quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Há muitas pessoas escrevendo sobre o silêncio e a solidão por aí.
Há muitas pessoas escrevendo sobre o silêncio e a solidão.
Há muitas pessoas escrevendo sobre ficar em silêncio e curtir o silêncio. Sobre meditar em silêncio. Sobre ficarem sozinhas em casa meditando no silêncio.
Curtindo sua solidão e seu silêncio. Meditando.
Descobri que preciso aprender a fazer isso.
Pois não sei.
Não sei ficar em silêncio. Não tenho silêncio.
Não sei da solidão boa de se curtir.
Sei ficar em silêncio e tenho solidão.
Talvez até sofra de solidão, mas não sei curtir isso.
Tenho uma casa sempre cheia de gente. Me pedindo mil coisas. Me cobrando mil coisas. Perguntando mil coisas o tempo todo.
Raramente tenho um momento meu.
É como se tivesse um ruído constante no meu cérebro.
Mesmo quando estou completamente sozinha e não tem ninguém cobrando, perguntando, pedindo, falando mil coisas. Há esse ruído.
Um ruído constante no meu cérebro.
Sinto solidão. Constantemente. Mas não aquela boa de se curtir. De fazer o que quiser sozinha em casa. De comer na hora em que quiser.
Nunca como na hora em que quero. Há sempre um horário imposto para isso.
Nunca tenho a liberdade de fazer o que eu quiser.
Há cobranças demais de todos os lados.
Não sei dormir até tarde.
Não posso nunca voltar para casa no meu horário.
A casa nem minha é. Estou lá de favor aos meus pais.
Até eu ganhar dinheiro suficiente para me libertar.
Mas não há dinheiro suficiente nessa cidade.
Não na minha conta.
Sei muito bem ficar em silêncio.
Suporto muito bem minha solidão.
Mas não tenho tempo ou lugar de curtir um ou outro.
Sou constantemente subjugada.
Constantemente cobrada.
Acho que preciso comprar um gato e um apartamento vazio.
Me internar com o gato no apartamento por um mês para aprender a ter um momento só meu.
Quando eu tinha um carro para usar eu tinha minha solidão e meu silêncio.
Aquele momento só meu dirigindo na Marginal, na Paulista, na Consolação. Sozinha.
Meu carro era meu refúgio. Minha liberdade. Minha paz. Mesmo que fosse por 20 minutos (o tempo que eu levava para chegar a qualquer lugar). Desafiando os únicos limites que eu tinha coragem de desafiar (a velocidade).
Não tenho mais nem isso.
Tenho só um ruído na minha cabeça que não me deixa nem pensar, nem trabalhar, nem sentir.
Só ruído.
Tudo ruído.

2 comentários:

Duli disse...

deixa eu só fazer uma pausa antes de comentar o belíssimo e sincero texto. aliás, essa é uma característica única e extrema sua: a sinceridade. admiro isso. contar suas angústias sem medo. ah, é, eu ia comentar: vc leva 20 minutos pra chegar a qq lugar da cidade? como assim?

então. as pessoas possuem mtas particularidades e não saber ficar só pode ser uma particularidade sua. isso te atrapalha? nem sempre conseguimos seguir um ritmo de vida q não nos pertence. vc é uma pessoa que busca novidades e vivência com os outros humanos.
acredito q é disso q goste. não lute contra seus gostos. no mínimo adapte-os. sério. vc está trilhando o caminho da independência e o passo mais importante vc já deu: nas atitudes, mudou o modo de pensar e sentiu mais segura. pro restante, é um pulo.

beijos

Karina Zichelle disse...

às vezes eu não gosto do silÊncio e da solidão, porque me perco em mim mesma. às vezes tenho medo de ficar sozinha. às vezes eu sei que dou conta de tudo sozinha, outras vezes eu não quero ter de dar conta de tudo sozinha...independência... como eu queria escrever a minha carta de alforria. Eu acho deprimente ter de ter dinheiro para ser livre!!! eu sou livre de espírito, assim como você, linda. livres por natureza! Que mesmo vivendo nessa prisão temos nossa conscieência livre. Esse algo a mais que temos e que nos define, isso ningué pode tirar de nós. Podem dificultar nosso caminho, mas não nos podem impedir!! JAmais! Só sei que a única dep~endencia pessoal que devemos ter para viver é a de nós mesmos. O viver com os outros, as relações que vamos tecendo ao longo dos anos, são lucro! Assim, jamais estaremos no prejuizo. Somos bom o bastante sozinhos e melhores ainda acompanhados!!
Beijokas!!
Te amo, amiga.
Obrigada pelo comentário. Li o texto no blog da Fernandra D'umbra, é muito bom...
^^