SENSATO E CÓSMICO.
TOCA VIOLÃO COM A BELEZA DE UM CATALÃO E ANDA DE SKATE COMO SE TIVESSE ASAS.
SABE CANTAR E ME ENCANTA COM OLHARES INOCENTES.
CARREGA UM NARIZ DE PALHAÇO NO BOLSO E FAZ CHARME COMO CHAPLIN.
É BRAVO E INTENSO, FIEL E POSSESSIVO COMO UM LOBO.
BEIJA-ME COM LEVEZA E CARINHO, SÓ PARA ME ENLOUQUECER, MAS ENTÃO ME DOMINA.
ME MORDE.
E ME COME, COM FORÇA. TRANQUILO, COMO SE FOSSE MORRER.
TEM APETITE DA MINHA PELE... ME DEGUSTA.
QUANDO NOS ENCOSTAMOS EXPLODIMOS EM MIL SÓIS. NOVAS CONSTELAÇÕES.
DEIXA A BARBA MAL FEITA SÓ PARA ENLOUQUECER MEUS SENTIDOS.
ELE TEM A MINHA PAIXÃO POR TEMPEROS E NA COZINHA REINVENTA. INOVA E ME PROVA.
SEGURA MEU COrPO DE UÍSQUE E ROUBA VÁRIOS GOLES...
ENQUANTO MURMURA UM BLUES.
BRINCA COM MINHAS SARDAS NUAS E MEUS PÊLOS.
TEM O CORPO QUENTE COMO SE TIVESSE FEBRE. ME AQUECE POR TODOS OS LADOS. ME INVADE.
DORME SEGURANDO MEU SEIO ESQUERDO, O QUAL ALEGA SER SEU FAVORITO POR TER UMA CICATRIZ EM MEIA LUA.
MAS NUNCA DEIXA O OUTRO SEIO ENCIUMADO POR CARÍCIAS. NEM NENHUMA OUTRA PARTE.
ENXERGA ARTE EM MEUS GESTOS E CONSIDERA O CIGARRO, QUE EU SEGURO COM DESLEIXO, UM TANTO POÉTICO.
NOSSOS OLHOS CONVERSAM EM TELEPATIA.
E O TÉDIO DESCONHECE NOSSAS TARDES CHUVOSAS.
NOSSAS CONVERSAS TEM CHEIRO DE CRAVO E ARDÊNCIA MALAGUETA.
FEZ DE MEU COLO SEU PRÓPRIO ORATÓRIO.
AMA TANTO QUE DÓI.
*

Início

DUAS BOCAS LINDAS.
A PELE BRANCA DELA, O ROSTO DE PIRATA DELE.
EU E ELA DERRETIDAS PELA INTELIGÊNCIA SARCÁSTICA DELE. E ELE NEM DESCONFIAVA.
EU EM UMA FASE DE ENTREGA E DESCOBERTAS. ELA NAMORANDO.
A TENTAÇÃO SERPENTEANDO EM NOSSOS CORPOS.
O TEMPO PASSA ENTRE DECEPÇÕES E DEVANEIOS.
NÓS TRÊS VOLTAMOS A DIVIDIR O AMBIENTE E AS INTENÇÕES.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

NO VENTRE DA CASA - SARAU

*
PRIMEIRO CHEGOU A MÚSICA.
DEPOIS O CHEIRO DE INCENSO PREPAROU O AMBIENTE.
E BRINCAMOS COM A FORÇA DE NOSSOS PENSAMENTOS. COMO UM PEQUENO RITUAL.
A INSPIRAÇÃO TOMOU CONTA SEM PRECISAR SER INVOCADA.
UMA MESA PREPARADA PARA SER ATACADA.
A CADA SENTADA UMA NOVA CORRIDA PARA A PORTA.
MUITOS COPOS DE VÁRIAS FORMAS.
MUITAS GARRAFAS, MUITOS CONVIDADOS, E EU ROLANDO PAREDE ACIMA DE TANTO VINHO.
ALÉM DO VINHO, A PINGA, A CHAMPAGNE QUE NÃO ERA CHAMPAGNE, A AKVAVIT, E DEPOIS DESSA ÚLTIMA UM PEQUENO BLECAUTE.
ABRE A PORTA PRA RUA E RESPIRA, NUMA TENTATIVA DE RETER O AR, DE RECUPERÁ-LO PRA ENFRENTAR O SARAU NUM FÔLEGO SÓ.
E VOLTA. MAS VOLTA COM TUDO E ENFRENTA AGORA O SGROPPINO. OS SENTIDOS BATEM NO CÉU EM DELÍCIAS.
AGRADEÇO EM SORRISOS.
MUITOS MOMENTOS. MOMENTO INTERNET.
MOMENTO SSSSHHHIIIIUUUU PARA OS CACHORROS.
MOMENTO LEVE O COLEGUINHA PELA MÃO PRA FAZER XIXI (SIC ?). MOMENTO AMIGA CAÍDA NO BANHEIRO (SIC ?²).
MOMENTO SENTA NO CHÃO DE SAIA COM AS PERNAS ABERTAS... “TUDO BEM, ESTOU DE COLLANT”.
MOMENTO PÕE PRA DORMIR.
MOMENTO TÁBUA DE FRIOS E A TRAIÇÃO ÀS MINHAS PRÓPRIAS PROMESSAS E IDEAIS AO ROUBAR UMA FATIA ÚNICA DE SALAME. É QUE NÃO RESISTO A UM SALAME... HEHE.
MAIS, MUITO MAIS VINHOS... NÃO PERCO MEU COPO DE VISTA.
TALVEZ JURUPINGA, PINGA DE BANANA NO MEIO E O JUÍZO INDO EMBORA AOS SOLAVANCOS.
MOMENTO CIGARROS E CONVERSINHAS NA PORTA.
MEU ORGULHO DE ALGUMAS COISAS, MEU ORGULHO DE ALGUMAS PESSOAS.
RECONHECIMENTO DOS AMIGOS. ABRAÇOS. MAIS CIGARROS. SUJEIRA. MUITA SUJEIRA.
QUE EU ADORO.
MOMENTO POESIA, MUITA POESIA. UM VIOLÃO E PALAVRAS DE TEOR REGIONALISTA. ENCHENDO O AMBIENTE DE BELEZA.
CHEGADA DE UM AMIGO MUITO QUERIDO. REVISITA. PASSADA RÁPIDA.
MOMENTO OLHA NO MEU OLHO ASSIM MESMO, PORQUE ASSIM É UMA DELÍCIA.
LEVA ATÉ A PORTA E SE DESPEDE UMA, DUAS VEZES.
NÃO QUER IR EMBORA, NÃO DEVE IR, MAS TEM QUE...
CARÍCIAS DISPERSAS. SENTIDOS, TAMBÉM.
TUDO A FLOR DA PELE.
JOGOS, JOGOS, JOGOS. TROCA, CONGELA. ROLA SOBRE AS PESSOAS. DANÇA. FICA DE QUATRO E PISA.
RIEM E BRINCAM, COMO CRIANÇAS SEM LIMITES. DEITAM-SE NO CHÃO MESMO. SE ESPARRAMAM.
ELA RI-SE TODA.
CUMPLICIDADE NOS OLHARES. SEGREDINHOS NAS ESCADAS.
A DANÇA DA BAILARINA COM A MENINA LINDA BORDADA DE FLOR. SEM VERGONHA ALGUMA E COM OS PÉS DESCALÇOS ENCHENDO DE POESIA OS OLHOS DE ALGUNS MENINOS-ESPECTADORES.
MOMENTO VAMOS TIRAR FOTOS E UM ELOGIO FOFO.
FOTOS, MUITAS FOTOS, NOS ÂNGULOS MAIS INUSITADOS. ENTRE ERROS E ACERTOS, REGISTROS, QUERENDO FAZER UMA MEMÓRIA DIGITAL DE ALGO QUE NÃO DEVERIA TER FIM.
A LENTE CAPTA ALGUNS SENTIMENTOS OCULTOS.
MAIS CIGARROS, MAIS ABRAÇOS, MAIS CONVERSINHAS DE PORTÃO.
INFELIZMENTE, ALGUNS TÊM QUE IR EMBORA CEDO.
OS QUE FICAM VÃO SE ACOMODANDO POR TODOS OS LUGARES DA CASA.
A MELODIA ACALMA. TODOS SE AQUIETAM, POIS BRINCARAM OU BEBERAM DEMAIS.
CONVERSINHAS, ABRACINHOS. UM DVD É COLOCADO EM SINTONIA.
ALGUNS CORPOS PROCURAM CALOR.
POUCOS CONSEGUEM AINDA PRESTAR ATENÇÃO.
UMA TRANQUILIDADE INVADE MEUS SENTIDOS. CHEIROS DE DOCES DA INFÂNCIA, COMO BAUNILHA E GELATINA DE MORANGO.
E ASSIM COMO NUM JOGO DE DETETIVE, UM SEGREDO INVADE UM DOS AMBIENTES DA CASA.
INTENÇÕES ESCALAM AS ESCADAS.
NA LINGUA, UM GOSTO MACIO. CALORES NO VENTRE.
OLHARES SÉRIOS E BRINCALHÕES.
NEM TODOS ADORMECEM.
E O SOL ABRE AS CORTINAS DA CASA AVISANDO QUE É HORA DE MAIS ALGUÉM IR EMBORA.
E ALGUNS VÃO, ESQUECENDO PERTENCES E DEIXANDO INDÍCIOS DE QUE QUERIAM FICAR.
BREVE ARRUMAÇÃO.
CAIO NA CAMA, RENDENDO MEUS SENTIDOS, FINALMENTE, AO ABRAÇO DE MORFEU.
*

