Carente, carente, carente. Como um cachorro em dia de chuva.
Atribuo isso ao período fértil e cíclico de meu corpo.
Gosto tanto da lua que a peço em casamento. Sem resposta.
Dias nublados e noites pesadas.
Caminho pelas ruas sem parar. Acendo um cigarro. Outro.
Minha cabeça toca um blues. Sinto falta do som de um baixo, nessa história toda.
Um pouco de transparência nos braços e nas pernas.
A pele pálida exigindo maquiagem. Um pedido declaradamente ignorado, por enquanto.
Os pés tristes porque não estão dançando.
E a noite prometendo segredos que não existirão.
Uma garrafa de vinho abandonada na mão esquerda.
Não sei aonde meu corpo me leva então caminho sem rumo. As ruas barulhentas da cidade gritam meu nome.
Gritam todos os meus nomes, dessa e de outras vidas.
Os sentimentos se confundem dentro da minha cabeça e eu sinto uma coisa só. Que já não sei mais se é boa ou ruim.
Meus pés não param, e seguem um caminho traçado por impulso e instinto.
A rua ainda grita tantos nomes que eu não sei se ainda reconheceria o meu próprio.
Luzes amarelas e vermelhas passam agressivamente sobre meus olhos.
Jogo mais fumaça em meus pulmões. E a fumaça, sem encontrá-los, se espalha por todo meu corpo, entorpecendo meus sentidos, como se isso ainda fosse possível.
Uma música metálica e de acordes repetidos não me abandona.
Vagando, olho nos olhos de uma mendiga velha, e talvez sábia, que tenta me aconselhar em dialeto próprio.
Num dialeto igualmente antigo que deve ter sofrido influências de todas as outras línguas do mundo.
Estranhamente, ela baba enquanto fala e sua saliva reluz como ouro à sombra das luzes dos automóveis.
Uma luz forte no final da rua, o som alto de uma freada brusca e...
Uma luz forte no final da vida.
A boca invadida por um gosto salgado e ácido. Devo estar comento pilhas.
Mas é só sangue. Só sangue. Por todos os lados.
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