domingo, 22 de março de 2009

*

O outono chegou.

Sei que não posso exigir muito da vida, mas é que estou sozinha há tempo demais.

Estou enjoada. E não sou linda e comunicativa como muitas meninas que ganham isso de presente quando nascem.

Não tenho talentos. Nem dinheiro. Nem charme.

Há muito tempo que não sei o que é carinho.

E sei que realmente não posso contar com ninguém.

Não sou admirada, nem olhada, nem articulada e menos ainda ouvida.

Porque, não sei bem desde quando, o timbre da minha voz irrita as pessoas.

Deus, sei que seu senso de humor é enorme, infinito, até abusivo algumas vezes.

Mas Você não está cansado de me sacanear, não?

*

quarta-feira, 18 de março de 2009

*

Sinto saudades do outono de cachecóis coloridos e céu azul-amarelo brincando de 7ºC.

*
*

Aos curiosos, finalmente.


Nunca escrevi aqui com a pretensão de escrever um livro, ou poemas ou qualquer coisa bonita.
Nunca escrevi aqui pensando em atingir alguém.
Não montei esse espaço com intenções exibicionistas.
Não escrevo para emitir minhas opiniões ou uma opinião que seja sobre as coisas do mundo.
Não tenho essa pretensão de impressionar, ou enganar, ou mentir, inventar, mimetizar.
Não preciso disso.
Assim como não preciso dar tais satisfações.
Não tenho isso aqui por qualquer uma das razões que o mundo moderno leva as pessoas a montarem blogs (carência, atenção, fama literária(?), etc...).

Tenho sim a intenção, não me envergonho e assumo, apesar de muitos condenarem (mas eu não ligo at all, really don't care), de manter isso aqui como um diário.
Sim um diário. Aquela coisa de menininhas pré-pré-adolescentes.
Aquela coisa que quando eu não tenho pra onde correr, não tenho com quem falar, ou como falar, quando sei que ninguém no mundo teria paciência para minhas babaquices e crises existenciais, euforias adolescentes (nunca amadureci), paixonites agudas ou não, e todas as mazelas bem bem mulherzinha.
Sei que posso contar com esse espaço e escrever livremente, sem olhar para caras de reprovação ou de saco cheio, nesse fundo escuro todo meu.
Um espaço para ser livre, sem gastar folhas e folhas de papel, sem gastar tubos de tinta de caneta, sem me preocupar com o desmatamento, aquecimento global, pai, mãe, cachorro, julgamentos e preconceitos, o que meus amigos vão pensar de mim, sem considerar nada, eu venho aqui, olho o vazio e despejo o que há de pior e melhor em mim.
Digo tudo ao nada. Ao meu próprio eco.
Meu vômito sentimental. Minha própria regurgitofagia.
Meu diário todo meu com segredos todos meus.
Sei que um diário é um negócio íntimo, oculto, infantil.
Assim como um diário é deixado na primeira gaveta de uma cômoda sem chave, ou em cima da cama da menina antes dela sair para a escola...

Qual a graça de ter segredos se ninguém tenta descobrí-los?


*
*


Sou terrivelmente romântica.
'Isso tem me destruído', ela conclui.
Me fez deteriorar ao longo dos anos.
Uma sensação de já ter visto de tudo.
Já viu o suficiente.
'She's so young', ele pensa.
Não é bem assim.
Ela ouve beatles enquanto volta pra casa.
Enquanto um motorista alucinado faz planos de vida e sonha e conta.
Ela acena afirmativamente com a cabeça.
E dança. Todas as segundas e quintas. Com a professora do sul.
'Segundas e quintas', ela pensa. Programação incomum.
De conceitos quebrados. De semanas quebradas.
De movimentos incomuns.
Ela dança sua vida quebrada.
E acha isso tudo muito entediantemente interessante.
Ela olha os cabelos loiros, negros, ruivos, grisalhos e sonha em poder tocá-los.
Sonha com alguém que a desejasse.
Uma chuva que sussurra molha o céu on fire.
Permanece on line para qualquer terráqueo que tente fazer contato.
E pensa em cada uma das palavras desperdiçadas. Despedaçadas.
Ela ouve Sophisticated Lady e lembra-se de tudo que se tornou.
Do caminho até ali. Da ausência de chegada.
Um barulho de chaves na bolsa dando o tom.
Dó menor.


*
*
As unhas descascadas.
Sem acetona pra dar cabo desse aspecto... meio puta meio rock 'n roll...
Um par de olhos que tremem e ficam bem vermelhos sem consentimento da razão.
Um par de pernas que tem medo de se abrir e medo de cair.
A ausência e a overdose brincando na gangorra.
Um grito solto e louco percorrendo a masmorra sem portas ou janelas.
Aquela saudade que nunca morre.
Minha lucidez que dança e ri enquanto pula no ralo.
A mistura da intensidade da cidade com o vazio no peito da garota.
Da intensidade da garota com o vazio na mente da cidade.
Num corpo dessa idade.
Num copo dessa viagem.
A roupa nova encostada num carro bem sujo.
A inocência rasgada entre os dentes de um cão.
Um rosnado. Duas asas caídas.
Um egoísmo com o tamanho e força de um buraco negro que vai sugando tudo para dentro de si...
Até não restar mais nada além do próprio silêncio.

*

domingo, 15 de março de 2009

*

Minha cabeça pedindo silêncio e dizendo que eu deveria apenas ouvir um pouco de música.
O silêncio estava ali e foi rejeitado.
Bastou uma vírgula áspera, bem áspera, para eu entender que nada deveria ser dito.
Mas minha dura teimosia insistiu.
E eu ganhei muitos outros conflitos e caras feias.
Entupi meus ouvidos com mais músicas e minha cabeça quase caiu de meus ombros de tanta reflexão.
Parei de refletir e joguei um pouco de rímel e sombra sobre duas lágrimas que inundaram meu rosto.
Mais grosseria. Mais confusões. Mais grosserias...
Olhei no espelho a maquiagem intacta e me entupi de cigarros. Presentinho da noite anterior. De despedida talvez.
As pessoas tem se despedido de mim.
Da pior maneira.
E eu sei que sou eu mesma a culpada de tudo isso.
E que tudo que posso fazer é castigar meus pulmões.
Mas o que essas pessoas não sabem é o quanto eu necessito delas.
Mesmo que seja só do silêncio ou do abraço.
Qualquer olhar me basta.
E ali no meio de tudo, quando eu estava prestes a perder minha lucidez, alguém confessa que também está cansado de tanta afetação, de tanta babaquice.
Vou traçar um plano e frequentar mais a vila madalena.
Beber mais quieta no meu canto. Ler uns livros na Mercearia São Pedro.
Não fazer mais amizades. Não com gente babaca.
Vou fazer um voto de silêncio.
Deixar de ser babaca também.
Porque eu não estou isenta.
Ninguém está.

*

domingo, 1 de março de 2009

*

Abandono

Cada coisa

Aos poucos

Pra que ninguém sinta

Para que eu não sinta

Que fui esquecida

Nesse canto do mundo

Nessa posição

Fetal

Vou voltar

Para dentro

de mim.

Porque eu não existo

nesse calor

Eu não resisto.

Vou soltar os cachorros

Vou ligar o chuveiro

E o gás

Vou me deitar nua

Debaixo do ventilador.

Porque nesse calor

Eu não existo

Não resisto

Sem você.

*