terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Cru

**

Só o que não é palpável me atrai. Os seres humanos, nós, vivemos uma insatisfação eterna e a maior parte de tudo que fazemos e sentimos e dizemos não faz sentido. Não há um porquê. É assim que é. Assim que somos. Nem as expressões faciais ou julgamentos mundanos tem razões. Nós, os seres humanos, não temos razões. Simplesmente acordamos e corremos. Trabalhamos e almoçamos. Fazemos sexo. Dormimos. Sonhamos. Por tédio. E assim seguem os nossos dias. Só isso. É assim que é. É assim que somos. Por isso o rock and roll. Pra dar um pouco de graça às coisas que nunca são diferentes. Tentamos entender o amor e o que sentimos e o que não sentimos. Mas não há explicação. Estamos aqui. Só isso. Somos uma experiência engraçada do universo. Eu estou aqui pra tentar entender ou desvendar o por quê disso tudo. Mesmo sabendo que não há necessariamente uma explicação. Nem que seja qualquer por quê. Do contrário não haveria música. Música é o segredo do universo. Porque a música une harmonia, matemática, paz, prazer, física quântica e cura numa coisa só. Pra quem não tem explicação nenhuma, mas se importa, isso já é um começo. Bom ou ruim? Não sei. Mas é um começo. Música não é palpável.
Na minha cidade há um rio. Ele é geralmente preto. Mas quando chove bastante ele fica marrom. Daí as pessoas dizem: Nossa, com essa cor de cocô, deve estar realmente muito poluído. O que as pessoas não entendem é que o marrom é mais saudável do que o preto. Marrom é terra, areia, vegetação. Preto é morte, luto. Tudo uma questão de ponto de vista e conhecimento que cada um julga que possui. Apesar de ser parcial em meus comentários, tenho plena consciência de que conhecimento é tudo que me falta. Sempre. Mas a maioria não pensa assim, não senhor. E seguem vivendo e impondo e pressionando e cobrando. Eu só quero gritar e tirar os sapatos. Isso pode não fazer sentido nenhum pra você, mas pra mim faz mais sentido do que a existência da aurora boreal. Mas isso não quer dizer que sou louca. Não senhor. E você, gosta de conversar com violinos?
Muitos dias simplesmente olhar pela janela, do trem ou do 15º andar, ouvindo Lou Reed resolve todos os meus problemas.

***

Vos

***

Eu te espero
Nessa ou numa próxima vida
Pela sua velha alma que compreende a minha alma velha
Porque entre tantas copas tintas, danças belas, sorrisos e sonidos você me encontrou
Destemido, me encarou
Com o olhar, esverdeado, me dedicou cada um daqueles golpes
Com sua voz e sua insistência, entorpeceu meu juízo
Lembrou. Chamou meu nome e minha atenção
Assumiu suas intenções
Me desejou bons sonhos e, em sonhos, me visitou
Mostrou que, com "vos", eu poderia falar sobre tudo
Conhecer a vos me abalou, ainda mais,
porque sei que isso também te balançou
Eu vou seguir perguntando por ti
mesmo quando vos parar de perguntar por mim
sempre teremos essa ou uma próxima vida.

***

E mais canções...

Entre Alvalade e as Portas de Benfica

Entra sempre em Campolide
Vem sentar-se à minha frente
E algo me diz que ele anda triste
Pela forma como insiste
Em olhar-me indiferente
E algo me diz que ele anda triste
Pelo forma como insiste
Em olhar-me indiferente

Quando deita para a rua
Os seus tristes olhos frios
Juro ouvir animais do zoo
Tilintar atrás do muro
Quando passa Sete Rios
Juro ouvir animais do zoo
Tilintar atrás do muro
Quando passa Sete Rios

Já pensei meter conversa
Perguntar-lhe pela vida
Mas acho que uma vida não cabe
No percurso entre Alvalade
E as Portas de Benfica
Mas acho que uma vida não cabe
No percurso entre Alvalade
E as Portas de Benfica
Só resta esperar que ele repare
No meu triste e frio olhar
Que eu adio a saida

Série - canções na última semana

Siempre se vuelve a Buenos Aires
Esta ciudad está embrujada, sin saber...
por el hechizo cautivante de volver.
No sé si para bien, no sé si para mal,
volver tiene la magia de un ritual.
Yo soy de aquí, de otro lugar no puedo ser...
¡Me reconozco en la costumbre de volver!
A reencontrarme en mí, a valorar después,
las cosas que perdí... ¡La vida que se fue!
Llegué y casi estoy, a punto de partir...
Sintiendo que me voy, y no me quiero ir.
Doblé la esquina de mi misma, para comprender,
¡que nadie escapa al fatalismo de su propio ser!
Y estoy pisando las baldosas,
¡floreciéndome las rosas por volver...!
Esta ciudad no se si existe, si es así...
¡O algún poeta la ha inventado para mí!
Es como una mujer, profética y fatal
¡pidiendo el sacrificio hasta el final!
Pero también tiene otra voz, tiene otra piel;
y el gesto abierto de la mesa de café...
El sentimiento en flor, la mano fraternal
y el rostro del amor en cada umbral.
Ya sé que no es casual, haber nacido aquí
y ser un poco asi... triste y sentimental.
Ya sé que no es casual, que un fueye por los dos,
nos cante el funeral para decir... ¡Adiós!
Decirte adiós a vos... ya ves, no puede ser.
Si siempre y siempre sos, ¡una razón para volver!
Siempre se vuelve a Buenos Aires, a buscar
esa manera melancólica de amar...
Lo sabe sólo aquel que tuvo que vivir
enfermo de nostalgia... ¡Casi a punto de morir!...

Porque minha vida se resumiu a canções na última semana...

Uma canción

La copa del alcohol hasta el final
y en el final tu niebla, bodegon...
Monotono y fatal
me envuelve el acordeon
con un vapor de tango que hace mal...
A ver, mujer! Repite tu canción
con esa voz gangosa de metal
que tiene olor a ron
tu bata de percal
y tiene gusto a miel tu corazón...

Una canción
que me mate la tristeza;
que me duerma, que me aturda
y en el frio de esta mesa
vos y yo, los dos en curda...
Los dos en curda
y en la pena sensiblera
que me da la borrachera
yo te pido, cariñito,
que me cantes como antes,
despacito, despacito,
tu canción una vez mas...

La dura desventura de los dos
nos lleva al mismo rumbo, siempre igual,
y es loco vendaval
el viento de tu voz
que silba la tortura del final...
A ver, mujer! Un poco más de ron
y cierrate la bata de percal
que vi tu corazón
desnudo en el cristal,
temblando al escuchar
esta canción...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

15º




15º andar.
Bem próxima do céu
Perdendo minha lucidez por qualquer alegria fútil
Enquanto sirenes de ambulâncias dançam sob meus pés
Nuvens do tamanho de cidades inteiras cobrem minha cabeça
O choro do contrabaixo em meus ouvidos me forçando a lembrar de você
A imortalidade dessa saudade e o caráter surreal do meu amor zombando de mim
Minhas roupas largas me sufocam
Minhas unhas gritam cavando o ar do caixão que a minha cidade se tornou
Meu peito arrebenta como cordas desesperadas de violino
Minha solidão compõe uma sinfonia usando o silêncio
Que cai em gotas
Ardendo minha consciência.
Preciso de água, de saliva, de suor
Dessa fonte que jorra da sua boca,
Do seu peito e do seu sexo.
Sua voz, sua pele, seu calor e seu cheiro como presentes de natal.


*

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Moradia tua

Minha admiração nasceu em um tango.
Mas meu amor cresceu em fado.
É nesse fado que me recordo do seu rosto.
Aqueles olhos bem pequenos e misteriosos.
Tenho saudade de tudo que não tive com você.
Um amor de imaginação.
Talvez não seja nada, e não vingue.
Mas me pergunto todos os dias se você também escreve sobre mim, ou sequer, se lembra.
Olhar teus olhos dói e vibra tudo que sou.
O que sinto é calmo demais para ser apenas paixão.
Poderia ser paixão e amor.
Paixão pelo desespero desse fôlego de falta tua.
Amor pela tranquilidade de sua existência.
Minha paz nasceu nessa tua residência em meu peito.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Você me dedica seu arco e eu te amo em violoncelo
Minhas veias vibram com cada um dos seus golpes
Misturando as minhas fibras com as fibras do seu arco
Os pêlos do corpo arrepiados pela tensão harmônica
Entre o Dó, o Ré, o Mi e o nós
Penetra em meus ouvidos
Arrancando meus agudos
e minha alma
Acalenta meu sufoco de estar cá
Com a doçura desse Lá
Acaricia essas curvas, deita em teu colo
E golpeia, concentrado apenas no gozo
Do contrabaixo
Enquanto isso, eu me perco na loucura do Si...



