terça-feira, 30 de setembro de 2008

Restos meus

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Foi numa tarde como essa, de céu pintado à mão, óleo e carvão, que meu coração voltou a caber na palma de uma mão tão pequena quanto a minha.
E todos os clichês caíram mais significativos ainda sobre minha cabeça.
Um coração apertado por ter uma caçamba apertada pra tanta areia.
Por não ter olhares e gestos que pudessem dizer um algo mais.
Por não ter nada além do copo na mão.
Por não fazer parte e não ter uma história e não ser envolvida em qualquer coisa.

E mais uma vez sobraram de mim só os pedaços. Talvez nem mais esses.

Mesmo quando tudo está acontecendo e não tenho mais aqueles motivos tolos, ainda há uma peça quebrada aqui. Sem conserto.

Mas vou continuar gostanto e esperando, mesmo que em vão, mesmo que pela 1074992048 vez eu chegue a conclusão de que o único feito pra mim é meu cachorro Bob.

Os Três Mal-Amados - João Cabral de Melo Neto

"Joaquim:

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato.
O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço.
O amor comeu meus cartões de visita.
O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas.
O amor comeu metros e metros de gravatas.
O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus.
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

The changes have arrived

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Nesse momento, muito feliz!

Bem que me falaram que tudo mudaria à partir de setembro.

As grandes mudanças são sempre em setembro.

Obrigada a todos que sempre estiveram do meu lado.

Agora, as coisas começam a acontecer. E é progressivo. Eu sei. Eu sinto. Eu sei.

Muito feliz!

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quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Ainda sou a mesma mina que fala de amor

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Para quem não conhece, apresento CASCADURA e a melhor música do mundo por hoje. Bom de doer.

http://www.youtube.com/watch?v=pcmX6J6S6Xs

Mesmo eu estando do outro lado

"Pode ser que num reencontro já não seja mais isso
Nem há esse compromisso
Ainda assim quero te ver

Eu tenho andado distante de tudo e de todos
Meus dias vão correndo e você entrou em meu sonho
É quando o rádio me avisa onde é que eu estou
Com tudo que eu posso ouvir: Me and You
Mesmo eu estando aqui do outro lado."

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sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Dança da meia noite

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Não se deixe levar pelo encanto da leveza dos meus pés nessa valsa inocente.
A dança pode até parecer prazerosa, mas só eu sei da dor que sinto enquanto meu sangue se transforma em pó seco dentro das veias.
É que eu tô dançando com a solidão, meu bem.

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quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Do blog do meu amigo...

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Passeando pela blogosfera e visitando pensamentos amigos me deparei com o texto, que eu tomei a liberdade de "ctrl+c / ctrl+v", abaixo. É um texto do meu amigo Leonardo Ulian Dall Evedove, que é duro na queda e doce no abraço, percebe-se seu talento e inteligência só de olharmos para ele, recentemente postado em seu blog: http://leoeoespelho.blogspot.com/

Ah, Leo. Você sabe o quanto eu te admiro. Desde quando você era um menino perdido no interior...

Li, senti. Chorei. Fiz parte. Doeu em tudo que era verdade em mim.

Percebi que ando criando gatos também e até entendi minha recente paixão por eles.
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"Da origem dos gatos

Quem convive com gatos já deve ter percebido que eles sempre desaparecem por microssegundos, que seja, no dia. Há quem diga que surgiram das sombras. Por isso são furtivos, porque são da mesma substância delas. Por isso têm sete vidas, enxergam no escuro e andam sempre de soslaio, quase serpenteando, sem tocar no chão, até. A origem desses felinos seria mágica também, pois o que os tornou o que são foram as lágrimas não derramadas de uma princesa, enclausurada num monastério sombrio há muito tempo atrás. Tão só era ela, que sua solidão lhe consumia o viver e determinava sua maneira de ver as coisas. Em tudo havia cores tristes, tons opacos e o silêncio, que a enlouquecia. Todas as noites durante muito tempo, chorava copiosamente deitada em seu leito, que afundava com o peso das lágrimas, e ia tão fundo que flertava com a passagem para o mundo dos mortos. A dor maior era jamais ter sido tocada por ninguém, e sua companhia durante o dia era uma estátua do jardim, sempre tão constante ao lançar seus olhares. À noite, conforme a posição da lua, a sobra da estátua penetrava no quarto pela janela, e a princesa se apressava em tocar-lhe, com a mão e com a mente, tentando de alguma maneira se ligar a ela. Algumas vezes teve a impressão de vê-la se mexer, em seguida desiludindo-se ao ver que era impossível algo assim acontecer. E m todas as visitas noturnas, e foram muitas, a garota enclausurada pedia que a sombra não fosse embora, que não a deixasse noites inteiras só. E chorou muito nessas ocasiões, sem que as sombras mostrassem que a ouviam, e o tempo passou. Uma noite dessas, bem clara de luar, ela não se levantou da cama, não se mexeu. Não derramou uma lágrima sequer, nenhum som jamais saiu dela de novo. E quem ficou só, naquela noite, foram as sombras, que lhe queriam tocar. Então, duas pequenas porções de sombra separaram-se de seu todo, e caminharam para ela, avançando pela luz da lua, flutuando sobre ela, melindrosas. Desde então, esses pequenos pedaços de sombra vagam pelas ruas da cidade, escondem-se nos cantos das casas, porque são frutos da solidão e do abandono da sombra pela princesa. Permanecem-lhe fiéis até hoje, e por alguns momentos, quando a solidão lhes aperta o coração como uma toada muito triste e aguda, aproximam-se de nós e nos deixam acarinhá-los, para logo em seguida irem adiante assumir seu lugar no todo de onde vieram."
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Ladrão acha criança no banco traseiro e devolve carro

