quarta-feira, 17 de outubro de 2007

"Non, rien de rien"

"Non, rien de rien
Non, je ne regrette rien"

"Não, nada de nada
Não, eu não lamento nada"

Eu estava aqui. Quieta. Lendo uns blogs com textos lindos.
Lendo a intensidade tão lindamente escrita por essas almas artísticas.
Lembrei-me de mim. Que amo a intensidade.
Lembrei-me de Edith Piaff, a personificação da intensidade.
Ela sim sentia. E por sentir assim extremamente ia até o fim. Se afundava sem medo, sem piedade.
E todos os outros, inclusive eu, somos apenas a imitação disso.
Apenas a inveja misturada com a covardia de ser tudo aquilo que ela foi.
Não me venham com moralismos hipócritas, pois nem disso sou digna.
Enquanto eu lia tive muitas surpresas. Boas.
É engraçado como as pessoas mais grossas são as mais delicadas.
As delicadas, as mais mundanas.
Será isso por que essas pessoas, nós, não nos sentimos a vontade na nossa própria pele?
Precisamos ir cada vez mais, um pouquinho mais fundo?
Nos destruirmos um pouquinho mais todas as vezes?
Sentir um pouco mais para provarmos a nós mesmos que estamos vivos...
Jogar a vida na cara aos tapas...
Arrancar sangue e lágrimas...
Se expor sem medo, sem arrependimentos... para tentar fazer os outros notarem como dói aqui dentro.
Precisamos de colo. Eu preciso de colo.

Minhas unhas vermelhas são a extensão dessa dor e do sangue das feridas abertas.
A mão simboliza a entrega que não acontece. A entrega de um momento que não chega.
As feridas não permitem essa entrega. Minhas unhas sangram.
Peço tapas na cara. Eles riem.
Tapas são toques intensos... Uma forma de cuidado malicioso.
Uma forma de preocupação extrema.
Meu coração vai se desfazendo no vento.
O topo de minha cabeça aberta deixa cair massa encefálica... isso me dá tonturas... Tonterias, besteiras... Assim todos vêem meus pensamentos. Minhas intenções ficam nas calçadas. Poluindo o visual.
Isso causa náusea aos outros.
Eles não aguentam a verdade.
Eu tenho que conviver com ela. E ela grita insandecida. Grita que vai explodir meu juízo.
Grita que vai rasgar meu peito. Vai dar nó nas minhas entranhas.
Vai roubar todas as minhas lágrimas.
Sobra esse vazio que eu não quero.
Minha pele se deforma. Meu rosto se deforma.
Meu corpo enrijecido se entorta.
Fico toda outra. Tensa. Vazia.
É só isso que eles enxergam.
Ninguém desconfia da dor. As aflições só sabem crescer.
O amor diminuir.
Olham e acreditam que está tudo bem. Que não há motivos para tais sentimentos.
A culpa não é de ninguém. Nem minha.
Redemoinho de pensamentos e emoções atordoam tudo o que sou.

Edith estava fudida na vida. Bastou um cara enxergá-la para ela se transformar naquele ser humano grandioso.
Eu também mereço uma chance.
Quero ver é se alguém vai ter a coragem de me enxergar.

Um comentário:

Duli disse...

Ta lindo.
Sentimento nunca é demais, a medida que descobrimos que podemos sentir mais a cada dia.
E a intensidade vai ficar menos intensa quando essas coisas vão surgindo...
beijos