quinta-feira, 10 de setembro de 2009

NO VENTRE DA CASA - SARAU

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PRIMEIRO CHEGOU A MÚSICA.
DEPOIS O CHEIRO DE INCENSO PREPAROU O AMBIENTE.
E BRINCAMOS COM A FORÇA DE NOSSOS PENSAMENTOS. COMO UM PEQUENO RITUAL.
A INSPIRAÇÃO TOMOU CONTA SEM PRECISAR SER INVOCADA.
UMA MESA PREPARADA PARA SER ATACADA.
A CADA SENTADA UMA NOVA CORRIDA PARA A PORTA.
MUITOS COPOS DE VÁRIAS FORMAS.
MUITAS GARRAFAS, MUITOS CONVIDADOS, E EU ROLANDO PAREDE ACIMA DE TANTO VINHO.
ALÉM DO VINHO, A PINGA, A CHAMPAGNE QUE NÃO ERA CHAMPAGNE, A AKVAVIT, E DEPOIS DESSA ÚLTIMA UM PEQUENO BLECAUTE.
ABRE A PORTA PRA RUA E RESPIRA, NUMA TENTATIVA DE RETER O AR, DE RECUPERÁ-LO PRA ENFRENTAR O SARAU NUM FÔLEGO SÓ.
E VOLTA. MAS VOLTA COM TUDO E ENFRENTA AGORA O SGROPPINO. OS SENTIDOS BATEM NO CÉU EM DELÍCIAS.
AGRADEÇO EM SORRISOS.
MUITOS MOMENTOS. MOMENTO INTERNET.
MOMENTO SSSSHHHIIIIUUUU PARA OS CACHORROS.
MOMENTO LEVE O COLEGUINHA PELA MÃO PRA FAZER XIXI (SIC ?). MOMENTO AMIGA CAÍDA NO BANHEIRO (SIC ?²).
MOMENTO SENTA NO CHÃO DE SAIA COM AS PERNAS ABERTAS... “TUDO BEM, ESTOU DE COLLANT”.
MOMENTO PÕE PRA DORMIR.
MOMENTO TÁBUA DE FRIOS E A TRAIÇÃO ÀS MINHAS PRÓPRIAS PROMESSAS E IDEAIS AO ROUBAR UMA FATIA ÚNICA DE SALAME. É QUE NÃO RESISTO A UM SALAME... HEHE.
MAIS, MUITO MAIS VINHOS... NÃO PERCO MEU COPO DE VISTA.
TALVEZ JURUPINGA, PINGA DE BANANA NO MEIO E O JUÍZO INDO EMBORA AOS SOLAVANCOS.
MOMENTO CIGARROS E CONVERSINHAS NA PORTA.
MEU ORGULHO DE ALGUMAS COISAS, MEU ORGULHO DE ALGUMAS PESSOAS.
RECONHECIMENTO DOS AMIGOS. ABRAÇOS. MAIS CIGARROS. SUJEIRA. MUITA SUJEIRA.
QUE EU ADORO.
MOMENTO POESIA, MUITA POESIA. UM VIOLÃO E PALAVRAS DE TEOR REGIONALISTA. ENCHENDO O AMBIENTE DE BELEZA.
CHEGADA DE UM AMIGO MUITO QUERIDO. REVISITA. PASSADA RÁPIDA.
