segunda-feira, 29 de junho de 2009

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ELA RESOLVEU DAR UMA FESTA E DECIDIU CONVIDAR WOODY, PAUL, JOHN, RINGO E GEORGE.
ABRIU DUAS GARRAFAS DE VINHO E ESTALOU OS DEDOS.
ACENDEU UM CIGARRO E LEU SEU “PERGUNTE AO PÓ” ENQUANTO OS CONVIDADOS NÃO CHEGAVAM.
LEMBROU, NESSE INSTANTE, QUE TINHA ESQUECIDO DE CHAMAR O FANTE PARA A FESTA, E QUE PRECISAVA COMPRAR SNACKS.
WOODY CHEGOU TRAZENDO WHISKY E DUAS GAROTAS.
GARFIELD ANINHOU-SE EM SUA POLTRONA VERDE LIMÃO.
“SALLY CAN’T DANCE” DAVA PIRUETAS NA VITROLA QUANDO OS CONVIDADOS MOSTRARAM QUE TINHAM RÍTMO.
LUCY DESCEU DO SKY ASSIM QUE A BANDEJA DE DIAMANTES ILÍCITOS PASSEOU PELA SALA.
ALICE FAZIA TRUQUES ELABORADOS PELO MÁGICO DE OZ.
KEROUAK DISCOTECAVA ENQUANTO PAQUERAVA CLARK GABLE.
GINGER ROGERS PASSAVA RECEITAS DE GINGER APPLE.
BOB E LOU DISCUTIAM SOBRE FÍSICA QUÂNTICA.
DOROTY DANÇAVA HIP HOP COM SEUS ÁGEIS E BRILHANTES SAPATOS VERMELHOS.
BUKOWISKY SE BALANÇAVA EM SEU BALLET ETÍLICO.
ALI NA PEQUENA SALA FIGURINHAS VIVAS E MORTAS SE MISTURAVAM TRANSFORMANDO O PEQUENO APARTAMENTO NO PAÍS DAS MARAVILHAS.
E EM ALGUM LUGAR ALÉM DO HORIZONTE PESSOAS TACANHAS, DE CABEÇAS CÔNICAS E PEQUENAS, RECEBIAM SERMÕES DO PEQUENO PRÍNCIPE POR ACHAREM TUDO AQUILO TÃO BREGA OU IMORAL.
ACENDEU MAIS UM CIGARRO ENQUANTO PENELOPE TRANSAVA COM JAVIER E ALMODOVAR EM SEU QUARTO.
MAS ELA NÃO LIGAVA. POIS TINHA ENCONTRADO SEU POTE DE OURO.

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Lou Reed incendeia meus ouvidos. E me faz lembrar que eu também tenho um “Rock and Roll Heart”...
Penso no dia que tenho pra enfrentar amanhã. Mas penso também na noite de hoje que vem só para expurgar meus pecados.
Ou vivê-los.
A cidade e a idade estão enrijecendo meus sentidos.
Então peço à noite que chegue logo, de mansinho, sussurando no meu ouvido, gelando minha espinha.
“Deep down inside I’ve got a rock and roll heart, looking for a good time”
Vou dançar do chão ao teto. Vou ser tudo que sei que sou e viver a delícia de ter vontades.
Satisfazer cada um de meus desejos, sem pedir consentimentos.
Comerei cigarros e lamberei licores.
Viver meus desejos e meus pecados como há muito tempo não faço.
Vou morder a boca do mundo.
E se você me encontrar por aí, te desejo sorte.


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domingo, 28 de junho de 2009

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SAUDADE DE ENROSCAR OS PÊLOS.

DE ME PERDER EM MEIO A CABELOS.

PELES QUE ROÇAM. CHEIROS QUE SE CONFUNDEM.

O MEU MOLHADO, O SEU QUENTE.

O SEU MOLHADO, O MEU QUENTE.

O SEU OLFATO BUSCANDO O MEU CHEIRO MAIS ÍNTIMO.

DENTRO DE MIM DE TODAS AS FORMAS.

