terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Cru

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Só o que não é palpável me atrai. Os seres humanos, nós, vivemos uma insatisfação eterna e a maior parte de tudo que fazemos e sentimos e dizemos não faz sentido. Não há um porquê. É assim que é. Assim que somos. Nem as expressões faciais ou julgamentos mundanos tem razões. Nós, os seres humanos, não temos razões. Simplesmente acordamos e corremos. Trabalhamos e almoçamos. Fazemos sexo. Dormimos. Sonhamos. Por tédio. E assim seguem os nossos dias. Só isso. É assim que é. É assim que somos. Por isso o rock and roll. Pra dar um pouco de graça às coisas que nunca são diferentes. Tentamos entender o amor e o que sentimos e o que não sentimos. Mas não há explicação. Estamos aqui. Só isso. Somos uma experiência engraçada do universo. Eu estou aqui pra tentar entender ou desvendar o por quê disso tudo. Mesmo sabendo que não há necessariamente uma explicação. Nem que seja qualquer por quê. Do contrário não haveria música. Música é o segredo do universo. Porque a música une harmonia, matemática, paz, prazer, física quântica e cura numa coisa só. Pra quem não tem explicação nenhuma, mas se importa, isso já é um começo. Bom ou ruim? Não sei. Mas é um começo. Música não é palpável.
Na minha cidade há um rio. Ele é geralmente preto. Mas quando chove bastante ele fica marrom. Daí as pessoas dizem: Nossa, com essa cor de cocô, deve estar realmente muito poluído. O que as pessoas não entendem é que o marrom é mais saudável do que o preto. Marrom é terra, areia, vegetação. Preto é morte, luto. Tudo uma questão de ponto de vista e conhecimento que cada um julga que possui. Apesar de ser parcial em meus comentários, tenho plena consciência de que conhecimento é tudo que me falta. Sempre. Mas a maioria não pensa assim, não senhor. E seguem vivendo e impondo e pressionando e cobrando. Eu só quero gritar e tirar os sapatos. Isso pode não fazer sentido nenhum pra você, mas pra mim faz mais sentido do que a existência da aurora boreal. Mas isso não quer dizer que sou louca. Não senhor. E você, gosta de conversar com violinos?
Muitos dias simplesmente olhar pela janela, do trem ou do 15º andar, ouvindo Lou Reed resolve todos os meus problemas.

***

Vos

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Eu te espero
Nessa ou numa próxima vida
Pela sua velha alma que compreende a minha alma velha
Porque entre tantas copas tintas, danças belas, sorrisos e sonidos você me encontrou
Destemido, me encarou
Com o olhar, esverdeado, me dedicou cada um daqueles golpes
Com sua voz e sua insistência, entorpeceu meu juízo
Lembrou. Chamou meu nome e minha atenção
Assumiu suas intenções
Me desejou bons sonhos e, em sonhos, me visitou
Mostrou que, com "vos", eu poderia falar sobre tudo
Conhecer a vos me abalou, ainda mais,
porque sei que isso também te balançou
Eu vou seguir perguntando por ti
mesmo quando vos parar de perguntar por mim
sempre teremos essa ou uma próxima vida.

***

E mais canções...

Entre Alvalade e as Portas de Benfica

Entra sempre em Campolide
Vem sentar-se à minha frente
E algo me diz que ele anda triste
Pela forma como insiste
Em olhar-me indiferente
E algo me diz que ele anda triste
Pelo forma como insiste
Em olhar-me indiferente

Quando deita para a rua
Os seus tristes olhos frios
Juro ouvir animais do zoo
Tilintar atrás do muro
Quando passa Sete Rios
Juro ouvir animais do zoo
Tilintar atrás do muro
Quando passa Sete Rios

Já pensei meter conversa
Perguntar-lhe pela vida
Mas acho que uma vida não cabe
No percurso entre Alvalade
E as Portas de Benfica
Mas acho que uma vida não cabe
No percurso entre Alvalade
E as Portas de Benfica
Só resta esperar que ele repare
No meu triste e frio olhar
Que eu adio a saida

Série - canções na última semana

Siempre se vuelve a Buenos Aires
Esta ciudad está embrujada, sin saber...
por el hechizo cautivante de volver.
No sé si para bien, no sé si para mal,
volver tiene la magia de un ritual.
Yo soy de aquí, de otro lugar no puedo ser...
¡Me reconozco en la costumbre de volver!
A reencontrarme en mí, a valorar después,
las cosas que perdí... ¡La vida que se fue!
Llegué y casi estoy, a punto de partir...
Sintiendo que me voy, y no me quiero ir.
Doblé la esquina de mi misma, para comprender,
¡que nadie escapa al fatalismo de su propio ser!
Y estoy pisando las baldosas,
¡floreciéndome las rosas por volver...!
Esta ciudad no se si existe, si es así...
¡O algún poeta la ha inventado para mí!
Es como una mujer, profética y fatal
¡pidiendo el sacrificio hasta el final!
Pero también tiene otra voz, tiene otra piel;
y el gesto abierto de la mesa de café...
El sentimiento en flor, la mano fraternal
y el rostro del amor en cada umbral.
Ya sé que no es casual, haber nacido aquí
y ser un poco asi... triste y sentimental.
Ya sé que no es casual, que un fueye por los dos,
nos cante el funeral para decir... ¡Adiós!
Decirte adiós a vos... ya ves, no puede ser.
Si siempre y siempre sos, ¡una razón para volver!
Siempre se vuelve a Buenos Aires, a buscar
esa manera melancólica de amar...
Lo sabe sólo aquel que tuvo que vivir
enfermo de nostalgia... ¡Casi a punto de morir!...

Porque minha vida se resumiu a canções na última semana...

Uma canción

La copa del alcohol hasta el final
y en el final tu niebla, bodegon...
Monotono y fatal
me envuelve el acordeon
con un vapor de tango que hace mal...
A ver, mujer! Repite tu canción
con esa voz gangosa de metal
que tiene olor a ron
tu bata de percal
y tiene gusto a miel tu corazón...

Una canción
que me mate la tristeza;
que me duerma, que me aturda
y en el frio de esta mesa
vos y yo, los dos en curda...
Los dos en curda
y en la pena sensiblera
que me da la borrachera
yo te pido, cariñito,
que me cantes como antes,
despacito, despacito,
tu canción una vez mas...

La dura desventura de los dos
nos lleva al mismo rumbo, siempre igual,
y es loco vendaval
el viento de tu voz
que silba la tortura del final...
A ver, mujer! Un poco más de ron
y cierrate la bata de percal
que vi tu corazón
desnudo en el cristal,
temblando al escuchar
esta canción...

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

15º




15º andar.
Bem próxima do céu
Perdendo minha lucidez por qualquer alegria fútil
Enquanto sirenes de ambulâncias dançam sob meus pés
Nuvens do tamanho de cidades inteiras cobrem minha cabeça
O choro do contrabaixo em meus ouvidos me forçando a lembrar de você
A imortalidade dessa saudade e o caráter surreal do meu amor zombando de mim
Minhas roupas largas me sufocam
Minhas unhas gritam cavando o ar do caixão que a minha cidade se tornou
Meu peito arrebenta como cordas desesperadas de violino
Minha solidão compõe uma sinfonia usando o silêncio
Que cai em gotas
Ardendo minha consciência.
Preciso de água, de saliva, de suor
Dessa fonte que jorra da sua boca,
Do seu peito e do seu sexo.
Sua voz, sua pele, seu calor e seu cheiro como presentes de natal.


*