quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

"Desperdícios"

Uma borboleta dança um ballet descompassado para o vento.
Uma senhora idosa sorri desdentada.
O café esfria no copo.
O sol brilha para a areia do deserto.
Uma criança canta em francês.
A menina rica que ganha um porsche ao fazer 18 anos e comprar sua carta.
O relógio acelera seus tic-tac's.
Uma linda poesia é roubada.
O beijo é rejeitado.
Um garoto asmático perde sua bombinha.
Uma menina com o rosto e o corpo queimados se olha no espelho todo quebrado.
O circo deixa a cidade enquanto o palhaço lava a pintura do rosto.
A televisão ligada durante a madrugada numa casa vazia.
As cordas do violão arrebentadas.
Lindos scarpins vermelhos esquecidos no fundo de um armário.
As ondas tocam silenciosas e mansas a areia da praia.
O jantar silencioso do casal maduro que rumina pensamentos e mágoas.
Flores raras e coloridas crescem em uma praia deserta.
Um avião desaparece no triângulo das bermudas.
A princesa persa que queria um castelo de chocolate.
A criança que vai ao chão inerte no encontro com uma bala perdida.
O pescador que não retorna do mar enquanto a esposa espera na pedra do cais.
A noiva que desiste do casamento a caminho da igreja.
Os olhares trocados com ele enquanto o vinho escorrega pela garganta.
Uma camisinha que estoura.
O silêncio que precede a chuva.
O executivo que nega moedinhas de cinco centavos ao moleque de rua e dá um colar de diamantes para sua amante.
A tinta escorre do quadro destruído pelo copo d'água desastrado.
A menina que gesticula com charme enquanto fala.
Os cães que uivam anunciando o terremoto.
Um homem que chora ao ver sua mulher quando volta da guerra.
Os médicos que contam piadinhas tomando café enquanto uma criança morre de tuberculose na fila de atendimento do hospital.
O satélite que sai da órbita e corre em direção à Terra sem controle.

Continuamos de olho...

Um comentário:

Duli disse...

amiga salseira dançante...
vejo por outro ponto: desperdício para uns pode ser sorte para outros.
o universo inteiro conspira por razões desconhecidas que, mesmo questionadas, resultam em boa coisa.
ta, não fez sentido nenhum, mas...
beijos