ADIVINHANDO OS MEUS CAMINHOS CERTOS.

BOCAS, LÍNGUAS, PERNAS, MÃOS, BARRIGAS.

TODAS AS PARTES SE TOCANDO E SE RECONHECENDO.

O SEU CHEIRO IMPREGNANDO MINHA MEMÓRIA.

SEU CALOR VISITANDO MEU VENTRE.

SUA LÍNGUA PASSEIA E DESCOBRE TODOS OS MEUS VÃOS.

SEUS DEDOS DESVENDAM E EXPLORAM CADA PONTO FRACO.

CÍLIOS BATENDO. PÁLPEBRAS OCULTANDO PUPILAS DILATADAS.

NARIZES AFOITOS. VERTIGEM.

NÃO SAI. FICA AQUI DENTRO. ATÉ SE PERDER.

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Gostava muito mais quando era só a gente conversando, rindo e bebendo, ou mesmo em silêncio, encostados no balcão.

Amar tanto assim, às vezes, cansa.

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domingo, 21 de junho de 2009

Um blues de sonhos brancos

A dama acende um cigarro.
O fogo alaranjado brinca entre os dedos de sua pequena mão.
Assopra a fumaça bem longe e desenha no ar um caminho de sonhos brancos.
Canta um blues baixinho. Um sorriso triste amarrado nos lábios.

Sonha com luzes e palcos.
Caminha pelas ruas enquanto o inverno chega varrendo seus pés.

Sonha com grandes platéias e aplausos.
Sonha que é livre.
E que as pessoas acreditam em tudo que ela é.

Canta um blues baixinho. Um sorriso triste amarrado nos lábios.

Sonha com a nuca que nunca...
E o abraço.
Sem um ombro pra chorar.

Senta-se no palco.
Lembra-se porque veio ao mundo. Está em casa.
E todo o resto fica lá fora.
Suas palavras avermelhadas dançam no ar.
Canta um blues baixinho, lembra que ali aprendeu a dançar.
E faz a platéia chorar.

A dama acende um cigarro.
Assopra a fumaça pra bem longe.
Agradece e esquece.
Enquanto o inverno chega varrendo seus pés.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Assombração

Você é uma assombração.

Te vejo na madrugada escura que invade meu quarto todas as noites quanto tento olhar a lua.

É a assombração que não me deixa trabalhar durante o dia.
Que me provoca insônia e medo.
Medo de ficar sem você.
Medo de saber que devo ficar sem você.

Você é minha assombração mais delirante.
Meu medo mais delicioso.
Todos meus pensamentos são seus quando dou o primeiro gole no copo de uísque.
Você é a aflição entre o que faço da minha vida hoje e o que eu deveria fazer para o resto de meus dias.
Você é meu último dia de verão.

Meu medo mais delirante.
É o gosto do meu café pela manhã.
Você é a sombra de todos os homens que se aproximam de mim.
É a sombra que dança em meus pensamentos.
Minha assombração mais deliciosa.

Eu não faço nada

Homens felizes são menos interessantes.
É verdade.
Quando eu te conheci não havia tantas pessoas em volta.
Era só a gente. Conversando e bebendo.
Você me contando suas histórias e eu te lançando meus melhores sorrisos.
Os dois sozinhos. E desencanados do resto do mundo.
Bebíamos o mesmo líquido. Porque era tudo que nos restava. Era tudo que tínhamos.
Nos revelando aos poucos.
Desencanados do resto do mundo.
Eu caminhando sozinha pela madrugada.
Me arriscando.
Só pra te ver.
Ao seu lado, calada.
Com a cabeça apoiada, no seu ombro.
Tentando ouvir a música ambiente.
E rindo do nada.
Porque era tudo que nos restava.
Não conversamos mais.
Seus amigos tentam alguma coisa.
Me tentam o tempo todo.
Você prefere minhas amigas.
Eu continuo lançando meus melhores sorrisos em sua direção.
E tento dançar.
Bebo as mesmas bebidas de antes.
E escolho as lembranças.
Enquanto você ganhou o mundo.
Perdi um amigo.