segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Centro. Miolo.
Rua Augusta. Podre de Sampa.
"O beijo do lixo na boca do luxo". Ou seria o beijo do luxo na boca do lixo?
Sempre assim.
Décadence avec Élegance.
Meninos-homens de olhos pequenos.
É muito fácil se encantar com alguém de boa aparência.
É o defeito da beleza.

Na Augusta a vida pulsa escancarada.
Muito vaidosa a vida se mostra toda nua. Crua.
Em cada porta uma luz vermelha, embaixo de cada luz um corpo se apresenta.
Tão cruel e nu quanto a vida em são paulo.
Mas esses corpos malandros já não tremem de frio.
Estão habituados às durezas cotidianas.
Não há nada lindo ou de decente nisso. Mas não há nada de indecente também.
São apenas elas que acharam o meio mais econômico de fazer dinheiro.
Usando algo apenas seu. Sem explorar nada além daquilo que elas mesmas possuem.
Pessoas normais. Com bom gosto ou não.
Estão ali. E assim como os mendigos, não podemos fingir que simplesmente não estão.

Na real não somos nada diferentes deles e delas.
Buscamos sim dinheiro, eternamente.
Nos vendemos, nos prostituimos ao meio corporativo sempre que aparece uma perspectiva um pouquinho melhor.
Esmolamos e nos oferecemos por inteiro por amor e ainda não ganhamos nada com isso.
Fazemos tudo isso e, ainda pior, não temos coragem de assumir e ainda adotamos essa posição moralista hipócrita.
Quando exploramos algo, além de nós, exploramos os sentimentos, as idéias e energia dos outros.
Somos cretinos de primeira linhagem.
Na vida profana há muito mais sinceridades do que nos mais altos escalões da sociedade.

Isso vem me dando uma preguiça do ser humano.
Uma preguiça de fazer social. Preguiça de fazer joguinhos.
Esses joguinhos todos têm sempre uma intenção cafajeste por trás.
E nós ainda assim, nos rendemos, nos entregamos, nos vendemos ou compramos.
Estou cansada disso...
Estou cansada dos jogos de paquera, das palavras carinhosas desses caras que só querem aquilo no fim. Ou antes mesmo do começo.
Que querem a mim e além de mim todas as minhas amigas.
Que querem sempre "a garota mais popular ou a mais bonita do baile".
Estou cansada dessas pessoas que se rendem facilmente à beleza.
Estou cansada das atitudes motivadas por interesses. E todas as atitudes têm isso em comum.

Estou cansada desse mundo que se vende e se troca e se entrega e se quebra todas as vezes pelo dinheiro. Pelo sexo. Pelo consumismo. Pelo status. Pelas futilidades.

Estou cansada desses caras e dessas mulheres todos iguais. Fazendo jogos iguais.

E isso está em todos os lugares. Contaminando todos os paladares e ambições. Está entre as pessoas que eu conheço, está entre os intelectuais (todos eles), está dentro da minha família, está na mente e corpo de minhas amigas, está nas aspirações daqueles que gosto.

E não importa aonde eu vá, continuo sentada do lado de fora da roda gigante.

Venho perdendo a capacidade que eu tinha de sonhar, de fazer planos.
Tudo vêm perdendo o sentido gradativamente.
As pessoas têm ambições. As minhas vão e voltam.
Não consigo descobrir meus dons, minha vocação.
A vida vêm sendo simplesmente uma sucessão de dias.
A cada dia tenho vontade de ir mais fundo. Além.
Imagino que seja muito fácil se adquirir um vício. Pois é muito fácil ter uma desculpa ou qualquer algo que te faça esquecer dos problemas, das pressões, das cobranças.
Por isso mesmo me mantenho bem longe dessas coisas.

"Muitas companhias"
Na verdade não tenho nenhuma.
Não há nesse mundo alguém que realmente me acompanhe.
Que me aceite, que se importe.
E eu acho tão fácil aceitar e não cobrar nada de alguém.
Isso me afasta mais ainda da roda gigante.

Isso só faz aumentar ainda mais o deserto cheio de dunas aqui em volta.
Assim, vou me entregando aos pouquinhos e ninguém percebe. Assim é bom porque ninguém condena minha entrega.
Até o dia que eu sumir. Virar areia. Me misturar ao deserto.
Por enquanto não consegui encontrar o meu sentido nesse lugar.
Não faço bem ou mal a ninguém. Não causo grandes emoções. Muito menos grandes paixões.
Não faço ninguém rir. Muito menos chorar.

Por mais que pai e mãe amem eles nunca aceitam, nunca entendem.
Por mais que amigas sejam divertidas juntas e te apóiem elas nunca enxergam o tanto necessário.
Dos homens não vou nem comentar pois a decepção com estes é tão grande que eles foram rebaixados ao posto de simplesmente amigos e objetos úteis esporadicamente.
Perdi meu caminho há muito tempo. Eu tinha 15 anos e nem quero jogar a culpa em ninguém não.
Pois foi ali que eu vi que não valia a pena e foi ali que joguei tudo para o alto.

"Sou joguete do destino".

A vida não pulsa mais em mim. Pulsa apenas na Augusta, no centro, nos textos de certos bebuns brilhantes, pulsa nos palcos dos teatros, no sangue das personagens.
Eu sou só um cavalo, uma mula para tudo isso.

3 comentários:

Duli disse...

acho q essa sensação é fruto de muita coisa, coisas misturadas. sei pq minhas sensações são assim, e vão e vem, sem fim.
tudo pode soar como demagogia agora, pois não há conselho q mude as coisas, certas horas. elas partem da gente.
só te digo q demora um pouco até achar o lugar no mundo, vamos duvidar de mta coisa e vão querer nos fazer desistir.
é preciso seguir os dias e fazê-los especiais em algum momento.
cada ação vem seguida de uma reação, as vezes de decepção, mas o importante é ser firme e acreditar em si.
as coisas partem da gente, de dentro da gente, depende de nós.
bjo grande

Karina Zichelle disse...

OI!!
"Na vida profana há muito mais sinceridades do que nos mais altos escalões da sociedade." Concordo plenamente!!! Mas não pense que estar de fora da roda gigante seja coisa ruim, oh não, pelo contrário. Vc é capaz de enxergar toda esse estupro de moral que existe no mundo, essa alienação coletiva que fomos educados a aceitar e que às vezes acabamos por educar os outros. Vc está mais próxima do ser livre do que pensa. E isso é muito, muito bom!!! Enxergar a podridão da humanidade não é algo fácil e são poucos os que a admitem. A maioria prefere se enganar e "ser feliz", é mais fácil ser ignorante, fechar os olhos, e "aproveitar" do que saber das coisas,pois isso exige forças. E eu bem sei disso. Estar fora da roda gigante a torna especial, afinal para que ser normal quanmdo se pode ser especial?
Beijokas, linda!´
Ótimo texto!
Parabéns!!
=]

Erika Horn disse...

Augusta, quanto custa pra curar a minha dor?
Augusta, quanto custa um pouco de amor?
...
Como são putões os guris..mas são fodas também.