"NEO"

*
ELA, NEO VEGETARIANA, SENTE REPULSA PELO CHEIRO DE CARNE NA CHAPA, QUE AS RUAS EXALAM, MAS NÃO CONSEGUE TIRAR O PEIXE DE SUA DIETA.
SUA DIETA, A QUAL VEM SOFRENDO TRANSFORMAÇÕES EM DOSES HOMEOPÁTICAS, ANDA TODA COLORIDA POR FOLHAS CLARAS E ESCURAS, LEGUMES, CEREAIS E GRÃOS COLORIDOS.
AGORA, NÃO CONSEGUE BEBER MAIS DO QUE 2 GOLES DE REFRIGERANTE E NÃO SENTE MAIS TANTA VONTADE DE DOCES COMO ANTES.
TODO SEU CORPO ESTÁ MUDANDO NAS ÚLTIMAS SEMANAS, E ELA É TODA DISPOSIÇÃO.
HÁ O BOM HUMOR E O SONO, UM POUQUINHO MAIS TRANQUILO, QUE ELA NÃO ENCONTRAVA ANTES.
HÁ MUITO MAIS ÁGUA E SUCOS E CHÁS DE ARCO ÍRIS.
O SOL VEM ENCHER SEU DIA DE SABOR AMARELO.
E O CÉU ANDA TÃO AZUL QUE CHEGA A DOER SUA ALMA.
ENTÃO ELA RESOLVE DANÇAR. E DANÇA.
ACARICIA O CHÃO E SE APÓIA NO AR.
UM PÉ. UMA PONTA. MEIA PONTA.
EMPURRA, LANÇA. SENTE, ALINHA. ALONGA, ABRE.
TOPO DA CABEÇA PUXADO POR UM FIO.
UM GIRO, UMA PIRUETA.
EMPURRA O AR QUE EMPURRA SEU CORPO DE VOLTA.
E O AR É TODO ROSA E ROXO. O AR DANÇA COM ELA. TODO AO SEU REDOR.
A RUA DANÇA COM ELA. E ELA NEM ANDA MAIS.
AGORA LEVITA.
SEUS SAPATOS DE SALTO ALTO VIRARAM SAPATILHAS. AS RUAS TEM SABOR DE JAZZ.
FAZ DAS CASAS E DAS ÁRVORES SUA PLATÉIA PARTICULAR.
E DANÇA MAIS. LANÇA-SE NO AR, AO SOM DO JAZZ TOCADO PELO VENTO.
EM SEUS OUVIDOS, UM PIANO CANTA LIVREMENTE.
ATUA. ATUA DE QUALQUER FORMA, EM TODOS OS LUGARES.
ATUA ASSIM QUE TEM A OPORTUNIDADE DE ATUAR.
DESAPARECE. FAZ MÁGICA.
NÃO É MAIS ELA, É OUTRA. INVENTADA. REINVENTADA.
MUITAS OUTRAS SÃO ELA. PERDE-SE DENTRO DELAS.
ENCONTRA-SE. ALINHA-SE. ATUA MAIS. DANÇA MAIS.
TEM A ALMA LEVE E CONFORTÁVEL.
FINALMENTE CABE DENTRO DE SI.
AMA INCONDICIONALMENTE TUDO. TOLERA MAIS.
RECEBE INFORMAÇÕES E AVISOS IMPORTANTES QUE LHE CAEM DO CÉU COMO BILHETES AMARRADOS EM FLOCOS DE NEVE.
ANALISA TUDO, OUVE TUDO, AVALIA TUDO, ENTENDE O TODO. SABE LEVAR.
FALA MENOS, MAS SENTE MAIS. PORQUE AGORA ELA SABE MAIS.
ABRAÇA DE VERDADE, POIS APRENDEU A SER SINCERA.
ADIVINHA E OUVE PENSAMENTOS ESCONDIDOS.
SORRI QUANDO NÃO ESPERAM QUE ELA O FAÇA.
TOCA, ACOLHE, ACARICIA.
CONCENTRA-SE.
ESTÁ VIVA. ENTÃO VIVE.
*

Canto dos olhos

Um maço sempre preparado.
A chama apontando para o outro lado.
Tudo aqui dentro. Contido.
Sigo me perdendo nas pessoas.
Olho demais para fora.
Olho demais para dentro.
Não há meio termo.

Cansaço.
Esqueci da vida no canto dos olhos de alguém.
Se não estamos mais tão perto deve ser porque esse caminho é natural.
Sensação de que nada é realizável.
Muitos dedos de solidão, pura, sem gelo.

Muitas palavras.
Vozes em decibéis excessivos.
É tão longe. É tudo tão longe.

Dorme, acorda, come, trabalha.

Ninguém por perto. Ninguém quer estar perto.

A vida deve ser só isso.

Diálogo virtual 2 - fragmento

Em 14 de abril de 2009, às 15:40h...

"Sim, pela rua, sem rumo. Apenas vagar. Não chegar.
Não ter que dar satisfações. Não quero mais ter a necessidade de comer, menos ainda sentir fome.
Não quero suar, nem precisar de banho, nem me sujar.
Não quero sentir falta das coisas do mundo. Não quero precisar de mais nada.
É isso."

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Diálogo virtual

Em 20/03/2009, às 12:15h:

"Eu vou. Preciso acertar um tiro na testa da saudade. Chegarei às 21h.

Também não posso beber, mas há decepções e pecados demais para não falar ao pé do ouvido de um copo cheio de Jack.

Aguardo vocês para muitas piruetas pela "praça do franklin".

Baccio."