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http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI3189590-EI5030,00.html

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Um 38 contra o peito

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É. Há muitos sentimentos por aí, né...
E na ânsia de sentir qualquer um que me trouxesse um pouco mais de vida andei confundindo muitos deles.
Nós andamos misturando as coisas. Acho que você concordaria com isso se soubesse.
Meus sentimentos se misturaram aos seus em momentos em que nós precisávamos um do outro, mas de formas diferentes.
E, via de regra comum aos relacionamentos e pessoas intensas, acabamos nos afastando.
Você teve medo. Eu tive medo.
Você conheceu pessoas.
Eu conheci pessoas.
E tudo isso seria tranquilo se ainda hoje eu não acordasse pensando em você.

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terça-feira, 16 de setembro de 2008

Permissão

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Minha vida em relação à sua ficou tão difícil.
Você está sumindo de todos meus espaços aos pouquinhos...
E eu não consigo mais te alcançar. Eu sei que eu já não conseguia te alcançar antes mas é que tá cada vez mais difícil.
Sua presença, sua voz e sua foto me faltam. Até seu silêncio me falta.
E essa sua falta me dói tanto.
Dói tanto que perco o ar.
E qualquer música de propaganda parece ter sido feita pra minha dor, porque minha dor já não precisa mais de pretextos para ser.
E olha que dói. Muito.
Parece que tem um elefante sentado nas minhas costelas.
Sinto falta até daquele seu olhar de desprezo por pensar que eu me achava demais... mas era tudo fingimento, meu bem. Pra parecer mais interessante pra você.
Sempre pra você. Tudo pra você.
A maquiagem, as roupas, as bebidinhas, o ar bêbado e corajoso, meu tom irônico, calar por medo de revelar minha estupidez imatura diante de tudo que você é.
Quando o que eu mais queria era ouvir suas histórias adolescentes, ouvir você me mandando calar a boca, e tirar toda minha roupa pra você só pra você me olhar daquele jeito que eu adoro.
Daquele seu jeito.
Mas não é assim, não é mesmo?
Você não permite que seja.

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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sem adereços

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Socorro.
Eu tô precisando de um abraço seu.
Tô precisando saber que posso confiar que você não vai dar em cima da minha amiga só porque ela é mais bonita.
Você sabe que tô precisando de dinheiro e que por isso anda difícil esbarrar você por aí.
Tô precisando de algum sinal ou algum milagre que me diga que tudo vai dar certo ainda nessa vida...
Preciso ouvir da boca de qualquer um que é possível que alguém goste de mim só por eu ser quem sou. Que é possível alguém gostar de mim. Simples assim. Sem adereços ou muitas palavras.
Preciso ainda mais ouvir isso da sua boca.
Preciso ganhar na loteria para que eu não morra do coração ou tenha um aneurisma aos 23 anos.
Preciso que você saiba que eu gosto de você. Preciso que você saiba que é muito.
Preciso que você olhe pra mim do jeito que eu tô esperando desde outubro de 2006. Desde quando você não tinha consciência da minha existência.
Tô precisando de talento pra tudo isso.

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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Admiração literária

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E hoje, trechos da peça "Para Alguns a Noite é Azul", do Sr. Dramaturgo (e amigo meu) Mário Bortolotto, escrita em 1987...
É um de meus textos favoritos.

