quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Badabá

FODA-SE.
VIM AQUI ESCREVER SÓ PRA ME SENTIR VIVA.
MAS ISSO NÃO SIGNIFICA QUE EU VOU ESCREVER ALGO QUE VAI MUDAR SUA VIDA. PORQUE EU NÃO VOU.
OUTRA COISA QUE ME FAZ SENTIR VIVA, UM SER PENSANTE, É A MÚSICA. E HOJE ME DEI CONTA QUE HÁ ALGUM TEMPO EU NÃO OUVIA NADA MELÓDICO QUE VALESSE A PENA.
DAÍ EU ESTAVA A TOA. A TOA NÃO, TAVA TRABALHANDO (RSRS) E GARIMPEI MEU CELULAR DE DENTRO DA BOLSA, COLOQUEI UNS FONES NELE, PROCUREI UMAS RÁDIOS E ACHEI POUQUÍSSIMAS COISAS BOAS.
MAS UMA VALEU A PENA. ESTAVA TOCANDO “COMO NOSSOS PAIS”.
E A RAIVA NA VOZ DAQUELA MULHERZINHA FÉLADAPOTA QUE É A ELIS FEZ ARREPIAR CADA PÊLO DO MEU CORPO NADA MAGRO, MAS AINDA PEQUENO.
ISSO SEM MENCIONAR REM, KID ROCK COM O POP-ROCK-FOLK “SWEET HOME ALABAMA”, A VOZ DA JANIS JOPLIN PEDINDO UM MERCEDEZ-BENZ PRA DEUS...
E DAÍ EU LEMBREI EM COMO EU SOU FELIZ E VIVA POR TER A MÚSICA, MESMO QUANDO JÁ ESTÁ TUDO FERRADO MESMO...
COMO FUI FELIZ DE TER UM PRIMO QUE INJETAVA MTV E THUNDER BIRD NO MEU CÉREBRO DE 6 ANOS DE VIVÊNCIA 77H POR DIA.
MEU VELHO! COMO AQUILO TUDO ME DEIXOU IRRITANTEMENTE LÚCIDA, NEM PRECISEI LER SARTRE AOS 15 ANOS PRA TER CRISES EXISTENCIAIS E OVERDOSE DE MUNDO.
MAS FOI TUDO VÁLIDO.
DIA DESSES TIVE A CHANCE DE FALAR COM O THUNDER... E DEVO TER IRRITADO ELE PÁCACETE COM MEU BLÁBLÁBLÁ ÉBRIO. MAS, IMAGINEM SÓ, EU TINHA TOMADO UM MONTE DE VINHO E ME DEPAREI COM O ÍDOLO DA MINHA INFÂNCIA E PRÉ-ADOLESCÊNCIA... DEPOIS DO CARA, A MTV NUNCA MAIS FOI A MESMA!
BEM, MAS ESSA É SÓ MINHA OPINIÃO.
MAS TAMBÉM TEVE MUITO DE BEETHOVEN E MOZART NA MINHA FORMAÇÃO. MINHA MÃE, CANTORA LÍRICA FRUSTRADA, DEIXAVA O DIA INTEIRO TOCANDO A “CULTURA FM”, ACHO QUE É ESSA A RÁDIO... AQUELA QUE FICAVA UMA MULHER CANTANDO BADA BÁ BADABÁ BADABÁ BADABÁÁÁDA, SABE? ENFIM, ISSO ME APRESENTOU UM OUTRO MUNDO.
UMA COISA LOUCA QUE CONDUZIA MEU CÉREBRO PSICODÉLICO DE 7 ANOS POR OUTRAS ERAS...
TINHA TAMBÉM A PAIXÃO DO MEU PAI POR MPB.
TODOS OS FINAIS DE SEMANA NÓS VIAJÁVAMOS DE CARRO PRA PRAIA OU PARA MARÍLIA, NO INTERIOR PAULISTA, E DAÍ ERA INJEÇÃO DE GUILHERME ARANTES, ROUPA NOVA, CAETANO VELOSO, MILTON NASCIMENTO, ZELIA DUNCAN, ROBERTO CARLOS.
ISSO, QUANDO NÃO ERA CARMINA BURANA QUE TOCAVA INTEIRINHA NAS VIAGENS E EU CANTAVA INTEIRINHA AOS 8 ANOS, TODA SERELEPE. A 9ª SINFONIA AOS 9 EM ALEMÃO.
E TINHA MAIS UMA QUE EU OUVIA REPETIDAS VEZES ATÉ DORMIR. O REFRÃO ERA ALGO ASSIM “VIVER É FÚRIA E FOLIA RUMO AO MÁGICO” QUE NÃO LEMBRO DE QUEM É... EU ADORAVA. ME DAVA UMA SENSAÇÃO DE INTENSIDADE, OLHANDO A ESTRADA, O SOL NASCENDO NAS COSTAS DO CARRO. UMA SENSAÇÃO DE “ADEUS, AGORA, TUDO BEM”.
EU ACHO QUE EU ERA AUTISTA QUANDO CRIANÇA, NÃO FALAVA COM QUASE NINGUÉM, VIVIA EMBURRADA, TUDO ERA PSICODÉLICO, O VENTO E SEUS SONS, A MÚSICA E SUAS CORES, OS SENTIMENTOS, O FRIO, O CALOR, TINHA UM MILHÃO DE AMIGOS IMAGINÁRIOS E TROCAVA DE ROUPA VÁRIAS VEZES EM UM DIA, PARA AGIR DE ACORDO COM MEU ACOMPANHANTE IMAGINÁRIO OU COM A SITUAÇÃO. EU SEGURAVA FORMIGAS NAS MÃOS E FICAVA CONVERSANDO COM ELAS. DEPOIS EU AS AFOGAVA E UM MINI POÇA DE ÁGUA AO LADO DO BEBEDOURO. DAÍ EU AS SECAVA E FICAVA ESPERANDO ELAS REVIVEREM (ISSO RARAMENTE ACONTECIA). EU ACHAVA QUE TINHA O PODER DE COMANDAR O TEMPO E FICAVA TESTANDO ISSO NO QUINTAL. MANDANDO AOS CÉUS QUE CHOVESSE, POR PURA VONTADE.
A COURTNEY LOVE ERA MEU ÍDOLO. EU QUERIA CRESCER E SER EXATAMENTE IGUAL A ELA.
SONHO PARTIDO BEM CEDO, HAJA VISTA MINHA PELE MORENA E MEU CABELO NEGRO. E A HERANÇA VOCAL NÃO HERDADA DE MINHA MÃE.
MINHA MÃE CANTAVA MUITO. OS VIZINHOS DO QUARTEIRÃO AO LADO VINHAM COMENTAR QUE A TINHAM OUVIDO E QUE ERA LINDO. ERA LINDO! MAS MEU OUVIDO DOÍA MUITO E ELA PAROU DE CANTAR.
NÃO ME LEMBRO DISSO. POR BLOQUEIO DEVE SER. SEI QUE DEPOIS QUE DESCOBRI QUE ELA PAROU DE CANTAR POR MINHA CAUSA ME DOEU MUITO.
DÓI ATÉ HOJE QUANDO LEMBRO QUE ELA TEM UM CALO NA VOZ E QUE NÃO CONSEGUE MAIS ATINGIR AQUELAS NOTAS.
É...