In you I feel so dirty
In you I crash cars
In you I feel so pretty
In you I taste God
We must never be apart

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

sobre essa minha paz...

Quanta melancolia...
Tenho caminhado por aí entre a lama e o cosmos
Com saudades de um fim de tarde de groselha
A grama verde-ludo do jockey clube me agride
Me dizendo que meu corpo não foi feito para tantas horas de chá de cadeira
Aviões alcançam o céu enquanto penso na previdência social
As vozes mais doces invadem meus ouvidos
enquanto meu cérebro matemático esquece que há vida lá fora.
Enquanto meu cérebro esquece
que há vida lá fora
Que há vida lá fora
Há vida lá fora
Lá fora
Ignorando que, aqui dentro, está tudo morto.

Sinfonia para uma geladeira

Com você ao meu lado
Eu não tenho medo de avião
Porque com você
Eu tenho menos medo da morte

Todos os dias as suas células envelhecem
As minhas células envelhecem
E eu sinto que estou perdendo seu tempo
Mais o meu

Pateticamente, eu insisto em aguardar
Porque daqui em diante
Tem que fazer sentido
E causar qualquer coisa que seja
Algo que se sinta
Debaixo dessa minha casca grossa.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Te extraño

Esperando. Na sua rua.
Aquela de pedras.
Engatilhei meu melhor sorriso.
Venha desarmado.
Vou congelar.
Aqui

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Minha milonga

Lembrou-se.
Se fez presente.
Me mandou o que eu mais precisava.
13 palavras foram suficientes para criar esse
delicioso caos
que me move.
26 anos foram comemorados em um dia
Em sua homenagem.
Indiretamente, ao seu lado.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

***

Eu nunca quis jogar.

Quando criança. Eu sempre ficava de fora dos jogos.
Não por achar que eu não era capaz, mas porque realmente não tinha vontade nem interesse.
Todos brigavam comigo, não aceitavam essa postura.
Ninguém sabia explicar porque, mas tentavam de todas as formas me convencer que o “certo” era participar do jogo.
Eu nunca achei aquilo tudo certo ou coerente.

A vida é um grande jogo.

E ainda assim, muitas vezes, eu não quero participar.
Os relacionamentos, o trabalho, a rotina, o dinheiro, as expectativas, as pessoas, as tarefas são pequenos jogos.

Ainda não vejo coerência e vontade tenho cada vez menos.

O que há de errado em não querer participar de algo?
Minhas vontades são, ficar em casa e não me comunicar com as pessoas, exceto quando estou no palco ou no ballet.
O resto do tempo eu poderia passar apenas lendo, ouvindo e escrevendo.
Minha alma é Quidam. Minha vocação é Quidam.

Destinada somente à solidão.

*


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

... Uma pequena lembrança para que meu coração derreta e invada todos os outros órgãos, congelando meu estômago, rins e pulmões. Tão assustador quanto andar de avião. Eu sorrio com o diafragma e o peito estourados, sujando a tela do meu computador. Ao redor, as pessoas acham que minhas palpitações e tonturas são fruto de minhas dietas malucas. Não são não. Essas sensações são o fruto insano de um feitiço. Um feitiço de cinco palavras que me faz querer viver e voltar no tempo, ou correr com o tempo, todos os dias. Insano o suficiente para me fazer abrir os olhos todas as manhãs. Essa história, sem início nem fim, já desafia todas as possibilidades. Você se preocupa, mas eu não ligo. E essa mera lembrança, mesmo dolorosamente não bastando, basta.

Idéia fixa



Não consigo tirar aquelas palavras da minha cabeça.
Você se instalou como uma idéia fixa,
chegou invadindo meus poros.
Com apenas um sorriso,
veio parar em minhas veias.
Os dias passam porque eu me lembro
de quando você me prometeu o mundo,
a neblina misteriosa,
os olhares declarados e proibidos,
dos movimentos dramáticos
ao hipnótico aroma do vinho.
O vermelho do meu vestido e o negro da sua camisa.
O morno mel dos meus olhos
envolvendo o verde incandescente dos seus.
Você me ofertando uma dança violenta
com um corpo de madeira chorando em seu colo.
Um desejo novo a cada golpe.
E se hoje eu sinto essa falta de ar é só porque
eu inspiro e expiro você.

É...
“Nos encontramos numa próxima vida.”

sábado, 2 de outubro de 2010




Hoje acordei pra ouvir meu pianista favorito.
Essa chuva é tão adequada. A cidade toda cinza. De novo.
Como ontem, anteontem e na véspera.
Urubus pendurados em fios de postes.
A antena parabólica apontando, solitária, um céu que não vemos.
Carros correm como formigas. Pessoas defendem-se como saúvas.
Rasgando a pele de tudo que ameaça.
Eu piso em espelhos d’água exibidos na calçadas.
Não penso em comprar um guarda chuva.
Penso nas gotas que enchem meu casaco de petit poi.
Lembro da liberdade...
Essa deve ter gosto de chuva.

Menina-bolha

*

Sem fome, sem dormir, hiperativa, distraída.
Cansada de cobranças. Cansada das expectativas dos outros.
Cansada de me forçar a ser boazinha e adequada e querida.
Cansada da falta de maturidade de tudo que há em volta.
Da falta de leveza.
Da falta de sentido das ações, dos acontecimentos, dos pensamentos e dos sentimentos.
Cansada de tanta gente sugando minha energia e da falta de compreensão.
Da falta de liberdade.
Cansada de explicar que a solução não está na terapia.
Cansada de tantos olhos incomodados com minha expressão mais séria.
Cansada de ter que dar explicações pelo simples fato de ter assumido essa autenticidade.
Cansada de dar explicações. Quando tudo que eu preciso é viver. Em paz.

*

sábado, 25 de setembro de 2010

Eu acredito
em anjos e fadas. E em bolhas de sabão e abelhas.
Acredito em céus cor de violeta, em ovnis, em pessoas que ajudam sem esperar nada em troca. Acredito nas crianças, com suas mentiras cheias de chocolate. Acredito no invisível, no visível, na mais alta velocidade, na mais alta estima, acredito na lua e no homem pisando nela. Acredito nos sonhos, acredito na vida e acredito que a combinação de ambos pode dar certo. Acredito no som, que é invisível e usa o ar e toda aquela transparência e clareza para se propagar, se alongar, me tocar. Acredito na delicadeza e na educação. Acredito nas constelações. Acredito nos livros, nos contos, nas canções, nos corações. Acredito no amor. Acredito em avião, em Buenos Aires, no tango. Acredito no sol e na comida colocada em meu prato, todos os dias. Acredito na franqueza. Acredito na ironia, no sarcasmo, nas segundas intenções e até nas boas intenções. Acredito em você.
E acredito no dia que, depois de atravessar todas aquelas milhas de distância, milhas de orgulho e milhas de machismo, você vai aparecer na minha porta, mesmo que seja só pra dormir sozinho na minha sala.
Porque quando eu comecei a acreditar que seria possível só numa próxima vida você apareceu ainda nessa e me disse que também acreditava.

Fábula

Todos os dias ela segurava uma lágrima no canto esquerdo do olho direito.
Aquele pedacinho de diamante que ninguém via. Ou ignorava,
porque era mais conveniente não se importar.
Não pedia ajuda a ninguém, porque tinha aprendido que cada um deve cuidar de seu cada qual.
No dia em que a lágrima rolou face, queixo, pescoço, colo abaixo,
ela não acordou.
Então, realmente ninguém teve que se importar.
Anymore.
O tempo não perdoa.
Eu continuo buscando paz. Quero trabalhar em paz. Viver em paz.
Em silêncio, ou ouvindo música clássica.
Sem dar satisfações. Sem amolações fúteis de números e metas e valores que nunca chegam
ao meu bolso.
Tenho preguiça das pessoas e das coisas e dos sons que não são artísticos.
Tenho preguiça dessa minha dor no peito. Nas costas. Pontas de facas.
Uma vontade asfixiante de só acordar e vestir sapatilhas, pintar as ruas de preto e lilás, e ganhar a cidade dançando
em pontas de ballet.

