quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Acorda. Enrola na cama.
Mais cinco minutinhos.
O despertador gritando.
A mãe gritando.
Levanta.
Se arrasta até o banho.
Cochila em pé debaixo da água quente.
Se apressa para não perder o horário.
Inútil a pressa. O horário já está perdido.
Ela já está perdida e o dia ainda começa.
O ônibus atrasa uma hora só para contribuir com o stress matutino.
Conhece pessoas na rua que sempre esperam muito tempo.
Que sempre esperaram e não têm saída, alternativa, opção.
Ela sente compaixão por aqueles pés de galinha, pelos riscos na testa, pela postura de dor nas costas.
Sente vontade de chorar. Mas só consegue esboçar um sorriso solidário à dor alheia.
Os olhos dos outros, donos de tantas rugas e preocupações, não entendem o olhar triste da menina e sorriem sem graça, em troco ao sorriso que marca o jovem rosto dela.
Sobe no ônibus. Abre os últimos tempos do velho Buk.
Ipod no canal auditivo. Bjork embala sua manhã.
Ônibus quebra (!). Rosna.
Agradece ao universo por existir a música e Bukowski.
Chega no trampo sã e salva.
Enfrenta mais uma vez, mecanicamente por fora, redemoinho por dentro, o cotidiano.
Os mesmos rostos. Os mesmos gestos. Os mesmos sorrisos amarelos.
A mesma posição, o mesmo computador.
As mesmas ladainhas. O mesmo toque do telefone. Os mesmos problemas.
E-mails lotam sua caixa de e-mail e entopem sua paciência.
Mais do mesmo.
Ela lembra da cena do baile do "Romeu + Julieta" de Baz Luhrman.
A drag, amiga do Romeu, dando showzinho e mechendo o dedinho.
Eles se casam e Julieta vai para o céu com o bolso cheio de pílulas e os miolos espalhados sobre Romeu.
Ela pensa no Romeu que não tem. Que, por isso, não choraria por sua morte.
Ela morre por dentro mais um pouquinho.
E naquelas pequenas mortes dela, não há presença alguma.
Não há olhar triste ou compaixão alguma.
Há só solidão... enquanto a roda gigante se mantém rodando iluminada e ela permanece sentada nas dunas do deserto. Só olhando as pessoas vibrarem lá no alto.
Deixa elas acreditarem que estão voando e que a cidade é colorida.

3 comentários:

Ximene disse...

Nossa...
Li esse post e por um momento pensei que eu própria havia escrito...
Pq todo dia é a mesma coisa... A mesma preguiça de sair da cama, o mesmo atraso, o mesmo ônibus, as pessoas com olhares tristes e distantes... Meus pensamentos ao léu... A diferença é que vc ouve boa música... Pq eu sou tão sortuda que sempre pego umas lotações tocando aquele pagodão ou sertanejo... Pra começar o dia bem...
A rotina me aprisiona e a vontade que sinto é de gritar, correr, sumir...
Mas fazer o que, é preciso aturar e se submeter ao jogo da vida...
=/
Bjo!

Karina Zichelle disse...

Oi...
Ando tão a flor da pele, ando tão desanimada, que nem sei direito o que comentar... Essa sensação que nos enforca, que nos dá vontade de gritar, jogar tudo pro alto e sair por aí, livre!!! AAaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhh
Maldito mundo moderno e suas complicações!! Antes vivessemos no velho oeste, cada um por si, fazendo nossas próprias leis. Acho que vou largar tudo, sair por aí e fundar uma comunidade livre, sem esses atropelamentos sociais e obrigações. Por isso que eu amo Buk!!

Beijokas, amiga!
Saudades de ti!
Te amo!
=]

Blower's Daughter disse...

Oi,Fê!
Uma vez escrevi um texto,tratava de rotina,solidão...A personagem,sem nome,havia se perdido na rotina,havia se dissipado...Nos acostumamos qdo as coisas são sempre iguais,ficamos presos numa "vida" que nem ao menos sabemos se escolhemos ou não,presos num caminho que eu não sei se tem volta,acho que qdo perdemos nossa essência,é irreversível,assumimos então uma "personalidade" que nem é nossa,o que é nosso?Ai,minha nossa,comecei a viajar demais já,hahaha...sorry!
Bjokas!
Te adoro!