sábado, 27 de março de 2010

25/03

MINHA CIDADE ASSUME UM ASPECTO LONDRINO E MELANCÓLICO, ALGUMAS VEZES, E ME CONQUISTA.
Me re-apaixono. E então parece chover. Parece nevar. Parece que o asfalto, molhado e negro, consegue obscuramente refletir o céu. Tão negro que parece que vai engolir os carros num buraco infinito e cuspi-los na China.
Fica tudo cinza. Imitando meu peito. O transito pára e a chuva desce pra sussurrar segredos nos ouvidos das copas das árvores. Quando chove assim, o paulistano derrete e só a natureza tem vida. Quase consigo ouvir o relinchar dos cavalos agitados no Jockey Clube, pedindo aos tratadores um banho de chuva. Pedem a mesma liberdade que exijo ao cosmos. A liberdade de um banho de chuva. Sem roupas sociais ou limites de horários. Sem julgamentos de chefes. Apenas a pele e a chuva em contato, dançando loucamente, se lambendo e escorrendo. Infelizmente, as obrigações e a correria, falta de tempo e de espaço, fazem parte da arte e do charme dessa cidade. Sobra apenas olhar pela janela a linda vista cinza e úmida das ruas que correm afoitas e molhadas sob nossos pés.

22/03

Eu gosto de quem gosta da rua.
Não nasci pra casa. Fico desorientada.
Morro no sofá.
Agora, na rua as coisas são diferentes.
Tem cheiro, tem sabor. Há muita luz e um rumo.
Qualquer rumo pra seguir.
Então eu sempre vou pra rua e sigo todos os rumos.
Nem certos nem errados, porque eu não acredito nessa dicotomia.
Somos só nós dois. Eu e o pavimento.
As pessoas na mesma calçada são mera coincidência.
Dessas coincidências gostosas que nos fazem rir e não deixam que as pedras nos sapatos doam tanto.
Resido nas ruas.
É na rua que me encontro, me escondo e me perco.
O movimento, o barulho e a vida.
As ruas salvam.

18/03

Uma saudade de mim, fina como a chuva, instalou-se em um lado desconhecido meu
Curiosamente, eu não fui a única a sentir essa falta
Cortei arestas
Desamassei vincos
Desfiz algumas rugas
Buscando o que parecia mais certo
Pra mim
Porque falar amém é coisa de santo
Coisa que eu não sou
É nova fase
De unhas negras
Heranças de Coimbra
De quatro
On fire
Mais ballet e le tutu
Agora me permito cafés da manhã de domingo
E cafunés, na cama
Mãos e pernas, braços, pêlos, lençóis
E desmaios
Por todos os lados
Estou mais nua
Crua
Mais autêntica
Não me vendo
Não sou vencida, vendida, nem estou vendada
E as pessoas não agüentam
Mas eu avisei que não seria fácil
Viver não é fácil
Mas a gente dificulta bastante também
Auto-sabotagem, manja?
Pois é
Pois eu parei
Me livrei dessa palhaçada
E garanto que muito do que está ao redor
Vai agüentar cada vez menos
“You win, you lose”
I’m just trying to win
Pois tenho muitas idéias
E muito amém pra ouvir.

Folhas de árvores suaves ao vento

Olhos incrivelmente claros me encaram no espelho
Os acordes de “Você me faz tão bem, você me faz tão bem”
Não saem mais da minha cabeça
Até me permito ser um pouco mais brega ultimamente
E usar roupas que parecem garimpadas no guarda-roupa da minha avó
Cores mais suaves
Que combinam com meus olhos
Menos duros
Há paz em torno
E eu finalmente consigo tomar decisões
E distribuir pingos em i’s rebeldes
Ando por aí bem mais francesa
Saindo à francesa também
Pois conheço bem meu lugar
E sei que não preciso insistir em outras coisas
Sei que posso simplesmente sentar ali do lado de fora
E fumar meu cigarro enquanto as pessoas passam
Admirando minha maquiagem bem feita.

Petit poi, o rabo de cavalo e a pequena saia de tule

E com seu casaquinho de petit poi ela ouvia Elvis enquanto flertava com o moço mais velho e casado.
Arriscava e provocava, mesmo sendo ele casado, mesmo ela sabendo de tudo isso.
Porque ele era seu número. “Feitinho” pra ela. Tocava baixo. Não era qualquer coisa.
Porque ultimamente muitos desses eram pura tentação.
Casados ou solteiros. Apenas tentação.
Tudo porque seus olhos andavam mais claros.
Fenômeno curioso esse, ainda mais quando era algo cada vez mais freqüente e, por quê não dizer, delicioso.
Ela sabia que esse brilho todo vinha dele.
Ele que fazia bem demais a ela.
Que estava tentando enfeitiçá-la, sem saber como as conseqüências de seus feitiços poderiam ser bem sérias também.
Ela espairecia tudo isso, o feitiço e as cantadas, janela abaixo.
Vista aberta, afora.
Um cidade correndo a seus pés. Ela correndo contra a cidade.
A pele e os cabelos cada dia melhores, seus olhos mais e mais selvagens.
E claros. Um céu com uma força mais azul. O sol que veio acordá-la em meio a risadas, beijos e nudez.
O coração amansando, mesmo sem querer.
Pensava em como suas pernas e corpo conquistavam mais atenções.
Era mais do que isso. Era de dentro. Era o fumar seu cigarro sentada olhando para as árvores.
Era dominar a chuva que molhava a cidade enquanto ela também se molhava.
Era a descoberta da essência pura e puramente artística.
Olhar para os próprios pés e ver que eles tomavam forma e jeito.
As mãos já bem delicadas desenhando o ar e as palavras.
Então ela acordou, tomou seu café da manhã norte-americano, vestiu-se e maquiou-se como boneca.
Provocou todos os outros. Porque sabia bem quem era aquele único que a merecia.