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Todas as noites recrio um mundo inteiro só pra mim. Perfeito.
Mas peco por acreditar demais na minha criação.

Seria esse o mesmo erro cometido por D e u s ?

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

*

Mas é que ela sabia desenhar estrelas tão lindas e agora não conseguia acertar qualquer traço reto que fosse.
Porque ela costumava chorar com qualquer cena ou história de almas gêmeas. Porém hoje estava bem confusa com contextos de triângulos amorosos.
Não concordava com doenças de fundo emocional, mas é que de uns tempos pra cá havia essa vertigem e uma asfixia que não a deixavam viver em paz.
Talvez por isso só conseguia pensar em remédios e bebidas e banheiras e gás. Mesmo sabendo que isso tudo não era motivo suficiente.

*

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ela estava toda empedrada por dentro. Mostrava um sorriso e uma pele branca, sem manchas, reluzente. Por dentro era um cinza só. Ninguém discutia a razão de seus cabelos negros estarem sempre emaranhados daquela forma. Só viam a jovialidade do sorriso entalhado naquele rosto de cera de 17 anos. Seus gestos desleixados e delicados. O corpo esguio sempre parcialmente a mostra. Um ombro, as coxas, uma cintura virginal, o colo alongado. Poderia ter sido bailarina, mas nem imaginava o que significava sonhar.
Nascida em berço pobre, desde os 11 anos fora forçada pela mãe a se prostituir. Do contrário, teria que conversar com a fome. Era a única realidade que conhecia. Gostava de molhar os pés no baixo cais, todo fim de tarde corria pra ver o mar e brincar, como a criança que ainda era. Dizia que o mar preparava um fôlego novo para cada noite malcriada. Não pensava no amanhã, pois desconfiava que não passaria de hoje.
ACHO QUE PRECISO CHORAR
ATÉ VOCÊ SAIR POR INTEIRO DA MINHA ALMA
O QUE VAI ADIANTAR
CORRER PRO BANHEIRO CHORAR
VOLTAR COM A CARA MAIS LAVADA
E PÁLIDA
SE SEMPRE TODOS PRESUMEM QUE TUDO
DEVE ESTAR BEM
QUE NÃO HÁ PROBLEMA
SE NÃO FOR FOME OU CÂNCER
QUE NÃO HÁ PROBLEMA
SE NÃO FOR TRÁGICO
QUE NÃO HÁ PROBLEMA
PORQUE NÃO PODE HAVER

EU PRECISO ME ISOLAR
NÃO QUERO SER RESPONSÁVEL
PELOS SENTIMENTOS DOS OUTROS
POR QUALQUER OUTRO
NUNCA MAIS

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quando damos nome aos bois

*

Eu desaprendi
Não sei mais ser carinhosa
Não sei mais gostar das pessoas
Não sei mais me importar
Não sei mais olhar além das lentes alemãs

Me tornei um ser humano frio
Frígida

Porque quando nomeamos os acontecimentos
Eles começam a pesar como lasanha estragada
no fundo do estômago

Me tornei menos criativa
menos imaginativa

Como cachorro amarrado com fio de luz
em poste de alta tensão

Não sei mais me importar
e não quero mais satisfazer
muito menos dar satisfações

Quero ficar bem quieta,
bem sozinha
e pagar pela minha paz
e pelo meu copo de uísque.

*

quarta-feira, 21 de julho de 2010

As Capivaras do Rio Preto





*

Eu poderia contar-lhes as histórias
das Capivaras de São José
do Rio Preto
As Capivaras da represa
amareladas de amargura
amareladas pela falta de espaço
amareladas de asfixia
Que atravessam ruas
fora das faixas
dos pedestres
E se misturam
aos desumanos

Mas não vou

Porque não.

*

domingo, 11 de julho de 2010

"Meu Disfarce"

*

Thigas, obrigada pelas conversas, cigarros, ouvidos atentos, conselhos, caronas e compreensão de alma.

Erika, obrigada por ainda ser você. Por ser inteira. Ou por tentar.

Marcio Américo, obrigada por, no meio de todas as risadas, dizer sempre coisas tão bonitas. Obrigada pelas risadas. Obrigada por se lembrar.

Wandeco, obrigada pela sinceridade e por tentar olhar nos olhos, quando já é bem difícil.

Mario, obrigada por ainda notar.

Fábio, obrigada por estar sempre ali e por enxergar.

Du, muito obrigada.

*

A música mais bonita do fim de semana...

"Meu Disfarce"

Composição: Carlos Roque / Carlos Colla

Você vê esse meu jeito
De pessoa liberada
Mas não sabe que por dentro
Não é isso, não sou nada...

Tenho ares de serpente
Mas em casos de amor
Sou pequena, sou carente
Sou mais frágil que uma flôr..

Eu me pinto e me disfarço
Companheira do perigo
Eu me solto em sua festa
Mas sozinha eu não consigo...

Digo coisas que não faço
Faço coisas que não digo
Eu te quero meu amado
Não te quero meu amigo...

Cada vez!
Que eu sinto um beijo seu
Na minha face
Eu luto prá manter
O meu disfarce
E não deixar tão claro
Que te quero...
Cada vez!
Se torna mais difícil
O meu teatro
Não dá mais prá fugir
Do seu contato
Estou apaixonada por você...

Eu me pinto e me disfarço
Companheira do perigo
Eu me solto em sua festa
Mas sozinha eu não consigo...

Digo coisas que não faço
Faço coisas que não digo
Eu te quero meu amado
Não te quero meu amigo...

Cada vez!
Que eu sinto um beijo seu
Na minha face
Eu luto prá manter
O meu disfarce
E não deixar tão claro
Que te quero
Cada vez!
Se torna mais difícil
O meu teatro
Não dá mais prá fugir
Do seu contato
Estou apaixonada por você...

*

quinta-feira, 8 de julho de 2010




*

Porque eu pisei novamente no palco
E após meses de árduos duelos e batalhas
Consegui me sentir em casa
E quando comecei a acreditar que era possível
ser feliz novamente
Acabou
Porque a felicidade é algo efêmero
É o que dizem
E então restam apenas as salas de ensaio
as músicas de pianos no ipod
E sou lançada ao início
Marco Zero
Forçada a uma eterna busca
Reconstrução da alma
Entre a falta de ar
E o preço da minha paz
e da minha liberdade

*

terça-feira, 22 de junho de 2010

Muitas pernas no metrô.
Todas dividindo um mesmo vagão. Que é só um.
Ainda assim, cheio de pernas, dentre tantas outras que andam por aí. Todas buscando um caminho. A maior parte indo por inércia...
Acordam, se apóiam nos pés e partem rumo às ruas. Descontroladas.
Do futuro, só sabem que retornam pra casa.
Talvez, nem isso.

%

Quantos?

Quantos de nós?

Quantos de nós gostamos?

Quantos de nós gostamos do que fazemos?

Quantos de nós gostamos do que fazemos?

Quantos de nós gostamos do que fazemos?

Quantos de nós realmente gostamos do que fazemos?