MOMENTO OLHA NO MEU OLHO ASSIM MESMO, PORQUE ASSIM É UMA DELÍCIA.
LEVA ATÉ A PORTA E SE DESPEDE UMA, DUAS VEZES.
NÃO QUER IR EMBORA, NÃO DEVE IR, MAS TEM QUE...
CARÍCIAS DISPERSAS. SENTIDOS, TAMBÉM.
TUDO A FLOR DA PELE.
JOGOS, JOGOS, JOGOS. TROCA, CONGELA. ROLA SOBRE AS PESSOAS. DANÇA. FICA DE QUATRO E PISA.
RIEM E BRINCAM, COMO CRIANÇAS SEM LIMITES. DEITAM-SE NO CHÃO MESMO. SE ESPARRAMAM.
ELA RI-SE TODA.
CUMPLICIDADE NOS OLHARES. SEGREDINHOS NAS ESCADAS.
A DANÇA DA BAILARINA COM A MENINA LINDA BORDADA DE FLOR. SEM VERGONHA ALGUMA E COM OS PÉS DESCALÇOS ENCHENDO DE POESIA OS OLHOS DE ALGUNS MENINOS-ESPECTADORES.
MOMENTO VAMOS TIRAR FOTOS E UM ELOGIO FOFO.
FOTOS, MUITAS FOTOS, NOS ÂNGULOS MAIS INUSITADOS. ENTRE ERROS E ACERTOS, REGISTROS, QUERENDO FAZER UMA MEMÓRIA DIGITAL DE ALGO QUE NÃO DEVERIA TER FIM.
A LENTE CAPTA ALGUNS SENTIMENTOS OCULTOS.
MAIS CIGARROS, MAIS ABRAÇOS, MAIS CONVERSINHAS DE PORTÃO.
INFELIZMENTE, ALGUNS TÊM QUE IR EMBORA CEDO.
OS QUE FICAM VÃO SE ACOMODANDO POR TODOS OS LUGARES DA CASA.
A MELODIA ACALMA. TODOS SE AQUIETAM, POIS BRINCARAM OU BEBERAM DEMAIS.
CONVERSINHAS, ABRACINHOS. UM DVD É COLOCADO EM SINTONIA.
ALGUNS CORPOS PROCURAM CALOR.
POUCOS CONSEGUEM AINDA PRESTAR ATENÇÃO.
UMA TRANQUILIDADE INVADE MEUS SENTIDOS. CHEIROS DE DOCES DA INFÂNCIA, COMO BAUNILHA E GELATINA DE MORANGO.
E ASSIM COMO NUM JOGO DE DETETIVE, UM SEGREDO INVADE UM DOS AMBIENTES DA CASA.
INTENÇÕES ESCALAM AS ESCADAS.
NA LINGUA, UM GOSTO MACIO. CALORES NO VENTRE.
OLHARES SÉRIOS E BRINCALHÕES.
NEM TODOS ADORMECEM.
E O SOL ABRE AS CORTINAS DA CASA AVISANDO QUE É HORA DE MAIS ALGUÉM IR EMBORA.
E ALGUNS VÃO, ESQUECENDO PERTENCES E DEIXANDO INDÍCIOS DE QUE QUERIAM FICAR.
BREVE ARRUMAÇÃO.
CAIO NA CAMA, RENDENDO MEUS SENTIDOS, FINALMENTE, AO ABRAÇO DE MORFEU.
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"NEO"

