sábado, 25 de setembro de 2010

Eu acredito
em anjos e fadas. E em bolhas de sabão e abelhas.
Acredito em céus cor de violeta, em ovnis, em pessoas que ajudam sem esperar nada em troca. Acredito nas crianças, com suas mentiras cheias de chocolate. Acredito no invisível, no visível, na mais alta velocidade, na mais alta estima, acredito na lua e no homem pisando nela. Acredito nos sonhos, acredito na vida e acredito que a combinação de ambos pode dar certo. Acredito no som, que é invisível e usa o ar e toda aquela transparência e clareza para se propagar, se alongar, me tocar. Acredito na delicadeza e na educação. Acredito nas constelações. Acredito nos livros, nos contos, nas canções, nos corações. Acredito no amor. Acredito em avião, em Buenos Aires, no tango. Acredito no sol e na comida colocada em meu prato, todos os dias. Acredito na franqueza. Acredito na ironia, no sarcasmo, nas segundas intenções e até nas boas intenções. Acredito em você.
E acredito no dia que, depois de atravessar todas aquelas milhas de distância, milhas de orgulho e milhas de machismo, você vai aparecer na minha porta, mesmo que seja só pra dormir sozinho na minha sala.
Porque quando eu comecei a acreditar que seria possível só numa próxima vida você apareceu ainda nessa e me disse que também acreditava.

Fábula

Todos os dias ela segurava uma lágrima no canto esquerdo do olho direito.
Aquele pedacinho de diamante que ninguém via. Ou ignorava,
porque era mais conveniente não se importar.
Não pedia ajuda a ninguém, porque tinha aprendido que cada um deve cuidar de seu cada qual.
No dia em que a lágrima rolou face, queixo, pescoço, colo abaixo,
ela não acordou.
Então, realmente ninguém teve que se importar.
Anymore.
O tempo não perdoa.
Eu continuo buscando paz. Quero trabalhar em paz. Viver em paz.
Em silêncio, ou ouvindo música clássica.
Sem dar satisfações. Sem amolações fúteis de números e metas e valores que nunca chegam
ao meu bolso.
Tenho preguiça das pessoas e das coisas e dos sons que não são artísticos.
Tenho preguiça dessa minha dor no peito. Nas costas. Pontas de facas.
Uma vontade asfixiante de só acordar e vestir sapatilhas, pintar as ruas de preto e lilás, e ganhar a cidade dançando
em pontas de ballet.

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Todas as noites recrio um mundo inteiro só pra mim. Perfeito.
Mas peco por acreditar demais na minha criação.

Seria esse o mesmo erro cometido por D e u s ?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

*

Mas é que ela sabia desenhar estrelas tão lindas e agora não conseguia acertar qualquer traço reto que fosse.
Porque ela costumava chorar com qualquer cena ou história de almas gêmeas. Porém hoje estava bem confusa com contextos de triângulos amorosos.
Não concordava com doenças de fundo emocional, mas é que de uns tempos pra cá havia essa vertigem e uma asfixia que não a deixavam viver em paz.
Talvez por isso só conseguia pensar em remédios e bebidas e banheiras e gás. Mesmo sabendo que isso tudo não era motivo suficiente.

*

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ela estava toda empedrada por dentro. Mostrava um sorriso e uma pele branca, sem manchas, reluzente. Por dentro era um cinza só. Ninguém discutia a razão de seus cabelos negros estarem sempre emaranhados daquela forma. Só viam a jovialidade do sorriso entalhado naquele rosto de cera de 17 anos. Seus gestos desleixados e delicados. O corpo esguio sempre parcialmente a mostra. Um ombro, as coxas, uma cintura virginal, o colo alongado. Poderia ter sido bailarina, mas nem imaginava o que significava sonhar.
Nascida em berço pobre, desde os 11 anos fora forçada pela mãe a se prostituir. Do contrário, teria que conversar com a fome. Era a única realidade que conhecia. Gostava de molhar os pés no baixo cais, todo fim de tarde corria pra ver o mar e brincar, como a criança que ainda era. Dizia que o mar preparava um fôlego novo para cada noite malcriada. Não pensava no amanhã, pois desconfiava que não passaria de hoje.
ACHO QUE PRECISO CHORAR
ATÉ VOCÊ SAIR POR INTEIRO DA MINHA ALMA
O QUE VAI ADIANTAR
CORRER PRO BANHEIRO CHORAR
VOLTAR COM A CARA MAIS LAVADA
E PÁLIDA
SE SEMPRE TODOS PRESUMEM QUE TUDO
DEVE ESTAR BEM
QUE NÃO HÁ PROBLEMA
SE NÃO FOR FOME OU CÂNCER
QUE NÃO HÁ PROBLEMA
SE NÃO FOR TRÁGICO
QUE NÃO HÁ PROBLEMA
PORQUE NÃO PODE HAVER

EU PRECISO ME ISOLAR
NÃO QUERO SER RESPONSÁVEL
PELOS SENTIMENTOS DOS OUTROS
POR QUALQUER OUTRO
NUNCA MAIS