Twenty years of clean ou o conto de uma geração

Se o mundo não fizer silêncio
A natureza vai se encarregar disso
E daí não vai adiantar
Reclamar
Dos coquetéis molotov
Das inundações
E dos acidentes de trânsito
Ou da dor nos pulmões
Eu quero saber o nome
Daquele que vai ter a coragem
De olhar nos olhos do passado
E explicar ao presente
O tamanho da culpa que (não) sente
Eu estava tão acostumada a sua calma
E ao teu modo de tentar mostrar coragem
Esse modo bruto de mostrar que gosta das coisas
E das pessoas
Que achava que minha calma longe de você
Não existiria
Mas foi tudo sendo domesticado
E a nossa extinção arranjou explicação
As horas começaram a passar de um jeito
Mais tranquilamente rebelde
O frio que existia do lado de fora
Passou a incomodar só do lado de dentro
Quando eu vi, já estava toda coberta
Por todos os lados
Mas o maior frio ainda mora
onde
só você sabe incendiar

Uma dose de asas cortadas

Cada vez mais decepcionada com o ser humano
que é cada vez menos humano
Só uma boa dose de Bukowski
pra me fazer recuperar a lucidez
Eu já sabia que seria assim
só assim
Asfixiada e aconselhando os outros a
respirarem mais
Porque eu só acredito
no oxigênio
Mesmo quando o oxigênio
não acredita mais em mim
E agora é assim
tem essas cordas por todos os lados
e goteiras dentro das orelhas
Como um pássaro que conhece aquele horizonte
lindo
e observa a tudo com as asas cortadas
Com Dylan ao pé do ouvido
O sol me chamou pra dançar
Um horizonte que não conseguia tirar os olhos de mim
Uma imaginação trabalhando para não desperdiçar a beleza do dia
O balanço das vozes pendurando o ar em varais
Copa do mundo e férias iminentes acariciando minha pele
Um sorriso secreto escondido nas nuvens
A vida acontece de forma orgástica
Pode ser um grande prazer ou uma grande agonia
Você passa sua infância e adolescência ali parado, tranqüilo ou não
Esperando sabe lá deus o quê
Então é jogado num fluxo esmagador
E se vê obrigado a correr em direção a um objetivo desconhecido
Não importa como nem porque, você tem que chegar lá
É obrigado
A disputa é desleal e você nem sabe se o resultado desse desespero
Vai ser bom ou ruim
Pode ser um grande prazer ou uma grande agonia
Correndo sem saber pra onde, tentando chegar
Carregando um milhão de incertezas na mão
Nós somos um orgasmo do universo

sexta-feira, 4 de junho de 2010















Vai bater 18 horas no relógio, mas não vai dar 17h.
Preciso fazer as unhas, que começam a africanizar.
Sei que estou muito ansiosa, mas não fico mais magra ou mais nova com isso.
Preciso estudar, o sono não deixa.
Quero olhar aquela carinha linda do meu amigo pra ficar melhor. As horas estão congeladas.
Tenho saudade de outros tempos, de quando eu era virgem das histórias do mundo.
Mas dois aviões invadiram as torres gêmeas e tudo mudou. Era apenas irremediável.
E muitos corpos bateram no chão fazendo aquele barulho horrível de fim.
É necessário estar alegre para viver até os 102 anos.
Deus deve ser muito alegre.
O dia em que ele não foi alegre, Nietzsche teve uma grande sacada.
E o rio pinheiros chorava até ontem, antes da chuva. Agora está calmo como criança cheia de lodo no colo da mãe.
Eu não. Vejo o lodo, mas não vejo o colo da mãe.

Salas sem gravidade











Papai do céu, por que as pessoas não aprendem a calar suas bocarras?
Assim não dá, assim não quero.
Falam coisas inúteis em alto e bom som e me desconcentram. De tudo.
O tempo todo.
E eu, que já tenho a concentração de uma pipoca, tenho os pensamentos desmembrados
Flutuantes
Alheios de si
Fugazes
Suspensos do lado de fora da janela
Sobrevoando o Jockey clube
Aquela pracinha em Pinheiros
O apartamento da Daniela Cicarelli
O Palácio do Governo
E a Avenida Paulista
As horas correndo
Em sentido contrário às minhas obrigações.
E meus pensamentos organizados como bolinhas de ping pong
Em salas sem gravidade.

quarta-feira, 12 de maio de 2010













*

I’m in love.
I’m in love with the air
With the falling days
With the winter sunny skies
I’m in love with the green green grass
With the smell of the road
And the colors of the fields passing by
I’m in love with the laughs of my many friends
With the tears rolling down my eyes
My luggage is laying by the door
I’m in love and I’m gone

*

quinta-feira, 6 de maio de 2010

**
Para ouvir ao som de “After the Curtain” - Beirut














Perdoe-me se eu acredito apenas no amor.
Perdoe se eu entender que os relacionamentos se desgastam.
Perdoe se eu tenho ciúmes apenas da minha arte e não dos seus atos.
Perdoe se eu souber amar mais de um ao mesmo tempo. Se eu quiser me dividir e me subdividir e amar dois, três ou quatro.
Perdoe-me se eu conseguir.
Perdoe se eu não entender suas expectativas. Perdoe minha universalidade.
Mas é que nunca acreditei que o amor tivesse caráter exclusivo.
Perdoe se eu não entender o egoísmo das almas que acreditam nas relações apenas em pares.
Perdoe minha tridimensionalidade, e também as outras dimensões além.
Perdoe essa minha vontade irresistível de me doar ao mundo, ao tudo.
Perdoe esse meu impulso ao precipício.
Perdoe a arte exagerada de meus gestos, de meus olhares, de meus excessos.
Perdoe esse carrossel afetivo onde te perco todas as noites.
Perdoe o fato de que não lhe pertenço. Mas nunca prometi pertencer.

quarta-feira, 21 de abril de 2010













HUMANA, DEMASIADAMENTE HUMANA.

CONFORME DECLARADO ANTERIORMENTE, ESTOU ALÉM DO BEM E DO MAL

PORTANTO, NÃO TENTEM JULGAR MEUS ATOS

POIS, ASSIM COMO COM TODOS VOCÊS, MEUS ATOS ESTÃO ALÉM DOS JULGAMENTOS

“E O PENSAMENTO DE QUERER VOAR”.

TENHO IDO CADA VEZ MAIS LONGE

E AS MARCAS, PROMETO QUE SEREI A ÚNICA A SENTÍ-LAS

NUNCA QUIS AFETAR TODAS ESSAS VIDAS.

TENHO ALMA DE CAPITU

MANTENHO OS BRAÇOS E OLHOS BEM ABERTOS

POIS SÓ PENSO EM VOAR.

domingo, 4 de abril de 2010

*

Como o mundo, é tudo intransitável...

*

Não faria a mínima diferença.

*

32 comprimidos e um copo cheio de uísque.

"Veronika decides to die"
Like I.

É sobre tudo aquilo.

É sobre amor.

Sobre o desejo e a falta de.

Todos os dias eu tomo a mesma decisão.

Só falta coragem. E um pouco de egoísmo.

É sobre delicadeza.

Sobre estar acordado ou presente.

É sobre um desabafo. Meu desabafo.

*

sábado, 3 de abril de 2010

*



Uísque, uísque, uísque.
Vinho.
Uma dor de cabeça duzinferno.
O estômago que esqueceu sua função no organismo. No meu organismo.
E o medo imenso de decepcionar muitas pessoas.

O que está feito, está feito.
Mas sou uma mulher de culhões.
Uma mulher que já enfrentou muitas dores diferentes.

Apesar de tudo.
Do amparo, dos braços, do colo.
Eu nunca prometi ser uma princesinha.

O erro reside nas ilusões.

*

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O retorno de "Querência"

*

Foi a melhor notícia da páscoa: O espetáculo Querência, com meu amigo ator Nelson Peres, vai voltar.

Foi uma das peças que mais me marcaram na vida. Que me devolveu as paixões e me apresentou coisas e pessoas mágicas.

Me enfeitiçou. Encantou.

Me levou a escrever o texto abaixo, isso lá em 2007, mas não esqueço dos detalhes até hoje.