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ELA, NEO VEGETARIANA, SENTE REPULSA PELO CHEIRO DE CARNE NA CHAPA, QUE AS RUAS EXALAM, MAS NÃO CONSEGUE TIRAR O PEIXE DE SUA DIETA.
SUA DIETA, A QUAL VEM SOFRENDO TRANSFORMAÇÕES EM DOSES HOMEOPÁTICAS, ANDA TODA COLORIDA POR FOLHAS CLARAS E ESCURAS, LEGUMES, CEREAIS E GRÃOS COLORIDOS.
AGORA, NÃO CONSEGUE BEBER MAIS DO QUE 2 GOLES DE REFRIGERANTE E NÃO SENTE MAIS TANTA VONTADE DE DOCES COMO ANTES.
TODO SEU CORPO ESTÁ MUDANDO NAS ÚLTIMAS SEMANAS, E ELA É TODA DISPOSIÇÃO.
HÁ O BOM HUMOR E O SONO, UM POUQUINHO MAIS TRANQUILO, QUE ELA NÃO ENCONTRAVA ANTES.
HÁ MUITO MAIS ÁGUA E SUCOS E CHÁS DE ARCO ÍRIS.
O SOL VEM ENCHER SEU DIA DE SABOR AMARELO.
E O CÉU ANDA TÃO AZUL QUE CHEGA A DOER SUA ALMA.
ENTÃO ELA RESOLVE DANÇAR. E DANÇA.
ACARICIA O CHÃO E SE APÓIA NO AR.
UM PÉ. UMA PONTA. MEIA PONTA.
EMPURRA, LANÇA. SENTE, ALINHA. ALONGA, ABRE.
TOPO DA CABEÇA PUXADO POR UM FIO.
UM GIRO, UMA PIRUETA.
EMPURRA O AR QUE EMPURRA SEU CORPO DE VOLTA.
E O AR É TODO ROSA E ROXO. O AR DANÇA COM ELA. TODO AO SEU REDOR.
A RUA DANÇA COM ELA. E ELA NEM ANDA MAIS.
AGORA LEVITA.
SEUS SAPATOS DE SALTO ALTO VIRARAM SAPATILHAS. AS RUAS TEM SABOR DE JAZZ.
FAZ DAS CASAS E DAS ÁRVORES SUA PLATÉIA PARTICULAR.
E DANÇA MAIS. LANÇA-SE NO AR, AO SOM DO JAZZ TOCADO PELO VENTO.
EM SEUS OUVIDOS, UM PIANO CANTA LIVREMENTE.
ATUA. ATUA DE QUALQUER FORMA, EM TODOS OS LUGARES.
ATUA ASSIM QUE TEM A OPORTUNIDADE DE ATUAR.
DESAPARECE. FAZ MÁGICA.
NÃO É MAIS ELA, É OUTRA. INVENTADA. REINVENTADA.
MUITAS OUTRAS SÃO ELA. PERDE-SE DENTRO DELAS.
ENCONTRA-SE. ALINHA-SE. ATUA MAIS. DANÇA MAIS.
TEM A ALMA LEVE E CONFORTÁVEL.
FINALMENTE CABE DENTRO DE SI.
AMA INCONDICIONALMENTE TUDO. TOLERA MAIS.
RECEBE INFORMAÇÕES E AVISOS IMPORTANTES QUE LHE CAEM DO CÉU COMO BILHETES AMARRADOS EM FLOCOS DE NEVE.
ANALISA TUDO, OUVE TUDO, AVALIA TUDO, ENTENDE O TODO. SABE LEVAR.
FALA MENOS, MAS SENTE MAIS. PORQUE AGORA ELA SABE MAIS.
ABRAÇA DE VERDADE, POIS APRENDEU A SER SINCERA.
ADIVINHA E OUVE PENSAMENTOS ESCONDIDOS.
SORRI QUANDO NÃO ESPERAM QUE ELA O FAÇA.
TOCA, ACOLHE, ACARICIA.
CONCENTRA-SE.
ESTÁ VIVA. ENTÃO VIVE.
*

Canto dos olhos

Um maço sempre preparado.
A chama apontando para o outro lado.
Tudo aqui dentro. Contido.
Sigo me perdendo nas pessoas.
Olho demais para fora.
Olho demais para dentro.
Não há meio termo.

Cansaço.
Esqueci da vida no canto dos olhos de alguém.
Se não estamos mais tão perto deve ser porque esse caminho é natural.
Sensação de que nada é realizável.
Muitos dedos de solidão, pura, sem gelo.

Muitas palavras.
Vozes em decibéis excessivos.
É tão longe. É tudo tão longe.

Dorme, acorda, come, trabalha.

Ninguém por perto. Ninguém quer estar perto.

A vida deve ser só isso.

Diálogo virtual 2 - fragmento

Em 14 de abril de 2009, às 15:40h...

"Sim, pela rua, sem rumo. Apenas vagar. Não chegar.
Não ter que dar satisfações. Não quero mais ter a necessidade de comer, menos ainda sentir fome.
Não quero suar, nem precisar de banho, nem me sujar.
Não quero sentir falta das coisas do mundo. Não quero precisar de mais nada.
É isso."