Jujubas

ELA GOSTAVA DE MÚSICAS INACABADAS E DE DIZERES SEM SENTIDO.
GOSTAVA DE FALAR EU TE AMO, MAS NÃO LIGAVA PARA A FORÇA DAS PALAVRAS.
SEMPRE ESCOLHIA UM LIVRO PELA DEDICATÓRIA.
E SEGURAVA NAS MÃOS DE VELHOS DESCONHECIDOS EM PARADAS DE ÔNIBUS.
APENAS TOMAVA ÁGUA LAMBENDO AS GOTAS QUE SE ACUMULAVAM NAS PAREDES DO BOX DO BANHEIRO.
ANOTAVA TODOS OS TELEFONES QUE LHE INTERESSAVAM NA DOBRA DE SEU COTOVELO.
SÓ DORMIA SE ESTIVESSE USANDO PULSEIRAS CARAS.
CONVERSAVA COM CADA UMA DAS ESTRELAS QUE VIA.
SERVIA A MESA PARA DOIS, MAS SEMPRE COMIA SOZINHA. O JANTAR? JUJUBAS.

Inacabada

Deixei a memória e os sentimentos por aí. Bem por aí ó.
Ali do lado direito, tá vendo?
O problema é que tá tudo meio fora de alcance e eu estou com medo das pessoas pisarem.
Daí vai bagunçar mais ainda. Pode até machucar alguém.
E vai ficar ainda mais difícil de recolher tudo de volta.
O mundo anda hostil e eu tenho um problema com a humanidade.
Não sei o que fazer com as minhas mãos. Nunca sei.
Cultivo um olho que chora, sem consentimento, enquanto o outro olho só mente.
Tenho a alma cansada de brincadeiras.
Não sei mais como lidar com toda essa demanda.
Vou devolver cada um dos presentes.
Não, não, esse é novo. Talvez ele até aceite tomar uma taça de vinho.
Talvez não se incomode com a fumaça do cigarro, talvez goste tanto de blues quanto eu.
Talvez ele aceite meus segredinhos, talvez ele queira contar os dele.
Quem sabe ele até aprecie as coincidências.
Tenho o corpo todo mastigado pela arte e me parece que ele também andou levando umas boas mordidas.
Há um inverno intenso lá fora, mas ainda não tive a chance de...

Porque, em 2009, eu inexplicavelmente adoro:

- Biscoito de Polvilho salgado mole, que parece um pão de queijo comprido...
- Pessoas que comem com gosto. Nunca fui fã das pessoas que comem pouco ou sem vontade. Em minha opinião, as melhores pessoas, comem muito e saboreiam e emitem sons quando o fazem!
- Cheiro de gasolina e cheiro de café novo
- Clima de dia de casamento, que geralmente é quente e me tira do sério porque faz derreter minha maquiagem
- Beber café em canecas enormes e conversar com minha mãe pela manhã, durante o café, antes de sair de casa para o trabalho
- Pegar meus cachorros no colo
- Dormir pelada
- Dançar sozinha
- Dançar pelada e sozinha
- Filmes de terror e Histórias de Disco Voador
- Andar de trem
- Descobrir uma forma de arte em cada canto escondido dessa cidade
- O TEATRO, O PALCO E A PLATÉIA
- Receber cócegas em todos os lugares do corpo
- Escrever páginas e páginas nervosas e desenfreadas, sem pontuação, sem regras, quando estou bêbada
- O frio
- Imaginar que um artista plástico ou pintor quebra a barreira das telas e vem desenhar/pintar no meu corpo, na minha pele
- Andar sozinha por aí, meio sem rumo
- Sopa de feijão com queijo ralado e pão francês
- Tomar chuva, enquanto todos correm
- Andar pelas ruas de madrugada
- Brincar de cantar
- Ler todos os livros que me indicam
- Pessoas que se comunicam com os olhos
- Bolas vermelhas e Bolas de sabão
- Ganhar dinheiro e presentear pessoas
- Flertar
- Novos perfumes e Luvas vermelhas
- Trufas de maracujá
- Ter muitos amigos bagunçando minha casa
- Acordar de madrugada e olhar a lua dançando pela janela do meu quarto
- Os homens errados
- Revelar alguns segredos
- Me envolver, em segredo
- Conhecer pessoas novas
- Desaparecer por algum tempo
- Sentir a evolução das coisas
- Beber vinho e uísque
- Ouvir as vozes de pessoas muito queridas, quando falam, quando cantam, quando lêem
- Ser dançarina às terças e quintas
- Ter surtos e só comer coisas saudáveis
- Enjoar do mundo e me entupir de besteiras
- Buscar a cura para minha decepção com a humanidade
- Me imaginar vivendo no interior da França, escrevendo um romance, enquanto tenho um caso tórrido com um misterioso artista local
- Percorrer todas as manhãs a 9 de Julho de ônibus, porque é uma das avenidas mais bonitas dessa cidadezinha
- Pensar que São Paulo é uma cidadezinha e que as pessoas conhecidas se esbarram em qualquer esquina
- Fantasiar que estou fazendo s*e*x*o com aquele meu amigo
- Sentir desejo pelas pessoas
- Pensar que o novo conhecido pode vir a ser "o cara"
- Descobrir, criar, pensar, imaginar, ver como a vida pode ser mil vezes mais interessante.

Sobre o que realmente importa.

EU QUERO VIVER DE ARTE.
POSSUIR UM CENTRO CULTURAL.
ORGANIZAR INÚMEROS SARAUS.
VIVER SÓ DISSO. SEM PREOCUPAÇÕES.
COM MUITO DINHEIRO. O SUFICIENTE PARA DAR CONTA DE FAZER SÓ ISSO DA VIDA.
E QUANDO EU BEM QUISER E ONDE EU BEM QUISER SIMPLESMENTE ATUAR.
ATUAR, ATUAR, ATUAR.
SER LIVRE PARA ESCOLHER.
SER LIVRE PARA REALIZAR.
SER PLENA.
ME CUIDAR.
RELACIONAR-ME APENAS COM PESSOAS PURAMENTE ARTÍSTICAS.
E NÃO ESTOU FALANDO DE GLOBAIS, MUITO MENOS DESSA NOVA GERAÇÃO DO TEATRO QUE ACHA O MÁXIMO FAZER POSE EM BALADAS OU FAZER POSE PELA PRAÇA.
ESTOU FALANDO DAQUELES QUE VERDADEIRAMENTE POSSUEM TALENTO E PAIXÃO.
QUE PASSAM FOME POR AMOR A ESSE MUNDO.
QUE NÃO SABERIAM FAZER OUTRA COISA.
E NÃO ESTÃO ALI PELOS SEUS ROSTOS OU SEUS CORPOS.
ESTÃO ALI PELA AFINIDADE, PELA MENTE, POR GOSTO, PELA EVOLUÇÃO, POR PAIXÃO, POR CONSCIÊNCIA, PELO ESPÍRITO. PORQUE SABEM O REAL SENTIDO E FORÇA DE ESTAR NO PALCO.
PURAMENTE ARTÍSTICOS.
RESPIRAM, SOFREM, SENTEM, VIBRAM, ESCREVEM, PINTAM, DESENHAM, COMPÕEM, ILUMINAM, CRIAM, MONTAM, CANTAM, DANÇAM, COMPARTILHAM, TOCAM, EMOCIONAM, ENSINAM, BRINCAM, VIVEM A ARTE.
ENGAJADOS O SUFICIENTE PARA MUDAR E FORMAR OPINIÕES.
SÃO PLENOS. CARREGAM E TRANSMITEM PAZ.
PORQUE CADA FIBRA DO MEU SER SÓ CONSEGUE VIVER ASSIM.
DE ARTE.

sábado, 1 de agosto de 2009

***

Doente. Bem doente.

Ensaiando pra sumir, de uma vez por todas, da vida de quem me conhece.

Sumir assim não dói.

Ninguém sente falta.

***

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Instantâneas

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A vida é uma festa. E o teatro é o meu banquete.

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Crack your shell(f) open.

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Mulheres são artefatos cheiros de cores...