"Entramos, sentamos, causamos desligando os celulares histéricos. Silêncio.
Num canto, um homem, um violão.
Outro homem. Noutro canto. Facas. Chicote. Manta. Terço. Chapéu. Lenço florido.
A vibração das cordas do violão interrompem o silêncio. O som chama o ator ao palco.
Ele aparece. E de dentro dele saem outros eles. Outros vários eles. O menino, o Avô. O Lobisomem, a Mula. O adestrador de cavalos, o sertanejo arrogante e esbanjador, o Pai, a Mãe e a menina, Vicentina. Vicentina rouba o coração do adestrador, e junto rouba o coração da platéia. Sem precisar sequer mostrar seu rosto. Apenas nas palavras do fabuloso ator. Melhor ainda, nas palavras do texto nas expressões do ator, interpretando o amansador dos potros chucros narrando como é belo seu amor por Vicentina.
Ela vem assim, suave, constituída por nada mais que um lenço florido e um chicote dobrado. Ela ganha vida e sentimento nas mãos daquele ser humano maravilhoso presente em cena.
Ausente de si, mas cheio de personagens e sentimentos.
Uma surpresa na história muda seu rumo completamente. As emoções das personagens no Nelson se confundem com as emoções da platéia. Nós choramos cada vez que ele engole seco e prende os lábios para conter o próprio choro. Cabra macho não derrama lágrimas. Por que ele chora? Se você não assistiu a peça não vou tirar o encanto da história. Até porque o encanto pertence somente a Nelson.
Nós, platéia, acompanhamos a busca do chucro amansador de potros a galope. Viajamos por todo Brasil.
Sofremos sua agonia e ansiedade juntos. Empunhamos seu facão com todas as nossas mãos. Nos unimos em mãos e respiração. Respiramos silenciosamente em coro. Sentimos o sangue e o ódio do traidor.
De tão bem ambientados que fomos por Nelson e pelo texto, sentimos o silêncio, o cheiro do mato, o casebre mal iluminado, o cheiro da pinga, talvez até um grilo ou outro começando a cantar lá fora.
A luz enfraquece gradativamente, a música vai se perdendo. Recobramos a realidade e os sentidos. Ou perdemos os sentidos definitivamente, não sei ao certo.
A luz acende. Aparece um homem com o violão encostado aplaudindo o outro homem no centro do palco. Em pé a platéia faz questão de chover aplausos. Uma nostalgia, misturada com uma alegria, misturada com uma tristeza, misturada com todos os sentimentos de fim da infância nos invade. Dá vontade de ligar pra mãe.
Vontade maior dá de ser amada, assim como foi Vicentina por seu repentista de palavras simples e olhar humilde, ele, o amansador de cavalos mais querido.
Meu coração lembra e chora. Queria eu virar tinta preta, grafite ou carvão e viver dentro desse lindo texto que é "Querência"."

*

Link: http://www.youtube.com/watch?v=I8JabTjUWkM

*

sábado, 27 de março de 2010

25/03

MINHA CIDADE ASSUME UM ASPECTO LONDRINO E MELANCÓLICO, ALGUMAS VEZES, E ME CONQUISTA.
Me re-apaixono. E então parece chover. Parece nevar. Parece que o asfalto, molhado e negro, consegue obscuramente refletir o céu. Tão negro que parece que vai engolir os carros num buraco infinito e cuspi-los na China.
Fica tudo cinza. Imitando meu peito. O transito pára e a chuva desce pra sussurrar segredos nos ouvidos das copas das árvores. Quando chove assim, o paulistano derrete e só a natureza tem vida. Quase consigo ouvir o relinchar dos cavalos agitados no Jockey Clube, pedindo aos tratadores um banho de chuva. Pedem a mesma liberdade que exijo ao cosmos. A liberdade de um banho de chuva. Sem roupas sociais ou limites de horários. Sem julgamentos de chefes. Apenas a pele e a chuva em contato, dançando loucamente, se lambendo e escorrendo. Infelizmente, as obrigações e a correria, falta de tempo e de espaço, fazem parte da arte e do charme dessa cidade. Sobra apenas olhar pela janela a linda vista cinza e úmida das ruas que correm afoitas e molhadas sob nossos pés.

22/03

Eu gosto de quem gosta da rua.
Não nasci pra casa. Fico desorientada.
Morro no sofá.
Agora, na rua as coisas são diferentes.
Tem cheiro, tem sabor. Há muita luz e um rumo.
Qualquer rumo pra seguir.
Então eu sempre vou pra rua e sigo todos os rumos.
Nem certos nem errados, porque eu não acredito nessa dicotomia.
Somos só nós dois. Eu e o pavimento.
As pessoas na mesma calçada são mera coincidência.
Dessas coincidências gostosas que nos fazem rir e não deixam que as pedras nos sapatos doam tanto.
Resido nas ruas.
É na rua que me encontro, me escondo e me perco.
O movimento, o barulho e a vida.
As ruas salvam.

18/03

Uma saudade de mim, fina como a chuva, instalou-se em um lado desconhecido meu
Curiosamente, eu não fui a única a sentir essa falta
Cortei arestas
Desamassei vincos
Desfiz algumas rugas
Buscando o que parecia mais certo
Pra mim
Porque falar amém é coisa de santo
Coisa que eu não sou
É nova fase
De unhas negras
Heranças de Coimbra
De quatro
On fire
Mais ballet e le tutu
Agora me permito cafés da manhã de domingo
E cafunés, na cama
Mãos e pernas, braços, pêlos, lençóis
E desmaios
Por todos os lados
Estou mais nua
Crua
Mais autêntica
Não me vendo
Não sou vencida, vendida, nem estou vendada
E as pessoas não agüentam
Mas eu avisei que não seria fácil
Viver não é fácil
Mas a gente dificulta bastante também
Auto-sabotagem, manja?
Pois é
Pois eu parei
Me livrei dessa palhaçada
E garanto que muito do que está ao redor
Vai agüentar cada vez menos
“You win, you lose”
I’m just trying to win
Pois tenho muitas idéias
E muito amém pra ouvir.

Folhas de árvores suaves ao vento

Olhos incrivelmente claros me encaram no espelho
Os acordes de “Você me faz tão bem, você me faz tão bem”
Não saem mais da minha cabeça
Até me permito ser um pouco mais brega ultimamente
E usar roupas que parecem garimpadas no guarda-roupa da minha avó
Cores mais suaves
Que combinam com meus olhos
Menos duros
Há paz em torno
E eu finalmente consigo tomar decisões
E distribuir pingos em i’s rebeldes
Ando por aí bem mais francesa
Saindo à francesa também
Pois conheço bem meu lugar
E sei que não preciso insistir em outras coisas
Sei que posso simplesmente sentar ali do lado de fora
E fumar meu cigarro enquanto as pessoas passam
Admirando minha maquiagem bem feita.

Petit poi, o rabo de cavalo e a pequena saia de tule

E com seu casaquinho de petit poi ela ouvia Elvis enquanto flertava com o moço mais velho e casado.
Arriscava e provocava, mesmo sendo ele casado, mesmo ela sabendo de tudo isso.
Porque ele era seu número. “Feitinho” pra ela. Tocava baixo. Não era qualquer coisa.
Porque ultimamente muitos desses eram pura tentação.
Casados ou solteiros. Apenas tentação.
Tudo porque seus olhos andavam mais claros.
Fenômeno curioso esse, ainda mais quando era algo cada vez mais freqüente e, por quê não dizer, delicioso.
Ela sabia que esse brilho todo vinha dele.
Ele que fazia bem demais a ela.
Que estava tentando enfeitiçá-la, sem saber como as conseqüências de seus feitiços poderiam ser bem sérias também.
Ela espairecia tudo isso, o feitiço e as cantadas, janela abaixo.
Vista aberta, afora.
Um cidade correndo a seus pés. Ela correndo contra a cidade.
A pele e os cabelos cada dia melhores, seus olhos mais e mais selvagens.
E claros. Um céu com uma força mais azul. O sol que veio acordá-la em meio a risadas, beijos e nudez.
O coração amansando, mesmo sem querer.
Pensava em como suas pernas e corpo conquistavam mais atenções.
Era mais do que isso. Era de dentro. Era o fumar seu cigarro sentada olhando para as árvores.
Era dominar a chuva que molhava a cidade enquanto ela também se molhava.
Era a descoberta da essência pura e puramente artística.
Olhar para os próprios pés e ver que eles tomavam forma e jeito.
As mãos já bem delicadas desenhando o ar e as palavras.
Então ela acordou, tomou seu café da manhã norte-americano, vestiu-se e maquiou-se como boneca.
Provocou todos os outros. Porque sabia bem quem era aquele único que a merecia.

F.

Mais uma vez,
Com a cara no chão.
Um coração sujo.
Porque o amor é mesmo uma porcaria.
Mais uma vez, vendo que não tenho em quem confiar.
Porque as pessoas só querem tirar uma com a minha cara.
Vou mandar enterrarem meu coração.
Em praça pública. Uma pisada a mais não fará nenhuma diferença.
Está morto mesmo.
Mesmo depois de pedir pro diabo desistir da sua alma.
Mesmo depois disso.
Só o espelho viu a maquiagem escorrendo.
Só o espelho que viu.
A paisagem aqui ao lado é tão linda
Que eu quase acredito que não preciso de você
Num pulo só
Sem pára-quedas ou asa delta
Dessa janela eu vou
Deixar meu peito encontrar o chão
Pra lá embaixo enterrar seu nome
E(m) meu coração.