"Ele só anda a deriva
do outro lado da avenida
e não tem sangue nos olhos como muitos dizem por aí
De vez em quando masca chicletes
e decifra fórmulas matemáticas
assobia "A Marselhesa"
quando passa em seu andar "Groucho Marx"
e vê as garotas
encostadas em reluzentes conversíveis amarelos
ele tá pouco se lixando pra suas dentaduras
e pro que tá acontecendo no Oriente Médio
suas preocupações filosóficas tão mais pro bairro operário
onde cresceu
cheio de malandros de andar swingado e olhos de lince
também tem um maninho aleijado que adora chupar
sorvetes
e uma priminha que dança no corpo de baile
e se veste com plumas e penas de pavão
e distribui presentes de natal
para suas quinze amiguinhas do peito
Ele fica alto ao entardecer
e sobe o morro com uma garrafa de vinho
e declama poemas beats para Osíris
têm dias que eu olho pra ele e digo: "você é muito louco"
ele nada diz, ele nunca diz nada
ele tá acima das palavras
ele é um capitão pirata, é um inca sacana
é o poeta da gestualidade
ele fala uma língua que arranca relâmpagos do asfalto
e quando alguém dá pela falta dele
e pergunta onde é que ele se meteu
eu sei que ele tá "alone"
no cemitério de automóveis
só sacando o mundo
por detrás dos seus melancólicos óculos escuros."

É, ele tá acima das palavras.

Küssen für alles.

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Reclames Cotidianos

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Ando vendo um monte de coisas bonitas. Essas coisas andam se jogando aos meus olhos.
E ando tendo um número considerável de constatações.
Tudo em silêncio.
Ontem tive o privilégio de pegar o trem e assistir o sol se pôr ao som de Regina Spektor (minha amiga e trilha sonora cotidiana mais recente).
E percebi que aquilo tudo me bastava naquele momento.
Digo aquilo tudo pela riqueza emocional que me trouxe, porque na verdade não eram muitas coisas... Eram só: um trem, uma menina de all star e um mp4. Ah, e o sol, protagonista daquela beleza e calmaria toda.
Percebi como a beleza é fundamental na vida das pessoas. Como faz bem.
Em todas as formas.
Passei uma vida inteira me perguntando qual a utilidade das pessoas bonitas...
Elas distribuem alegria de graça. Iluminam qualquer ambiente em que entram, em que permanecem, em que passam. Fazem bem aos olhos e à alma dos outros e muitas vezes nem sabem disso. E isso é bom demais.
As pessoas ao se depararem com a beleza, seja de um quadro, de um rosto, de uma poesia, de um gesto, esquecem das pequenas coisas, das insastifações, dos problemas, etc...
Mesmo que por um segundo, tudo fica mais leve e dá aquela sensação de que o dia valeu a pena.
É um espécie estranha de compensação.
E a beleza está nas coisas mais simples.
Minha apreciação pelas coisas simples tem crescido, seja uma paradinha para um café, uma livraria de portas abertas, uma caminhada na av. Paulista, um abraço fora de hora, um prato de arroz e feijão bem feitinho, um oi virtual daquele cara, sentar no sol ao lado de meus cachorros e assistir o pêlo deles brilhando depois do banho, ter tempo de ler um livro, ir à padaria e encontrar um vizinho, sentir o cheiro da chuva...
Tá. Agora chega, porque isso tá parecendo comercial de seguro de vida.

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domingo, 7 de setembro de 2008

A pretty piece of...

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Conheci uma pessoa.
Uma hora depois de ontem.
É tão bom conhecer pessoas.
Surge essa impressão de novas portas. Oportunidades.
Novas vivências, aprendizado, histórias engraçadas ou tristes, histórias.
Mal conheci e já tive a chance de uma história nova.
Mesmo que pequena, mesmo que efêmera...
Nem quero pensar daqui em diante. Porque pode doer.
Porque pode não haver.
Mas gostei do que houve.
Gostei das pequenas provocações. Gostei da mania de tirar fotos.
Gostei do corpo dele e dos olhares. Gostei desse jeito barulhento de fazer gracinhas.
Gostei da agilidade do pensamento à safadeza no carro.
Gostei da forma como aparentemente advinhou meu signo. Mesmo após eu ter errado o dele duas vezes.
Gostei de conhecê-lo ficando bêbado, pouco e muito.
Mesmo quando o que eu queria era conhecê-lo sóbrio...
Gostei do jeito tão direto e tão raro.

Mas o que eu mais gostei mesmo foi da forma como ele me irritava e dos olhares que me dava.

Bastava. Naquele momento, ele me bastava.
E fazia tempo que não me divertia dessa maneira.

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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Afogamento

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Por favor, alguém me ajuda?

Preciso de alguém que possa me ajudar. É sério.

Eu (ainda) preciso de um emprego e acho que perdi meu coração em qualquer esquina.

Perdi mesmo. É sério. Não consigo mais escutar meu coração batendo.

Perdi o pulso. Minha pulsação e meus pulsos.

Não escuto e nem sinto.

Mas antes de qualquer coisa preciso de um bom emprego.

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