CHICO BUARQUE EU DESCOBRI SOZINHA. E LEMBRO QUE FOI DELICIOSO. NÃO SEI SE FORAM OS OLHOS DELE OU A VOZ DE OURO LÍQUIDO, SEI QUE DERRETEU MEUS SENTIDOS. PULSOU.
O BLUES VEIO ESPONTANEAMENTE, COMO AQUELE GAROTO DO BAIRRO QUE SEMPRE ESTEVE ALI POR PERTO, MAS VOCÊ SÓ REPAROU QUANDO ADQUIRIU CERTA MATURIDADE, ENTENDE?
O MAIS ENGRAÇADO É QUE A MATURIDADE TROUXE UM CERTO APREÇO POR CAIXINHAS DE MÚSICA.
UMA SENSAÇÃO DE INFÂNCIA PERDIDA... OU DE ALGO PERDIDO NA INFÂNCIA. NÃO SEI AO CERTO.

UMA COISA É CERTA, E NÃO É BRINCADEIRA, SEM MÚSICA EU JÁ TERIA ABANDONADO O BARCO HÁ MUITO TEMPO.
AOS 13 ANOS, COMECEI A TER INSÔNIAS INFERNAIS.
AOS 14 ANOS, EU DESEJAVA ME TRANSFORMAR EM ALGO SEM VIDA, UMA PEDRA, UM FOLHA CAÍDA NA CALÇADA.
AOS 15 ANOS, O MEDO DE TER CÂNCER DE MAMA, UM CHOQUE E UMA PERDA.
AOS 16 ANOS, SOLIDÃO.
AOS 17 ANOS, NÃO QUERIA CHEGAR AOS 20.
AOS 18 ANOS, UM CORAÇÃO, PELA TERCEIRA VEZ, ESTRAÇALHADO (DUPLAMENTE), SÓ ESPERANDO O PRAZO FINAL.

MAS A MÚSICA SEMPRE ESTEVE ALI. DENTRO DO RÁDIO, NA TV. DENTRO DA PELE. NA GARGANTA. ESCONDIDA NOS FONES DE OUVIDO SOB MOLETONS.
FALANDO TUDO QUE EU NÃO PODIA FALAR.

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