É disso tudo que falo

Em 08/03

Excessiva. Algumas vezes posso ser excessiva.
Excessivamente dengosa, excessivamente carinhosa, excessivamente fria.
Excessivamente insistente e/ou teimosa. Charmosa. Francesa.
Excessivamente mimada... ou mesmo exigente.
Cara de pau, grossa, bruta, indiferente.
Pensativa, arrogante, pedante, metida, pretensiosa.
Distante. Muito distante. Excessivamente distante.
Às vezes posso querer apenas me fundir a você.
Outras posso não querer sequer um olhar seu.
Interesseira. Descaradamente interesseira.
Exibidinha, abusadinha, narcisista.
Low profile. Fútil. Descabidamente boba e fútil.
Me importar demais ou de menos.
Excessiva nos desejos, a ponto de perder horas ou arriscar a vida.
Alegre. Hiperativa. Impulsiva. Desatenta. Nem aí, mesmo.
A verdade é que meus excessos moram na minha única e mais forte paixão.
Sou excessivamente atriz.
Pretensiosa? Sim..
Mais uma vez pretensiosa.
Excessivamente.
Mas atuar mora em mim. Mora nos meus gestos, mora nos meus olhares, mora nos meus pensamentos, nos meus sorrisos e nas minhas provocações. Mora no meu destino e na minha verve.
O sangue corre em excessos nas minhas veias. Todas elas.
E nesse sangue mora a arte. Esse sangue me eleva na dança, me firma no palco, me grita na voz, me expande o peito ao mundo.
E a arte, por sua vez, excessiva dentro de mim ultrapassa todos os limites, os limites do meu corpo e do espaço.
Somos uma coisa só, eu, a arte, meu sangue, o ar, o som, os sentimentos e o excesso.

Céu de cetim

Em 04/03


Abre a porta.
Sorrisos a aguardam.
Caminha até o vestiário. Música em bom tom.
Sapatos e sapatilhas. Meia calça e collant.
Um copo de chá, já devidamente trocada.
Risadas de outras meninas.
Confissões em corredores.
Sensação acolhedora.
Uma sala com espelhos nas paredes.
Mais música. Escolhida.
Aquecimento e alongamento.
E primeira posição. Segunda, terceira.
Battement. Pas de Burrée.
Pas de Chat. En Croix.
Degagè. Arabesque.
Meia ponta. Demi plié.
E plié... plié... plié.
Bater cabeça e Pirueta.
Barriga para dentro. Joelhos para fora.
Alonga a coluna. Postura. Vetores.
Olhos para o horizonte.
Dor. Alonga mais. Saltos.
As pernas tremem, os pés reclamam.
O peso do corpo, mesmo emagrecido, triplica.
Não se esqueça de contar, menina, seguindo a melodia.
Uma professora linda.
Muitas coisas novas. Dores novas também.
Olhos brilhantes de paixão e aprendizado.
Generosidade. Reconhecimento.
Sua idéia de paraíso é bem próxima disso.
Sua idéia de paraíso é um palco bem grande.
Céu de cetim. Céu de fitas e tulles.
Sempre sonhou voar.

Em 03/03

Uma vez um amigo meu disse sobre os homens:

“Cachorro de raça tem dono.”

Minha resposta?

Perdoem-me os donos, mas eu sou vira-lata.

Dedicatória

Ainda em 01/03...

Para Kik’s...

O amor não presta.
Exige coragem. Daquele tipo de coragem verdadeira. Não da coragem de montanhas russas ou de matadores de leões e animais peçonhentos. Coragem de verdade. Daquelas que só uma menina com olhos cor de ouro líquido teria. Daquelas que só uma menina que tem força para entregar o corpo ao prazer por puro amor teria. Daquela coragem que só uma menina que nasceu pra ser uma mulher bem grande e madura e forte teria.
O amor não presta. Mas exige coragem.
Daquele tipo de coragem que só um tipo de pessoa sabe ter.
É de você que eu tô falando.
Os outros são simples covardes.
Nunca vão saber o que é vida. Coisa que jorra de você.
Um beijo. Estou aqui de ouvidos atentos e olhos bem abertos pra você, amiga.

Atmosferas

Em 01/03


E eu não fui.
Eu que disse que ia. Que queria estar entre os meus.
Porque sou deles e eles são meus. De uma forma ou de outra reconhecemos que sim.
Porque somos queridos e não queremos nada em troca.
Estamos ali pela diversão, pela afinidade.
Simplesmente estamos.
E mesmo depois de longos meses de sol e chuva, sem qualquer forma de contato, nos vimos como se a última fofoca tivesse sido dividida nessa madrugada.
Como se o afago nos cabelos ou o calor do abraço ainda estivesse presente e quente na pele.
Porque estava.
Mas não fui. Porque meus lábios foram monopolizados e minhas vontades ficaram amarradas.
Porque choveu de forma fina e gélida.
Porque minha razão lutava contra meu organismo, contra minha fisiologia e dizia coisas insanas à minha sorte.
Porque eu tinha mãos e palavras por todos os lados, mas eu ainda me sentia a pessoa mais sozinha e cúmplice daquela atmosfera.
Porque ao redor disso tudo tinha cansaço. Muito cansaço.
Então não fui.

Em 17/02

E assim, com a concentração de uma pipoca, ela partiu, em direção aos dias frios
Porque fazia calor demais
Depois que ela decidira abraçar o mundo, viu que esse largou todo seu peso nos ombros dela
Então partiu
Os dias frios tinham algo de atraente em suas cores
Algo refrescante, como se fossem a composição de um espírito jovem
Tudo que ela precisava
Diferente do seu espírito tão cansado e surrado e quente
Algo novo e fresco
Como raspadinhas de morango
Ou a neve, ou mesmo um ar condicionado gelado
Nas costas
Um dia bem branco e cinza, sem chuva
Só frio

Em 09/02

“E, do nada, ele é acometido por uma motivação desconhecida, bem no meio de seu dia, e envia um e-mail com apenas uma palavra:

!Delícia!

Ela, totalmente surpresa, rola parede acima de rir e, não podemos negar, acha toda a situação muito interessante. Igualmente interessante, a palavra escrita ativa um dispositivo em sua mente, jogando cada um de seus pensamentos aos céus, em meio a deleites e memórias. Memórias de brincadeiras, línguas, arrepios, movimentos, respirações, frases soltas, claridade do dia penetrando as frestas da janela, sons proibidos, descobertas, toques, quente e frio, insistências, pedidos e muitas satisfações. Uma vontade irresistível a amolece. Vontade de cama, vontade de inexistência das horas, inexistência de preocupações e perigos, vontade maior de reprise em câmera lenta.

Em outros tempos, quando os sentimentos não eram saudáveis...

Todos os dias, as pessoas me perguntam:
Por que você não namora?
Tenho certeza que vocês não vão querer saber a verdade.
Porque as pessoas tem problemas com a verdade, não sabem lidar.
Por quê? A razão é simples. Vaidade.
Por isso a verdade dói tanto, porque fere a vaidade.
Qual a relação disso com a pergunta feita ali em cima?
Hahaha