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Sobre "Letras em Cena"

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E segunda-feira foi dia de “Letras em Cena” no MASP. Foi a primeira vez que fui prestigiar esse evento. Sim, porque é um evento. Vou falar um pouco sobre as minhas impressões (mesmo não tendo propriedade para isso).
É um evento em que os atores, o autor e a direção deixam o texto ser protagonista.
O texto era do dramaturgo contemporâneo Sergio Mello, e foi adoravelmente lido pelo querido Nelson Peres e pela linda Lavínia Pannunzio. Os dois atores, apesar do pouco tempo de intimidade com o texto tão cheio de “nuances” (usando as palavras da própria Lavínia), nos conduziram com maestria através da história. Proporcionaram-nos um espetáculo de interpretação vocal e mostraram que mesmo quando estão apenas lendo conseguem manter uma presença F U D I D A. Eu poderia ser cega... e sei que as vozes dos dois atores me carregariam delicadamente pelas mãos, passando por cada uma das emoções das personagens.
Vimos no palco também um tímido Sergio Mello, que aparecia ali na posição criador-espectador, se deliciando com a leitura de sua obra e com a interpretação dos atores, tanto quanto a platéia. Se deliciando também com a reação da platéia às nuances e sensações de sua obra.
Sim, Sergio Mello, seu texto é delicioso. Mais do que isso, e sempre muito mais, os textos do Sergio Mello têm essa qualidade de manter nossos pensamentos e emoções presos ali, do começo ao fim. Esperamos ansiosos por um não sei o quê, uma revelação, um algo escondido nas entrelinhas, que pode surpreender a nós, platéia-voyer, assim como aos próprios atores. Falar de Sergio Mello é falar de tensão e leveza, brutalidade e delicadeza, é falar de um cara que escreve com muita sensatez e franqueza (qualidades esquecidas pelo ser humano atual), que sabe enxergar e sentir o mundo, sem se alienar. É tudo dele, está tudo ali. Depositado instintivamente e na medida certa, generosamente para o leitor/espectador.
O que eu pude ver, ouvir e sentir ontem foi um presente. Na realidade não há o que dizer, porque impressões são acontecimentos sensoriais muito particulares. Dá vontade de ficar quietinha e guardar essas impressões para sempre só para mim, e não perder nada-nada-nada.
Mas não sou egoísta o suficiente para deixar de dividir isso com o mundo. E se há algo que o mundo deve conhecer é a existência dessas três pessoas: Sergio, Nelson e Lavínia.
Recomendo que aqueles que lerem isso aqui não se satisfaçam com as minhas impressões. Não apenas com as minhas impressões, mas que vão atrás deles e tenham as suas próprias. Porque ali, bem ali, naquelas três pessoas, além de muita riqueza, há ainda muita coisa magnífica a ser descoberta e sentida, tanto por eles quanto por nós. Todos nós.
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sábado, 25 de julho de 2009

Auto... flagelo.

*

A impossibilidade é uma gorda que debocha e geme e, de vez em quando, me espanca quando tento caminhar.

Não sei se sei te dar o que você precisa.

Sei amar você. Mas todos me proibiram de fazer isso. Inclusive você.

Fujo e te encontro. Te procuro e você some.

Você me vê de forma muito inocente. Isso é intensamente perigoso.

E eu tenho essa mania autodestrutiva que ninguém...

*
*

UMA TRISTEZA COM AR INFINITO.
SÓ PODE SER CULPA DA CHUVA.
OU DO CINZA DA CIDADE.
MINHA CIDADE É UMA FAIXA CINZA NO MAPA.
UMA FAIXA CINZA.
PRECISO COMPRAR CIGARROS.
SAIR PRA COMPRAR CIGARROS. E NÃO VOLTAR.
QUERO DESCOBRIR UM CAMINHO NOVO.
UM CAMINHO QUE ME LEVE ATÉ MINHA VIDA.
QUE ME LEVE DE VOLTA PARA O PAÍS DO REI AZUL.
O REI AZUL TEM UMA ESCADA NO PEITO.
E O HOMEM-PEIXE ME DISSE QUE AQUELA ESCADA É TODA MINHA.
SÓ FALTA SUBIR.
SÓ FALTA CHEGAR.
ESSA CHUVA CINZA VAI DESTRUIR MEU PAÍS DE TINTAS.
VAI BORRAR TUDO.
TRISTEZA INFINITA.

*

Para aqueles que tiveram seus "Amores Rasgados"







Reapresentamos em 14, 15 de agosto as 21h e 16 de agosto as 20h.

Abandono

UM CASAL BRIGANDO NA CALÇADA DIREITA DO VIADUTO DO CHÁ NÃO PERCEBEU QUANDO AQUELE JOVEM DE OLHOS BRINCALHÕES E CABELOS CASTANHOS RETIROU OS SAPATOS SUJOS, DE FULIGEM E LAMA, E APOIOU OS COTOVELOS NO MURO DE PROTEÇÃO SÓ PARA VER QUANTOS CARROS PASSAVAM ALI EMBAIXO.
UM MENINO QUE EMPINAVA PIPA NA RUA DA CASA DE SUA AVÓ NO BIXIGA NÃO VIU O HOMEM DÍSTRAIDO QUE, ENCANTADO COM AS CORES DA TARDE DE OUTONO E COM O FRIO, QUASE FORA ATROPELADO POR UM CAMINHÃO DE FEIRA.
ENQUANTO A MULTIDÃO TORCIA E SE CONTORCIA PELA DEBUTANTE GRÁVIDA QUE AMEAÇAVA SE JOGAR DO ALTO DO EDIFÍCIO ITÁLIA DENTRO DE SEU LINDO VESTIDO AZUL, NINGUÉM PERCEBERA O RAPAZ QUE CONTENTE LEVAVA NA MÃO ESQUERDA UM CHAPÉU DE PALHA E NA DIREITA UMA VARA DE PESCAR.
NAQUELE EXATO SEGUNDO EM QUE MÉDICOS DE CORAÇÕES DE DIAMENTE DOAVAM SUAS VIDAS INTEIRAS TENTANDO SALVAR E CUIDAR DE CRIANÇAS AIDÉTICAS NA ÁFRICA, POPULAÇÕES INTEIRAS NÃO VIRAM O HOMEM QUE PARTIA SOZINHO E SEM REGRESSO DO PORTO DE SANTOS EM SEU PEQUENO BARCO DE MADEIRA.

ENQUANTO TODOS SEGUIAM SUAS VIDAS E RECLAMAVAM DO COTIDIANO, UMA CRIANÇA RUIVA E CEGA APONTAVA PARA O HOMEM PARTINDO, DE CHAPÉU DE PALHA NO BARCO DE MADEIRA, CANTANDO:
“E LÁ VAI DEUS, SEM SEQUER SABER DE NÓS...
SAIBAMOS POIS ESTAMOS SÓS.”

domingo, 12 de julho de 2009

*

A vida não funciona assim!!!!!

Odeio essa palhaçada de auto-ajuda.
Sempre odiei.
Odeio conselhos comuns de gente comum que acha que sabe de tudo.

E a próxima vez que um homem se aproximar de mim, eu juro que vou mandar ele tomar no meio do cu dele, mas bem tomado!

Não importa a idade, o ano de 1984 é um ano maldito. E tenho dito!

Vou namorar um homem de 74 anos de idade. Talvez assim valha a pena.

