sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ela estava toda empedrada por dentro. Mostrava um sorriso e uma pele branca, sem manchas, reluzente. Por dentro era um cinza só. Ninguém discutia a razão de seus cabelos negros estarem sempre emaranhados daquela forma. Só viam a jovialidade do sorriso entalhado naquele rosto de cera de 17 anos. Seus gestos desleixados e delicados. O corpo esguio sempre parcialmente a mostra. Um ombro, as coxas, uma cintura virginal, o colo alongado. Poderia ter sido bailarina, mas nem imaginava o que significava sonhar.
Nascida em berço pobre, desde os 11 anos fora forçada pela mãe a se prostituir. Do contrário, teria que conversar com a fome. Era a única realidade que conhecia. Gostava de molhar os pés no baixo cais, todo fim de tarde corria pra ver o mar e brincar, como a criança que ainda era. Dizia que o mar preparava um fôlego novo para cada noite malcriada. Não pensava no amanhã, pois desconfiava que não passaria de hoje.

2 comentários:

Carlos Lucio disse...

Bonito. Triste. E parece sofrer do mal dos dois parágrafos que eu sofre há tempos. Rumo ao romance nenhum e à mil, dois mil dois parágrafos acabados. Inacabados, mas completos seus dois parágrafos. E ainda com voz de mulher.

Tally M. disse...

amo tudo que vc escreve! e amo vc!
beijo