Agora, respondendo aos curiosos de plantão:
Porque eu sei somente ser leal. Não sei ser fiel.
Porque eu tenho medo de me comprometer.
Porque eu uso as pessoas (não se espantem, vocês também usam).
E não gosto de iludir.
Porque eu só sei amar coletivamente. Porque eu não amo um mais do que o outro.
Porque eu não suporto expectativas e pressão. Principalmente dos amigos que metem o bedelho.
Porque tenho alma de Frida Kahlo.
Porque não conheci alguém com coragem. Não aquela de heróis que salvam o mundo. É da coragem de verdade que eu tô falando. Tenho mais culhão que muito homem por aí.
Porque eu não quero ser vista como um casal.
Porque sou um indivíduo. Indivisível. Que sempre existiu. E sempre foi cheia de opiniões árduas e próprias e únicas.
Independente de quem está ou não ao meu lado.
Porque ninguém é igual a ninguém. Eu não sou. E todos em volta começam a dizer: Nossa, como eles são parecidos, nossa isso, nossa aquilo. E quando você perceber, fundiram os dois numa coisa só, sem sal e sem idéias independentes.
Porque ele usa seu MSN, se mete no seu Orkut, fica amigo dos seus amigos e quando você se der conta, sua melhor amiga já deu pra ele 732 vezes.
Porque depois que se começa a namorar você passa a ser visto como: o fulano e a fulana. Isso é simplesmente insuportável.
Todos os programas são em dois. As pessoas deixam de te chamar para alguns eventos, porque não sabem se o namorado vai gostar, ou usam a desculpinha eles devem estar fazendo sexo.
As pessoas tornam-se chatas e você menos interessante para o mundo. Para todo mundo.
Porque um dia você acorda só querendo beber e farrear e falar merda e tem lá um cara no seu pé, te agarrando, ou te beijando, ou te tocando. Ei, ei, ei! Que é isso? Eu deixei ou pedi pra você me beijar? Agora não... não vê que eu tô concentrada em me divertir ou em qualquer outra coisa!
E se eu quiser ir a um show sozinha?
E se eu quiser ir pro bar tomar meu uísque com alguns bons amigos e conhecer gente nova? Passar mal?
Dar vexame?
E se eu quiser fazer uma música ou um texto romântico para ninguém, assim descompromissadamente?
Ou para alguém diferente? Pela simples vontade de criar algo diferente?
Viajar pra longe? Sumir do mapa?
E se eu não quiser fazer sexo, só assistir televisão mesmo?
E seu eu quiser ter paz?
Porque, independente de quem está ao meu lado, eu vou fazer isso e quero fazer isso.
Porque sou humana e tenho desejos, tenho impulsos, tenho vontades.
Porque o mundo tem bilhões de possibilidades e de pessoas com seus universos interessantes.
Porque amor-amor mesmo, pelo menos a metade dos que estão lendo isso aqui não sabem e nunca saberão o que é.
Porque eu já aprendi e já senti e já doeu e já perdi e já morri um milhão de vezes no mesmo instante.
Porque amor-amor mesmo é insubstituível e inexplicável e imperdível e incomparável e não sufoca e não se cobra nem se julga. É assim mesmo, num fôlego só, porque é intenso e suave, e eu juro que não me refiro à parte carnal.
Não há jogo e um não rouba a energia do outro. É equilíbrio. Porque um não precisa do outro, porque não são necessárias explicações ou satisfações, porque um não espera nada do outro. Não se agregam, pois já são completos.
Simplesmente estão ali. E mesmo que nunca se toquem ou nunca mais se falem, um sorriso basta e ilumina uma eternidade.

Então, por favor, parem de perguntar por quê eu não quero namorar o fulano ou siclano ou beltrano. Eu também tenho o direito de escolha, de liberdade, de sentimento. Também sou um indivíduo que pensa e existe e sente.
Mas isso ninguém respeita.

“Bebo para afogar as mágoas. Mas as danadas aprenderam a nadar.”
Frida Kahlo

Quanto tempo tenho
Prá matar essa saudade
Meu bem o ciúme
É pura vaidade


Se tu foges o tempo
Logo traz ansiedade
Respirar o amor
Aspirando liberdade...

Tenho a vida doida
Encabeço o mundo
Sou ariano torto
Vivo de amor profundo


Sou perecível ao tempo
Vivo por um segundo
Perdoa meu amor
Esse Nobre Vagabundo...

Em 08/02...

Quero asas
Tenho a concentração de uma pipoca
E deveres
Muitos deveres e obrigações
Escutar uma música inteira tem sido difícil
As mãos não param
Os olhos procuram
Os pés descontam no chão
Quero abraços
Mas meus braços não cabem em si
Cantigas a plenos pulmões
Sem estranhamentos
Ou julgamentos
Tenho o corpo todo amarrado
Socialmente amarrado
Então dói

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

***

O títere faz piruetas nas mãos de um deus com dois vazios obscuros e cósmicos no lugar dos olhos
Uma bailarina de pernas quebradas tenta se equilibrar sobre suas dores e muletas
Um disco de vinil riscado na penúltima palavra do refrão
Um pianista sem mãos tenta desesperadamente homenagear o filho em seu funeral
Ouve-se o último uivo de um lobo, extinto, enquanto sua casa e filhotes desaparecem sob o fogo criminoso

Pneus de carros que gritam
em freadas bruscas e inesperadas
A visão derradeira de um espetáculo das
pessoas que rodopiam no ar como patinadores de gelo,
antes de arrebentarem seus corpos contra a crueldade do asfalto

Luvas tentam aquecer pontas de dedos
necrosados
Sorrisos sem energia
Congelados
Crianças que nunca viram nada
Nem a praia
Apenas a doçura do chinelo, da cinta, da mão
Do cabo da panela, do fogo, do fogo, do fogo

Uma caixinha de música
A lembrança do sorriso do melhor amigo
Do melhor amor

Cai uma neve fina e ardilosa
Teia de aranha úmida
Reluz como diamante
Como os olhos verdes
E a pele verde oliva
dela

A garota que passeia com os pés em andeor
Roupa colada aos gestos
Delicada,
em contraponto à brutalidade do mundo
À brutalidade das coisas
Porque ela prometeu nunca se render
Nunca se vender
Dolorida e demorada
Em todas as suas coisas
De sono pesado
Vendada
Carrega cicatrizes feias nos braços
De tanto tentar se proteger
Mas alguns estilhaços sempre
Sobram

***
*
*
*

F,
Venho, por meio deste, fazer um pedido:
Que você nunca mais me toque


Porque esse seu toque
é o que mais quero.


***************************************

Um bom sinal
Uma boa notícia
Tudo que preciso
Um amor que vem do ar
Ou que venha pelo mar
Um carro que pára em minha porta
Um homem de terno claro
e chapéu
O viajante que decidiu ficar
Com idéias sobre o futuro
Um profeta
Um poeta
Com as linhas do meu futuro
traçadas em seu peito
Do lado esquerdo
Que sabe de cor
os segredos escondidos
nas linhas da minha mão
Direita
Que veio me falar
sobre meu destino
tortuoso
Veio me corrigir
ou surpreender
Me salvar dos moinhos do vento
Que giram e
Estraçalham
Tudo
Dentro do seio
Esquerdo.

Os becos de Paris
















E se alguém perguntar por mim, diga que eu fui à Paris.
Diga também que fui atrás daquele romance tórrido com um integrante da população local do meu cenário atual.
Porque eu não nasci para menos.
Porque sou a personificação do romance e preciso de inspiração para meu novo livro.
Simplesmente porque eu quis assim.
Paixões sob luz de estrelas, nas ruas de paralelepípedos parisienses, ao som de acordeões, na boca dos leões.
A lua jorrando brilho e cantadas repletas de poesia.
Uma prosa de qualidade, talvez sobre Sartre, talvez sobre as coisas mais simples, uma baguete, um vinho.
Ou mesmo champagne.
Falar fazendo biquinho. Deitar na grama lendo um livro de algum poeta desconhecido do leste europeu.
Desvendar as sensações de Amelie Poulin. Encontrar Chico Buarque brincando de anônimo.
Beijar um desconhecido atravessando a rua. Quiches e bistrôs.
Mudar de opinião um milhão de vezes no mesmo segundo.
Usar preto, ser existencialista. Conhecer os becos de Paris. Os artistas dos becos de Paris.
Os pintores, os novos poetas, os músicos, os velhos escritores, os críticos, os ‘sem opinião’.
Invadir as telas daquele pintor calado, bruto e viciado em roer unhas.
Ser a tela do pintor e deixar que seus pincéis invadam meu corpo.
Trair, por amor ou safadeza, o pintor com o músico viciado em gesticular. Ser traída por amor.
E descobrir que ser amada pode ser bom. Fazer as pazes e, mesmo sabendo da hipocrisia de todos os relacionamentos, saber que ele escolheu ficar junto.
Que eu também escolhi ficar junto.
Ser blasé, na capital do blasé.
Ficar nua no calor do aquecedor do apartamento de sacada grande e arquitetura provinciana enquanto lá fora a cidade desaparece sob a neve.
Assistir a vida passando em câmera lenta... com o comprometimento dos dias que não sabem do fim.
Ou da noite. Correr pelo Louvre. Imitar a Monalisa. Fazer perguntas a Da Vinci.
Usar cachecóis e sentir a poesia escondida nas ruas esbranquiçadas. Incontáveis vernissages.
Intelectualóides irritantes tentando provar que sabem mais sobre arte.
Beijar, beijar, beijar, beijos franceses. Em elevadores, escadas, aeroportos, em pontes, taxis, cabines telefônicas.
Beijar apaixonadamente meu pintor de mãos eternamente sujas de tinta.
De mãos eternamente sujas de mim.
Rir dos gringos. E do mal humor xenofóbico dos parisienses.
Sem dar satisfações. Satisfazendo apenas a mim. Sempre sozinha.
Que fui sempre sozinha.
Viver o romance na mão dos inventores do romance. Castigá-los por terem inventado algo tão dominador e cruel.
Deleitar-me, refestelar-me em algo tão dominador e cruel. Até me libertar.
Deixar que a vida de Paris venha me tirar da minha cama. Até me atirar novamente em tais lençóis.
Em bons lençóis. Nos lençóis dele.
Escolher ser otimista e descobrir que ele também deseja um filho.
Diga que fui à Paris para viver todos os clichês. Ou só para viver, pois me cansei de apenas ver.
Porque agora é minha vez de sentir.
E porque dessa vez eu escolhi o romance. A contragosto.
Contra a vontade de todos. Inclusive a minha.