Vou tomar mais vinho.
Se ele não olha pra mim, vou tomar mais vinho.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

*

ELA RESOLVEU DAR UMA FESTA E DECIDIU CONVIDAR WOODY, PAUL, JOHN, RINGO E GEORGE.
ABRIU DUAS GARRAFAS DE VINHO E ESTALOU OS DEDOS.
ACENDEU UM CIGARRO E LEU SEU “PERGUNTE AO PÓ” ENQUANTO OS CONVIDADOS NÃO CHEGAVAM.
LEMBROU, NESSE INSTANTE, QUE TINHA ESQUECIDO DE CHAMAR O FANTE PARA A FESTA, E QUE PRECISAVA COMPRAR SNACKS.
WOODY CHEGOU TRAZENDO WHISKY E DUAS GAROTAS.
GARFIELD ANINHOU-SE EM SUA POLTRONA VERDE LIMÃO.
“SALLY CAN’T DANCE” DAVA PIRUETAS NA VITROLA QUANDO OS CONVIDADOS MOSTRARAM QUE TINHAM RÍTMO.
LUCY DESCEU DO SKY ASSIM QUE A BANDEJA DE DIAMANTES ILÍCITOS PASSEOU PELA SALA.
ALICE FAZIA TRUQUES ELABORADOS PELO MÁGICO DE OZ.
KEROUAK DISCOTECAVA ENQUANTO PAQUERAVA CLARK GABLE.
GINGER ROGERS PASSAVA RECEITAS DE GINGER APPLE.
BOB E LOU DISCUTIAM SOBRE FÍSICA QUÂNTICA.
DOROTY DANÇAVA HIP HOP COM SEUS ÁGEIS E BRILHANTES SAPATOS VERMELHOS.
BUKOWISKY SE BALANÇAVA EM SEU BALLET ETÍLICO.
ALI NA PEQUENA SALA FIGURINHAS VIVAS E MORTAS SE MISTURAVAM TRANSFORMANDO O PEQUENO APARTAMENTO NO PAÍS DAS MARAVILHAS.
E EM ALGUM LUGAR ALÉM DO HORIZONTE PESSOAS TACANHAS, DE CABEÇAS CÔNICAS E PEQUENAS, RECEBIAM SERMÕES DO PEQUENO PRÍNCIPE POR ACHAREM TUDO AQUILO TÃO BREGA OU IMORAL.
ACENDEU MAIS UM CIGARRO ENQUANTO PENELOPE TRANSAVA COM JAVIER E ALMODOVAR EM SEU QUARTO.
MAS ELA NÃO LIGAVA. POIS TINHA ENCONTRADO SEU POTE DE OURO.

*
*

Lou Reed incendeia meus ouvidos. E me faz lembrar que eu também tenho um “Rock and Roll Heart”...
Penso no dia que tenho pra enfrentar amanhã. Mas penso também na noite de hoje que vem só para expurgar meus pecados.
Ou vivê-los.
A cidade e a idade estão enrijecendo meus sentidos.
Então peço à noite que chegue logo, de mansinho, sussurando no meu ouvido, gelando minha espinha.
“Deep down inside I’ve got a rock and roll heart, looking for a good time”
Vou dançar do chão ao teto. Vou ser tudo que sei que sou e viver a delícia de ter vontades.
Satisfazer cada um de meus desejos, sem pedir consentimentos.
Comerei cigarros e lamberei licores.
Viver meus desejos e meus pecados como há muito tempo não faço.
Vou morder a boca do mundo.
E se você me encontrar por aí, te desejo sorte.


*

domingo, 28 de junho de 2009

*

SAUDADE DE ENROSCAR OS PÊLOS.

DE ME PERDER EM MEIO A CABELOS.

PELES QUE ROÇAM. CHEIROS QUE SE CONFUNDEM.

O MEU MOLHADO, O SEU QUENTE.

O SEU MOLHADO, O MEU QUENTE.

O SEU OLFATO BUSCANDO O MEU CHEIRO MAIS ÍNTIMO.

DENTRO DE MIM DE TODAS AS FORMAS.

ADIVINHANDO OS MEUS CAMINHOS CERTOS.

BOCAS, LÍNGUAS, PERNAS, MÃOS, BARRIGAS.

TODAS AS PARTES SE TOCANDO E SE RECONHECENDO.

O SEU CHEIRO IMPREGNANDO MINHA MEMÓRIA.

SEU CALOR VISITANDO MEU VENTRE.

SUA LÍNGUA PASSEIA E DESCOBRE TODOS OS MEUS VÃOS.

SEUS DEDOS DESVENDAM E EXPLORAM CADA PONTO FRACO.

CÍLIOS BATENDO. PÁLPEBRAS OCULTANDO PUPILAS DILATADAS.

NARIZES AFOITOS. VERTIGEM.

NÃO SAI. FICA AQUI DENTRO. ATÉ SE PERDER.

*

*

Gostava muito mais quando era só a gente conversando, rindo e bebendo, ou mesmo em silêncio, encostados no balcão.

Amar tanto assim, às vezes, cansa.

*

domingo, 21 de junho de 2009

Um blues de sonhos brancos

A dama acende um cigarro.
O fogo alaranjado brinca entre os dedos de sua pequena mão.
Assopra a fumaça bem longe e desenha no ar um caminho de sonhos brancos.
Canta um blues baixinho. Um sorriso triste amarrado nos lábios.

Sonha com luzes e palcos.
Caminha pelas ruas enquanto o inverno chega varrendo seus pés.

Sonha com grandes platéias e aplausos.
Sonha que é livre.
E que as pessoas acreditam em tudo que ela é.

Canta um blues baixinho. Um sorriso triste amarrado nos lábios.

Sonha com a nuca que nunca...
E o abraço.
Sem um ombro pra chorar.

Senta-se no palco.
Lembra-se porque veio ao mundo. Está em casa.
E todo o resto fica lá fora.
Suas palavras avermelhadas dançam no ar.
Canta um blues baixinho, lembra que ali aprendeu a dançar.
E faz a platéia chorar.

A dama acende um cigarro.
Assopra a fumaça pra bem longe.
Agradece e esquece.
Enquanto o inverno chega varrendo seus pés.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Assombração

Você é uma assombração.

Te vejo na madrugada escura que invade meu quarto todas as noites quanto tento olhar a lua.

É a assombração que não me deixa trabalhar durante o dia.
Que me provoca insônia e medo.
Medo de ficar sem você.
Medo de saber que devo ficar sem você.

Você é minha assombração mais delirante.
Meu medo mais delicioso.
Todos meus pensamentos são seus quando dou o primeiro gole no copo de uísque.
Você é a aflição entre o que faço da minha vida hoje e o que eu deveria fazer para o resto de meus dias.
Você é meu último dia de verão.

Meu medo mais delirante.
É o gosto do meu café pela manhã.
Você é a sombra de todos os homens que se aproximam de mim.
É a sombra que dança em meus pensamentos.
Minha assombração mais deliciosa.

Eu não faço nada

Homens felizes são menos interessantes.
É verdade.
Quando eu te conheci não havia tantas pessoas em volta.
Era só a gente. Conversando e bebendo.
Você me contando suas histórias e eu te lançando meus melhores sorrisos.
Os dois sozinhos. E desencanados do resto do mundo.
Bebíamos o mesmo líquido. Porque era tudo que nos restava. Era tudo que tínhamos.
Nos revelando aos poucos.
Desencanados do resto do mundo.
Eu caminhando sozinha pela madrugada.
Me arriscando.
Só pra te ver.
Ao seu lado, calada.
Com a cabeça apoiada, no seu ombro.
Tentando ouvir a música ambiente.
E rindo do nada.
Porque era tudo que nos restava.
Não conversamos mais.
Seus amigos tentam alguma coisa.
Me tentam o tempo todo.
Você prefere minhas amigas.
Eu continuo lançando meus melhores sorrisos em sua direção.
E tento dançar.
Bebo as mesmas bebidas de antes.
E escolho as lembranças.
Enquanto você ganhou o mundo.
Perdi um amigo.

sábado, 16 de maio de 2009

*

Você tem sido uma das minhas maiores provações.
Provocações.

Você veio ao mundo para silenciosamente me humilhar.
Jogar na minha cara todas as minhas incompetências.

Que só aprendi a contar depois de te conhecer.

Você me ensinou muitas outras coisas também.
Todas erradas.

