terça-feira, 9 de outubro de 2007

Extremos

Pare coração. Pode parar de bater agora!
Eu podia ter uma ataque cardíaco agora.
Eu queria ter um ataque cardíaco agora.
Eu quero ter uma parada cardíaca agora!
Muitas vezes por dia esse pensamento me ocorre.
Assim, sem explicação. Só com vontade. Muita vontade.
Acho que falta alguma coisa que me prenda à vida.
Se minha mãe lesse isso ela choraria. Com vontade de me esbofetear.
Ela responderia a isso com um tapa que abriria o lado esquerdo de meu lábio inferior.
Mas é isso. É a verdade. Tenho nada que me prenda a vida.
Lógico. Gosto muito de muitas coisas da vida.
Principalmente dos meus pais. Minha cachorra.
Principalmente do teatro, sem o qual eu não consigo mais imaginar uma vida sendo levada.
Minhas amigas queridas.
Mas ainda assim... sobra esse sentimento. De querer abandonar.
Não tem explicação.
Só não fui embora ainda por dó. Por dó de meus pais.
Eles são muito apegados. Mazelas de filha única.
Não sei o que eles fariam sem mim. Não sei o que sobraria deles sem mim.
Eu também não faria ou seria muito sem eles. Mas ainda assim sobreviveria.
É o curso natural da vida. Perder um filho é sempre mais difícil.
Hoje está um dia bonito lá fora. Eu faria uma última caminhada pela cidade que mais amo.
Escolheria um ponto bem bonito e alto para pular.
Ainda assim, torceria para meu coração parar na queda antes do chão chegar. Isso seria indolor.
Mas não sei se mereço o indolor.
Parada cardíaca. Deve ser o jeito mais fácil esse. O coração parando. Uma dor aguda e ...
Morrer deve ser como tirar uma roupa. Como se livrar de um excesso de peso.
Uma vez li em qualquer lugar que morrer seria como ter um último e mais intenso orgasmo.
Não fiquem chocados. Não precisa ficar com dó de mim.
Não estou em depressão nem nada. Minha vida está cada vez mais maravilhosa.
Desejar que o coração pare em um momento desses é até um grande gesto de ingratidão para/com tudo e todos. Uma grande hipocrisia.
É só que sobra essa falta de apego à vida.
Esse sentimento por um instante. Mais forte que tudo.
Enquanto isso, sinto meu peito arfando, meu coração pulando.
Talvez contra minha vontade.
Acho que sou realmente mais fraca que todos. Vejo aqueles diretores de grandes empresas, engravatados. Grandes cobranças por todos os lados. Tentando manter o controle sobre tudo.
Não é fácil estar em seus lugares. Assim como não é fácil ser mãe solteira aos 16, 18 anos.
Assim como não é fácil viver esmolando por qualquer coisa.
E logo eu, que tenho tudo, quero que dentro do peito algo pare de bater, de incomodar.
Giletes, armas, remédios, asfixias... vários métodos descarados, decepcionantes, previsíveis.
Métodos camuflados como beber, fumar, parar de comer, tudo em exagero e escondido.
Mas tenho pais que gostam demais de mim. Eles tentariam impedir todas as vezes, todas as tentativas, todos os métodos.
E daí, assisto um filminho desgraçado chamado "Dançando no Escuro" sobre uma mulher que não tinha nada nem ninguém, mas tinha uma vontade e alegria de viver filha da puta!
Só pode ser uma desequilibrada. Não sou forte como ela. Não consigo imaginar musicais na minha cabeça o dia inteiro. Pra completar ela fica cega!!
E eu aqui. Inteira. Querendo que o coração pare de incomodar dentro do peito.
Querendo tirar férias definitivas do universo.

5 comentários:

Duli disse...

