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E segunda-feira foi dia de “Letras em Cena” no MASP. Foi a primeira vez que fui prestigiar esse evento. Sim, porque é um evento. Vou falar um pouco sobre as minhas impressões (mesmo não tendo propriedade para isso).
É um evento em que os atores, o autor e a direção deixam o texto ser protagonista.
O texto era do dramaturgo contemporâneo Sergio Mello, e foi adoravelmente lido pelo querido Nelson Peres e pela linda Lavínia Pannunzio. Os dois atores, apesar do pouco tempo de intimidade com o texto tão cheio de “nuances” (usando as palavras da própria Lavínia), nos conduziram com maestria através da história. Proporcionaram-nos um espetáculo de interpretação vocal e mostraram que mesmo quando estão apenas lendo conseguem manter uma presença F U D I D A. Eu poderia ser cega... e sei que as vozes dos dois atores me carregariam delicadamente pelas mãos, passando por cada uma das emoções das personagens.
Vimos no palco também um tímido Sergio Mello, que aparecia ali na posição criador-espectador, se deliciando com a leitura de sua obra e com a interpretação dos atores, tanto quanto a platéia. Se deliciando também com a reação da platéia às nuances e sensações de sua obra.
Sim, Sergio Mello, seu texto é delicioso. Mais do que isso, e sempre muito mais, os textos do Sergio Mello têm essa qualidade de manter nossos pensamentos e emoções presos ali, do começo ao fim. Esperamos ansiosos por um não sei o quê, uma revelação, um algo escondido nas entrelinhas, que pode surpreender a nós, platéia-voyer, assim como aos próprios atores. Falar de Sergio Mello é falar de tensão e leveza, brutalidade e delicadeza, é falar de um cara que escreve com muita sensatez e franqueza (qualidades esquecidas pelo ser humano atual), que sabe enxergar e sentir o mundo, sem se alienar. É tudo dele, está tudo ali. Depositado instintivamente e na medida certa, generosamente para o leitor/espectador.
O que eu pude ver, ouvir e sentir ontem foi um presente. Na realidade não há o que dizer, porque impressões são acontecimentos sensoriais muito particulares. Dá vontade de ficar quietinha e guardar essas impressões para sempre só para mim, e não perder nada-nada-nada.
Mas não sou egoísta o suficiente para deixar de dividir isso com o mundo. E se há algo que o mundo deve conhecer é a existência dessas três pessoas: Sergio, Nelson e Lavínia.
Recomendo que aqueles que lerem isso aqui não se satisfaçam com as minhas impressões. Não apenas com as minhas impressões, mas que vão atrás deles e tenham as suas próprias. Porque ali, bem ali, naquelas três pessoas, além de muita riqueza, há ainda muita coisa magnífica a ser descoberta e sentida, tanto por eles quanto por nós. Todos nós.
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