Mas me ensinou que certo e errado não existem.

Me ensinou a perder o fôlego. A beber uísque. A judiar de meus pulmões. Cada vez mais.
Me ensinou a ter medo e coragem de quem eu sou.
E tentar dizer tudo só com os olhos.
E eu sempre tento.
Mas você não lê.
Não olha. Fracassei.

Você cospe a impossibilidade na minha cara.
E debocha de mim. Aos ouvidos de todos. Dos outros.

Mas nada disso tudo diminui o que eu carrego.
Mais por acaso do que por escolha.
Aqui dentro.
Embalo você.
Vivo sem parir um amor que não parte.

Guardo seu conforto no meu abraço.
Sua presença reside na sua ausência. Mais forte a cada passo mais distante.
Seu tom, sua pele, sua voz, seu calor, seu cheiro.
Aqui dentro.
Embalo você.

*

quinta-feira, 14 de maio de 2009

*


Por que eu não abandono o teatro?


É porque o teatro nunca me abandona.


*

quinta-feira, 23 de abril de 2009

*

Essa semana:

Um filme? O equilibrista.

Uma música? Qualquer uma na voz da Janis Joplin.

Uma descoberta? 3 talentos.

Uma delícia? Rolar pelo chão e cosquinhas não permitidas.

Uma perdição? O tapa na perna.

Uma salvação? A professora de dança, a noite regada por vinho, os amigos e "Felizes para sempre".

Um problema? Amar demais a mesma pessoa há tanto tempo.

*

quarta-feira, 22 de abril de 2009

*

A sinceridade é o carinho de uma navalha.

*
*

Frio. Sob o calor abafado de um dia com sol.
Suor em corpo gelado que treme, range e dói de febre.
A impossibilidade de comer agravando o efeito do álcool que penetra e se espalha no sangue.
Ausência de sensações que rompe o contato com os sabores, o cheiro, o calor, o frio, o tato e sabor.
Que rompe qualquer contato.
Ausência de si.

*

quarta-feira, 15 de abril de 2009

*

As unhas vermelhas are back.

Mais uma noite de bebidinhas, conversas, cigarros, camisolas nas coxas, insônia e falta de inspiração.

O que importa é que já é quarta.

E eu não faço a mínima idéia do que pode acontecer daqui a pouco.

Tomara que seja tão bom quanto os caras que andam descendo na minha estação de metrô pra tentar falar comigo. E que me olham e me devoram sem se aproximarem.

Me agrada ser devorada. Muito. Mesmo só com o olhar.

Vou me deitar e sonhar com você pelado na minha cama.

Me devorando de todas as formas que você quiser.

*

terça-feira, 14 de abril de 2009

*

Cansaço...

E algumas doses de uísque na cabeça numa segunda-feira nada fria que passou rápida demais.

Há mais de uma semana que não rolo pelo chão.

Há bem mais de uma semana que não vejo pessoas muito queridas.

Passei em frente ao seu bar de início de semana, mas você não estava lá.

É hora de ir pra cama mocinha, diz a mãe-consciência.

Meias 5/6 nos joelhos pra espantar o frio e camisola na coxa pra lembrar a infância.

Preciso de algo que cause comoção.

Beijo na bochecha é uma delícia, eu confesso.

Sono, vá embora.

Não posso. Tenho uma vida normal demais pra ignorar.

Abracinho, beijinho, bons amigos por perto.

*

sábado, 11 de abril de 2009

*

Decadente.

É assim que me sinto o tempo inteiro.
Não sei se gostaria que isso fosse diferente.
Não sei se pareço mais ou menos interessante.
Sei que é assim.

Tento me divertir o tempo todo, porque é o que me resta fazer.

Escrevo freneticamente no meu caderno.

Mas escolhi o silêncio. Aprendi a tratar mal algumas pessoas.

Tenho muita saudade e as pessoas gostam de me julgar.

Tenho muita saudade. É verdade.

Gosto muito.

Mas a vida continuou e eu não posso esperar pra sempre.

Mesmo quando o que eu quero é esperar.

Estou fugindo de mim mesma, daquilo que sinto.

Hoje é dia de hostel, de ir pra outro lado da cidade brincar de encantar gringos.

Quem sabe a gente se esbarra por aí.

Ou não.

Uma coisa é certa. Terá muito uísque, muitos cigarros, música ruim e um pouco de inglês.

*

domingo, 22 de março de 2009

*

O outono chegou.

Sei que não posso exigir muito da vida, mas é que estou sozinha há tempo demais.

Estou enjoada. E não sou linda e comunicativa como muitas meninas que ganham isso de presente quando nascem.

Não tenho talentos. Nem dinheiro. Nem charme.

Há muito tempo que não sei o que é carinho.

E sei que realmente não posso contar com ninguém.

Não sou admirada, nem olhada, nem articulada e menos ainda ouvida.

Porque, não sei bem desde quando, o timbre da minha voz irrita as pessoas.

Deus, sei que seu senso de humor é enorme, infinito, até abusivo algumas vezes.

Mas Você não está cansado de me sacanear, não?

*

quarta-feira, 18 de março de 2009

*

Sinto saudades do outono de cachecóis coloridos e céu azul-amarelo brincando de 7ºC.

*
*

Aos curiosos, finalmente.


Nunca escrevi aqui com a pretensão de escrever um livro, ou poemas ou qualquer coisa bonita.
Nunca escrevi aqui pensando em atingir alguém.
Não montei esse espaço com intenções exibicionistas.
Não escrevo para emitir minhas opiniões ou uma opinião que seja sobre as coisas do mundo.
Não tenho essa pretensão de impressionar, ou enganar, ou mentir, inventar, mimetizar.
Não preciso disso.
Assim como não preciso dar tais satisfações.
Não tenho isso aqui por qualquer uma das razões que o mundo moderno leva as pessoas a montarem blogs (carência, atenção, fama literária(?), etc...).

Tenho sim a intenção, não me envergonho e assumo, apesar de muitos condenarem (mas eu não ligo at all, really don't care), de manter isso aqui como um diário.
Sim um diário. Aquela coisa de menininhas pré-pré-adolescentes.
Aquela coisa que quando eu não tenho pra onde correr, não tenho com quem falar, ou como falar, quando sei que ninguém no mundo teria paciência para minhas babaquices e crises existenciais, euforias adolescentes (nunca amadureci), paixonites agudas ou não, e todas as mazelas bem bem mulherzinha.
Sei que posso contar com esse espaço e escrever livremente, sem olhar para caras de reprovação ou de saco cheio, nesse fundo escuro todo meu.
Um espaço para ser livre, sem gastar folhas e folhas de papel, sem gastar tubos de tinta de caneta, sem me preocupar com o desmatamento, aquecimento global, pai, mãe, cachorro, julgamentos e preconceitos, o que meus amigos vão pensar de mim, sem considerar nada, eu venho aqui, olho o vazio e despejo o que há de pior e melhor em mim.
Digo tudo ao nada. Ao meu próprio eco.
Meu vômito sentimental. Minha própria regurgitofagia.
Meu diário todo meu com segredos todos meus.
Sei que um diário é um negócio íntimo, oculto, infantil.
Assim como um diário é deixado na primeira gaveta de uma cômoda sem chave, ou em cima da cama da menina antes dela sair para a escola...

Qual a graça de ter segredos se ninguém tenta descobrí-los?