Ai, amiga. Sei o que é ser extremista. É aquela vontade de que os momentos bons não acabem nunca. Que em plena segunda-feira não caia uma ducha de água fria em nossas cabeças e nos façam esquecer de tudo que representou os bons momentos.
E você disse assim que está no melhor momento da vida e que se sente ingrata. Mas é justamente quando tudo se encaixa que sentimos mais medo ainda de perder. Aí já se tem algo em jogo.
E outra, cada uma reage de um modo diante aos fatos. Tem gente que é só feliz por fora, mas que não sabe realmente o que é ser feliz.
Na verdade, isso é mais trsite ainda.
Uma vez que se sinta feliz, vale mais do que uma vida toda "mais ou menos".
Não, não, eu nunca vou sentir pena de você. Eu tenho pena de quem não vive, de quem é mediocre, de quem não sente.
E os pais que te amam e te prendem podem ser na verdade a sua justificativa, pq realmente vc não quer ir pra longe, quer estar aqui...
Qto as amigas lindas...espero poder ser uma delas...que vai segurar seu braço pra que vc não caia do abismo. Pelo menos hoje, não.
Amanhã vc estará no outro extremo, pode crer. Não to tentando vir com aquele discursinho armado, não. Longe de mim.
Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que.
Amanhã é outro dia.
Te amo!
Beijos

Anônimo disse...

Eu concordo com a ausencia de sentido nisso tudo. Bem que podia ter alguém para explicar, algum botão help, roteiro ( para agente ter algum papel na peça), manual de instruções, data de validade para todas as coisas. Chega de perder tempo com a vida insignificante.
Bjos

Anônimo disse...

oi, achei seu blog por um coment teu no blog da Leandra.
Adorei muito, me senti varias vezes assim, não tenho esse apego a vida, e sofro pelos outros (meus pais) q com certeza iriam sofrer demais.
Um abraço e desde ja fico assídua desse blog.

Anônimo disse...

OI!!
Será sadismo demais dizer que gostei do seu texto?? Mas é verdade! Eu acho que entendo você, já tive momentos desses, só que não desejando uma parada cardíaca. rsrs E nem me fale nesse filme!!! Ahhhhh Dançando no Escuro!!! Eu chorei por três horas seguidas!!!! O que aquela personagem faz para o filho dela é quase que surral. Ela literalmente morre por ele!! Não sei se estou falando coisa com coisa, não sei explicar esses sentimentos e nemdizer se são certos ou errados...
Beijokas, linda!!
=]

Anônimo disse...

FÊ!!!
De todos os textos que vc já escreveu,de todas as coisas que já senti com eles,esse foi o que eu,verdadeiramente,me identifiquei em cada linha,cada palavra escrita e não escrita!
Às vezes eu sinto uma dor tão forte,mas tão forte mesmo no meu coração que eu desejo morrer pra acabar de vez com aquela dor!E sabe,pra falar a verdade,eu estou morta em vida.Eu sou como um peixe fora d'água...que se debateu,debateu,debateu e morreu.Tento explicar isso,mas ninguém consegue entender realmente.Ninguém consegue sentir o que o outro sente,nossa dor é única,toda vez que eu penso nisso,sinto uma solidão imensa...antigamente eu queria fugir dela,hj eu nunca a desejei tanto!
Eu desisti!Eu abandonei!
O sentimento de ingratidão eu tb sinto...só não sei se eu sou ingrata com a vida ou se ela é ingrata comigo.Pq o que é pior:ter tudo,menos o apego à vida,ou não ter nada,mas mta vontade de viver?Acho que a primeira opção!:(
Eu gostei mto do filme "Dançando no Escuro",chorei mtoooo,de soluçar,nunca vi um filme tão triste qto esse!Qta vida pulsava dentro da mulher,qto amor,qta força e lhe tiraram isso,a silenciaram...incomoda ver tanta vida pulsando em alguém!E dentro da gente,nada,nem um espasmo se quer,apenas um vazio que dói.
Desculpa eu desabafar aqui,mas é tão difícil falar sobre isso com as pessoas,a maioria se choca,se chateia,nos julga.Há um tempo atrás,eu sentia a vida correndo em minhas veias,uma sensação maravilhosa,nunca antes sentida,mas hj a vida se foi,se perdeu.Falando dessa maneira,soa depressivo,mas não,nem tristeza eu sinto mais,tudo o que eu sinto é superficial,não tem profundidade,e é falso.Pseudo sensação de felicidade,pseudo sensação de tristeza,é td falso,tudo uma mentira.Meu amigo uma vez me disse que estava se sentindo como uma flor de plástico,na época,eu não entendia mto bem isso,mas hj não encontro melhor definição pra mim.O peixe fora d'água morreu e virou uma flor de plástico!Pronto!Essa vai até pro meu nick,hahaha
Ai,Fê,me perdi na superficialidade de minhas palavras,eu acaricio a ferida,mas não a aperto!
Bom,fico por aqui,já escrevi demais!
Bjokas!
Te adoro mto!