domingo, 31 de janeiro de 2010











E assim, como o sol se põe, a menina que um dia amava dois homens deixou de amar.
Deixou de gostar de outros também.
Descobriu o terror que era cativar alguém e ficou com mais medo ainda de se tornar responsável.
Ou de responsabilizar.
Perderam-na, simplesmente porque era mais fácil perdê-la do que ganhá-la.
Porque a liberdade e a falta de espaço, da mesma forma que confundem, sufocam.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Asfixia



Sufocando
Not allowed
Você ultrapassa meus limites
Don't touch me
Não lhe dei liberdade
Minha liberdade
Tão minha
Meu corpo e minha pele
Tão meus
Você não me respeita
Anymore
I'm suffocating...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Na existência

Eu queria um sinal
De que vai parar de doer
Tudo que mora aqui dentro
De que os medos vão acalmar
A tempestade vai baixar
Quero calmaria
“um amor tranquilo com sabor de fruta mordida”
Oferecer meu colo e ser embalada daquele jeito lento
Quente
Sem moscas sobrevoando meu pão doce
Cheiro de café invadindo a varanda
Sem contar horas
Crianças pulando amarelinha
Meu cachorro deitado ao lado
Suor e saliva se encontrando
Fundindo a tarde e a madrugada
Dois corpos tentando ocupar o mesmo espaço
Numa briga pacífica e macia
Sem banalizações
Fins de semana de vinho e pizzas
De frenesis febris
Confusões de cheiros
Em todos os cantos da casa
Sem dores no peito
Sol no rosto
Sal no gosto
Pimenta na existência
De nós dois

Boleia

Em 12/01/10

É essa vontade de rasgar papéis.
De fugir correndo até o deserto do Atacama.
Vontade de ouvir só silêncios.
Closes de câmeras.
Sussurro de água escorrendo pelos pés em mortes de cachoeiras.
De estar além de qualquer pensamento. Além do bem e do mal.
Retornar aos lugares bonitos da infância. Cheios de verde.
Encontrar a paz nos colos de alguns meninos. Talvez em um colo, em especial.
De sentir aquelas mãos rodando em meus cabelos, descobrindo sensações.
Enxergar-me através das descobertas dos olhos, das mãos e da boca dele.
Aquele beijo púbico, precipitadamente proibido.
Um encontro de línguas que se mereciam. Desejavam-se.
Dedos frenéticos de inspiração castigando um teclado privado.
Palavras que não cabem na boca e que não sabem ganhar o ar.
- Adeus. Desculpe. Não posso mais.
Vontade de sentar com os pés balançando ao vento no parapeito do edifício mais alto.
Ser toda cigarros. Cinzas e lenços ao vento.
Dourar a pele e os sentimentos ao sol.
Saudade de ouvi-lo descobrindo o calor da minha pele.
Mãos por todos os lados, suavemente, como sua boca e seu beijo.
O som da saliva invadindo meus poros.
Fazendo acrobacias com o chiclete.
A vida girando em câmera lenta naquela madrugada.
Elogios à meia luz.
Mais closes de câmeras.
Dois corpos que se cabem e se entendem muito bem e um cinzeiro.
Segredos de caminhoneiros.
A saudade antecipada da falta do toque.
Uma despedida e o medo de nunca mais ouvir o timbre da voz do outro.

Domesticada

Tenho o coração suspenso no ar. Ao léu. Para qualquer ventania reduzi-lo a pó.
E se eu assumisse, como no conto dos três mal amados, como no conto de qualquer mal amado, que o amor comeu meu juízo, que “o amor comeu meu medo da morte”?
Porque algo recente aconteceu, e eu não tenho mais medo. Só tenho medo da ausência.
A ausência das palavras. Ausência da presença. Ausência do carinho. Ausência do olhar. Ausência das atitudes mal criadas. Ausência dele.
Só quero a sensação do toque dele, do peso dele, da respiração dele, da voz dele, das mãos dele no meu cabelo, da língua dele, do olhar dele, do descontrole dele, da admiração dele.
De nenhum outro.
Não quero ser fiel. Nunca quis.
Agora, meu corpo e meu juízo me seguram. Rejeitam outros. Estou me traindo.
Ele dominou minha essência. Do-mes-ti-cou-me.
E nós fizemos tudo errado. O sono me fez trair minhas intenções.
Meus gestos me abandonaram e só sobrou meu cansaço e as palavras mal ditas.
Fui invadida por um milhão de aflições e passei todas as impressões erradas. Fui uma baita duma chata.

Ele nunca mais vai me procurar. Nunca mais. Porque o universo é assim, tem uns planos bem estranhos.
Ilude. E eu que sempre odiei ilusões... Iludi.
*
*
*
Eu acreditei, do fundo da minha existência, que eu não pertencia a ninguém.
Descobri que tenho muito a aprender.
Agora, pago e recebo na mesma moeda. Mas a dor, ah, essa eu conheço bem.
Porque algo recente aconteceu, algo que eu realmente não esperava, apesar de saber que poderia acontecer.
Verdadeiramente, não pertenço. O perigo reside no querer pertencer.
À pessoa errada.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

E viva a insônia!

Farei uma ode...

Ah, xápralá.

Medos

É que eu tô com medo, pela minha vida.
E eu sei que não tenho uma mão segurando a minha e dizendo “fica tranqüila, vai dar tudo certo, não é nada”. E eu nem quero ter. Porque se precisar chegar a esse ponto, terei certeza que a casa caiu, hermano.
Tenho também um medo fútil. Medo de ficar deformada. De ninguém olhar mais pra mim.
Tenho um medo aterrorizante do irremediável, mas sobre esse eu prefiro não pensar.
Sempre que algo assim atormenta os pensamentos, nascem algumas reflexões.
Por quê? O que fiz de errado? Será que mereço? Quem pode me ajudar? O que isso é realmente?...
Medo do medo. Medo do sofrimento. Medo da morte.
Medo do julgamento, medo da cara que minha mãe vai escolher para olhar pra mim, medo da dor que vou sentir e da dor que vou causar.
Medo de saber que ainda quero realizar tantas outras coisas. Medo de não realizar.
Medo da rejeição e do isolamento. Medo do medo dos outros.
Deus, eu tentei ser melhor, mas não consigo lembrar porque eu não consegui.
Deve ter sido por medo. Pelo pior deles, o de solidão
Escrevo aqui porque não encontrei outra forma de me comunicar.
Deus, preciso de ajuda.
Faço mal às pessoas. Carrego o caos dentro do meu peito e, algumas vezes, nas minhas palavras e nos meus olhares.
Agora entendo porque o amor é tão difícil. O amor é punição.
Não sei se resisto. Preciso também de força. Preciso de leveza.
Preciso de saúde. Quero saúde.
Meu peito tá apertado demais...
Preciso de alguém que cuide de mim. Segure minha mão.
Tenho os olhos mareados e a sinceridade cálida do espelho. Não há um colo seco que possa acalmar as aflições.
A maciez gelada das mãos dos médicos que não dão a mínima, mas atuam fingindo consideração.
Alguém que tenha consideração. Um humano de verdade ao meu lado.
Não estou pedindo muito. Apenas um.
Estou pagando pelos pecados de quem? Esse desespero brega me entorpece.
Eu quero um humano, demasiado humano, como eu.