*
*


Sou terrivelmente romântica.
'Isso tem me destruído', ela conclui.
Me fez deteriorar ao longo dos anos.
Uma sensação de já ter visto de tudo.
Já viu o suficiente.
'She's so young', ele pensa.
Não é bem assim.
Ela ouve beatles enquanto volta pra casa.
Enquanto um motorista alucinado faz planos de vida e sonha e conta.
Ela acena afirmativamente com a cabeça.
E dança. Todas as segundas e quintas. Com a professora do sul.
'Segundas e quintas', ela pensa. Programação incomum.
De conceitos quebrados. De semanas quebradas.
De movimentos incomuns.
Ela dança sua vida quebrada.
E acha isso tudo muito entediantemente interessante.
Ela olha os cabelos loiros, negros, ruivos, grisalhos e sonha em poder tocá-los.
Sonha com alguém que a desejasse.
Uma chuva que sussurra molha o céu on fire.
Permanece on line para qualquer terráqueo que tente fazer contato.
E pensa em cada uma das palavras desperdiçadas. Despedaçadas.
Ela ouve Sophisticated Lady e lembra-se de tudo que se tornou.
Do caminho até ali. Da ausência de chegada.
Um barulho de chaves na bolsa dando o tom.
Dó menor.


*
*
As unhas descascadas.
Sem acetona pra dar cabo desse aspecto... meio puta meio rock 'n roll...
Um par de olhos que tremem e ficam bem vermelhos sem consentimento da razão.
Um par de pernas que tem medo de se abrir e medo de cair.
A ausência e a overdose brincando na gangorra.
Um grito solto e louco percorrendo a masmorra sem portas ou janelas.
Aquela saudade que nunca morre.
Minha lucidez que dança e ri enquanto pula no ralo.
A mistura da intensidade da cidade com o vazio no peito da garota.
Da intensidade da garota com o vazio na mente da cidade.
Num corpo dessa idade.
Num copo dessa viagem.
A roupa nova encostada num carro bem sujo.
A inocência rasgada entre os dentes de um cão.
Um rosnado. Duas asas caídas.
Um egoísmo com o tamanho e força de um buraco negro que vai sugando tudo para dentro de si...
Até não restar mais nada além do próprio silêncio.

*

domingo, 15 de março de 2009

*

Minha cabeça pedindo silêncio e dizendo que eu deveria apenas ouvir um pouco de música.
O silêncio estava ali e foi rejeitado.
Bastou uma vírgula áspera, bem áspera, para eu entender que nada deveria ser dito.
Mas minha dura teimosia insistiu.
E eu ganhei muitos outros conflitos e caras feias.
Entupi meus ouvidos com mais músicas e minha cabeça quase caiu de meus ombros de tanta reflexão.
Parei de refletir e joguei um pouco de rímel e sombra sobre duas lágrimas que inundaram meu rosto.
Mais grosseria. Mais confusões. Mais grosserias...
Olhei no espelho a maquiagem intacta e me entupi de cigarros. Presentinho da noite anterior. De despedida talvez.
As pessoas tem se despedido de mim.
Da pior maneira.
E eu sei que sou eu mesma a culpada de tudo isso.
E que tudo que posso fazer é castigar meus pulmões.
Mas o que essas pessoas não sabem é o quanto eu necessito delas.
Mesmo que seja só do silêncio ou do abraço.
Qualquer olhar me basta.
E ali no meio de tudo, quando eu estava prestes a perder minha lucidez, alguém confessa que também está cansado de tanta afetação, de tanta babaquice.
Vou traçar um plano e frequentar mais a vila madalena.
Beber mais quieta no meu canto. Ler uns livros na Mercearia São Pedro.
Não fazer mais amizades. Não com gente babaca.
Vou fazer um voto de silêncio.
Deixar de ser babaca também.
Porque eu não estou isenta.
Ninguém está.

*

domingo, 1 de março de 2009

*

Abandono

Cada coisa

Aos poucos

Pra que ninguém sinta

Para que eu não sinta

Que fui esquecida

Nesse canto do mundo

Nessa posição

Fetal

Vou voltar

Para dentro

de mim.

Porque eu não existo

nesse calor

Eu não resisto.

Vou soltar os cachorros

Vou ligar o chuveiro

E o gás

Vou me deitar nua

Debaixo do ventilador.

Porque nesse calor

Eu não existo

Não resisto

Sem você.

*

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

*

Estrangeiro,

O nosso silêncio conversa.

Gosto daquele jeito que seus olhos tem de olhar tudo e todos.

Bem quieto. Magro. Com seus cigarros e suas garrafas. Sempre generoso.

Verdadeiro.

Me pedindo pra tirar os pés da cadeira porque vai sentar. Decidido.

Arriscando sem conhecer. Jogando com a solidão.

Sem sentir medo disso.

Gosto da cor do seu cabelo. A cor que você desmente.

Gosto de te descobrir aos poucos.

Das nossas confusões.

Gosto da forma que você vai embora sem cerimônias.

Sem beijo de despedida.

*
*

A noite até surpreendeu.

Ai, cansei dessa vida...

Cansei de ter expectativas.

Cansei de ter qualquer tipo de sentimento.

Cansei de ter que adivinhar o que está na cabeça de algumas pessoas.

*

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

*

Tem um cara gordo na minha TV.
Enquanto meu corpo permanece em silêncio para tudo que a noite promete.
Para bons cigarros, o copo de whisky colado na mão e aqueles caras dizendo como minha amiga é linda.
E ela é.
Uma cidade vazia esperando estripulias. As minhas e as suas.
Vamos estar muito bem acompanhados essa noite.
Mas bem sozinhos também.
Enquanto isso a música vai fazer minha cabeça e arranhar sua garganta.
Porque hoje é um daqueles dias em que a cidade passa correndo por cima de nossas cabeças.
Mesmo quando tudo permanece em silêncio.

*

domingo, 15 de fevereiro de 2009

*

Deus, você não me surpreende mais.

Fui comprar mais cigarros.

F. Bello.

*

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

*

Felicidade?
Eu saquei qual era o papo da realidade bem antes de completar 15 anos.
Essas meninas que andam por aí fazendo cara de que sabem das coisas e
vestem atitude blasé, não imaginam a metade.

Estão é habituadas a serem lindas e ricas, sustentadas pelo papai.
E habituadas a parecerem o que parecem. Porque assim é tudo mais fácil.
Usando o que ganham como semiseresconhecidos neopobres para sustentar seus falsos vícios.
Fingindo que são tristes.

Fazendo suas poses em baladas bem badaladas.

Mas eu tô cansada demais.
Pra isso.
Pra explicar qualquer coisa pra qualquer um.
E daí ficam tirando conclusões erradas.
E eu concordo.
Por pura preguiça.
Por egoísmo.

E me deito em camas alheias.
E entrego meu silêncio pra qualquer um.
E assisto a tudo com um copo e um cigarro nas mãos.
As pernas cruzadas e o meu pé pequeno apontando o que acontece.

Já não procuro com quem dividir o cinzeiro.
Descobri que o cara pra quem eu ofereci o cigarro não fuma.

*
*

Dança experimental é bonita e faz bem.

*

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

*

Aulas de dança experimental.
Pra conhecer algo diferente.

Preciso sair sozinha mais vezes.
Esqueço como me acompanho muito bem.

Ir aos lugares.
Sentar mais nas calçadas.
Fumar mais cigarros.
Beber mais Bourbon, que é bom.
Fazer menos rimas baratas...

Chegar fumando. Sujar o vestido.
Conversar com o copo.
Ouvir mais e melhor quando tentam se comunicar comigo.

Ser menos ansiosa.
Beber mais café.
Me desapaixonar.
Definitivamente.

*

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

*

Alguém aí pode me ajudar a viver?

Fudeu. Eu já estou envolvida.

É melhor eu desaparecer novamente. Por uns tempos.

*

domingo, 8 de fevereiro de 2009

*

Recentemente tive a oportunidade de conhecer o escritor, dramaturgo e ator Márcio Américo.

http://meninosdekichute.zip.net/

Foi numa dessas noites nem tão solitárias assim pelo centro.

Cheguei à conclusão de que sair sozinha tem sido uma das minhas melhores decisões. Eu, as bebidinhas e o 'acaso' (palavra que agrada Márcio Américo).

Pois então, é dele que eu estava falando... o cara é simplesmente fantástico.
Ele também é amigo de um outro cara brilhante que eu considero e admiro 'pá caraleo', o escritor, ator, dramaturgo, cantor e bebum Mario Bortolotto.

E eu, graças ao 'acaso', tive a feliz oportunidade de beber e rir na cia dessas figuras fantásticas e brilhantes. Simples assim. Caminhar pelas ruas, sentar na calçada, falar merda, tomar chuva, dividir o copo, o cinzeiro e as risadas, e principalmente o silêncio, com caras assim.

Agora é palpável o sentido da palavra privilégio.

Meninos, eu só queria agradecer isso tudo e pedir permissão para dividir o copo e as risadas muitas vezes mais.

Beijo no ombro de vocês, eternos garotos.

P.S: Nelsinho, você também mora no meu coração.

*
*

Entre 2:00h e 3:00h da manhã, numa festa estranha com gente esquisita (algumas raridades de novelas conhecidas):

Ela: Eu durmo pelada.
Ele: Nunca mais diga isso.

*
*

Mais um clichê musical.
Mas tá valendo no momento.

"And so it's
Just like you said it would be
Life goes easy on me
Most of the time
And so it's
The shorter story
No love, no glory
No hero in her sky


I can't take my eyes of you
I can't take my eyes of you
I can't take my eyes of you
I can't take my eyes of you
I can't take my eyes of you
I can't take my eyes...

And so it's
Just like you said it should be
We'll both forget the breeze
Most of the time
And so it's
The colder water
The blower's daughter
The pupil in denial

I can't take my eyes of you
I can't take my eyes of you
I can't take my eyes of you
I can't take my eyes of you
I can't take my eyes of you
I can't take my eyes...

Did I say that I loathe you?
Did I say that I want to
Leave it all behind?

I can't take my mind of you
I can't take my mind of you
I can't take my mind of you
I can't take my mind of you
I can't take my mind of you
I can't take my mind...
My mind...my mind...
Until I find somebody new"

*

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

*

Ele diz: O chão vai engolir a gente...
Ela diz: ... eu te amo.

*

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

*

É aquela água quente que dança nas minhas costas durante o banho.

É o silêncio de tudo que a noite cala.

É a queimação do Bourbon na garganta.

Um par de olhos turvos. Um tropeço e um apoio.

O cheiro. E a ausência dele.

As 3 horas de trânsito.

A vontade de triturar as teclas do piano com as mãos e os dedos.

De aprender a tocar violão.

De falar merda só pra ouvir a risada.

De usar umas giletes e cair num rio.

*

sábado, 24 de janeiro de 2009

*

As palavras saem da minha boca como hologramas e explodem na sua cara.
Você é uma espécie em extinção.
É um animal selvagem ferido.
Você vive numa armadilha.

Eu danço para uma platéia que não existe.
Pinto minhas unhas de vermelho para um cego ver.
Sou um animal selvagem domesticado.
Uma espécie em extinção.
Vivo numa armadilha plantada pelas escolhas que eu mesma fiz.

Eu nunca senti ódio.
Você odeia o tempo inteiro.

Ele tem aparecido por aqui.
Tenho andado atrás dele por ali.
Muitas vezes eu prefiro sentir solidão no shopping.
Enquanto você briga com mesas de sinuca.

E eu nunca odiei ninguém.
Sou uma espécie em extinção.
Você não me agrada em nada.
Mas é insubstituível.

Os anos passam por nós.
Ele desperdiça a minha melhor idade.
Eu nunca conheci a melhor época da vida dele.
Mulheres sentam-se em seu colo.
Deitam-se em sua cama.

Eu sou fiel à sua ausência.
Ao seu caos.
Somos duas espécies em extinção.
Somos uma espécie só.
Em extinção.

Somos animais selvagens.
Somos diamantes brutos.
Somos dinamite.
Sem exploradores de cavernas.
Somos a incomodação dos olhares de estranhos.

Nós somos feitos do mesmo material.
Eu sou a mudança na sua vida e você é a paz na minha.
As palavras saem da minha boca como hologramas e explodem na sua cara.
Enquanto você ignora e toma mais um trago.

*

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

*

Uma vontade.
Uma única vontade.
De escrever pra sempre.
Convulsivamente, compulsivamente.
Até os dedos sangrarem. Pra sempre.
Escrever até esgotar palavras em todos os idiomas.

Escrever até não ter mais sobre o que escrever. Sobre nada, sobre tudo.
Escrever, escrever, escrever.
Até desmaiar.
Frenética.
Verborrágica.
Hemorrágica.

Escrever com as minhas letras.
Escrever nas minhas palavras.
Escrever no chão, nas paredes.
Escrever na água do mar.
No ar.
Escrever na pele das pessoas.
Na tua pele. Na minha.

Escrever exageradamente. Passionalmente.
Esgotar papéis.
Perder a capacidade de compilar dados.
Deixar as palavras espalhadas por aí.
Nos olhos dos outros, nas sensações alheias.
Deixar, desperdiçar palavras.
Caminhar e escrever no ar.
Reescrever o ar.
Reinventar.
Exorcizar.
Escrever...
Escrever...
Escrever...
Viver...
.
.
.
Morrer.


*

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

*

"You are my sweetest downfall... I loved you first. I loved you first"

E a bíblia não contava nossa história.
Nem falava nada além sobre nós.

Eu tô perdida.
Meus sonhos estão perdidos.
Uma respiração a cada minuto.
Um pé atrás do outro.
Você está marcado em mim sem nunca estar.
Na minha pele.
Sua voz brilha no meu escuro.

Eu confio. Eu confio.

E muitas vezes você parece ser tudo que me resta.
Mas não é.

Eu vou desenhar um infinito na minha pele e te colocar dentro dele.

*

domingo, 11 de janeiro de 2009

*

Ao reler este trecho eu relembrei o quanto sou Nelson R.

''Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico.''
Nelson Rodrigues.

E é assim pra mim. Sempre assim. Como sempre foi.

Sou e sempre fui um anjo pornográfico.

*

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

2009

*

Hoje, já comi.
Já chorei, já ri.
Já joguei banco imobiliário, joguei pebolim.
Brinquei com bolinhas de sabão, como quando era criança.
Fiquei bem séria e chorei de novo, como quando era velha.
Joguei e brinquei com o destino e com a vida.
Usei vestido azul e sandálias douradas.
Comi de novo, e de novo, e de novo, de novo, de novo, de novo...
Até rolar parede acima.
Até rolar pra qualquer lugar.
Mandei mensagens de ano novo para os amigos.
Mandei mensagens pra quem não devia.
Comi mais um pouco.
Dormi no chão da sala.
Sentei de perna aberta e brinquei com a imaginação de certos meninos.
Sentei com as pernas bem fechadas com a pretensão de nunca mais abrí-las.
Mas abri.
Dei risada por bobeira.
Fiquei bêbada. Pra rir mais um pouco.
Comi mais uma vez. Comi de raiva pra me agredir por estar tão gorda.
Comi só pra me agredir, por tantas outras razões.
Passei mal.
E ri de desespero ou arrependimento.
Então eu resolvi só olhar a chuva pela janela.
Porque o sol, que tinha prometido queimar minhas pernas, resolveu me abandonar.
Como tantas outras pessoas. Como tantas outras vezes.
Suei de calor e me conformei. Mais uma vez.
Resolvi parar de lutar e gritar com a solidão.
Parar de descontar na comida.
Parar de sangrar por dentro.
E abraçar o novo ano.
Abraçar o barulho dos fogos, o silêncio dos abraços.
Então eu sorri pra solidão, pra bebida, pra lágrima que a madrugada escondeu.
Eu sorri pra tudo de novo que 2009 vai me trazer.
E que vai ser igual a tudo que já foi.

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