F.

Mais uma vez,
Com a cara no chão.
Um coração sujo.
Porque o amor é mesmo uma porcaria.
Mais uma vez, vendo que não tenho em quem confiar.
Porque as pessoas só querem tirar uma com a minha cara.
Vou mandar enterrarem meu coração.
Em praça pública. Uma pisada a mais não fará nenhuma diferença.
Está morto mesmo.
Mesmo depois de pedir pro diabo desistir da sua alma.
Mesmo depois disso.
Só o espelho viu a maquiagem escorrendo.
Só o espelho que viu.
A paisagem aqui ao lado é tão linda
Que eu quase acredito que não preciso de você
Num pulo só
Sem pára-quedas ou asa delta
Dessa janela eu vou
Deixar meu peito encontrar o chão
Pra lá embaixo enterrar seu nome
E(m) meu coração.

É disso tudo que falo

Em 08/03

Excessiva. Algumas vezes posso ser excessiva.
Excessivamente dengosa, excessivamente carinhosa, excessivamente fria.
Excessivamente insistente e/ou teimosa. Charmosa. Francesa.
Excessivamente mimada... ou mesmo exigente.
Cara de pau, grossa, bruta, indiferente.
Pensativa, arrogante, pedante, metida, pretensiosa.
Distante. Muito distante. Excessivamente distante.
Às vezes posso querer apenas me fundir a você.
Outras posso não querer sequer um olhar seu.
Interesseira. Descaradamente interesseira.
Exibidinha, abusadinha, narcisista.
Low profile. Fútil. Descabidamente boba e fútil.
Me importar demais ou de menos.
Excessiva nos desejos, a ponto de perder horas ou arriscar a vida.
Alegre. Hiperativa. Impulsiva. Desatenta. Nem aí, mesmo.
A verdade é que meus excessos moram na minha única e mais forte paixão.
Sou excessivamente atriz.
Pretensiosa? Sim..
Mais uma vez pretensiosa.
Excessivamente.
Mas atuar mora em mim. Mora nos meus gestos, mora nos meus olhares, mora nos meus pensamentos, nos meus sorrisos e nas minhas provocações. Mora no meu destino e na minha verve.
O sangue corre em excessos nas minhas veias. Todas elas.
E nesse sangue mora a arte. Esse sangue me eleva na dança, me firma no palco, me grita na voz, me expande o peito ao mundo.
E a arte, por sua vez, excessiva dentro de mim ultrapassa todos os limites, os limites do meu corpo e do espaço.
Somos uma coisa só, eu, a arte, meu sangue, o ar, o som, os sentimentos e o excesso.

Céu de cetim

Em 04/03


Abre a porta.
Sorrisos a aguardam.
Caminha até o vestiário. Música em bom tom.
Sapatos e sapatilhas. Meia calça e collant.
Um copo de chá, já devidamente trocada.
Risadas de outras meninas.
Confissões em corredores.
Sensação acolhedora.
Uma sala com espelhos nas paredes.
Mais música. Escolhida.
Aquecimento e alongamento.
E primeira posição. Segunda, terceira.
Battement. Pas de Burrée.
Pas de Chat. En Croix.
Degagè. Arabesque.
Meia ponta. Demi plié.
E plié... plié... plié.
Bater cabeça e Pirueta.
Barriga para dentro. Joelhos para fora.
Alonga a coluna. Postura. Vetores.
Olhos para o horizonte.
Dor. Alonga mais. Saltos.
As pernas tremem, os pés reclamam.
O peso do corpo, mesmo emagrecido, triplica.
Não se esqueça de contar, menina, seguindo a melodia.
Uma professora linda.
Muitas coisas novas. Dores novas também.
Olhos brilhantes de paixão e aprendizado.
Generosidade. Reconhecimento.
Sua idéia de paraíso é bem próxima disso.
Sua idéia de paraíso é um palco bem grande.
Céu de cetim. Céu de fitas e tulles.
Sempre sonhou voar.

Em 03/03

Uma vez um amigo meu disse sobre os homens:

“Cachorro de raça tem dono.”

Minha resposta?

Perdoem-me os donos, mas eu sou vira-lata.

Dedicatória

Ainda em 01/03...

Para Kik’s...

O amor não presta.
Exige coragem. Daquele tipo de coragem verdadeira. Não da coragem de montanhas russas ou de matadores de leões e animais peçonhentos. Coragem de verdade. Daquelas que só uma menina com olhos cor de ouro líquido teria. Daquelas que só uma menina que tem força para entregar o corpo ao prazer por puro amor teria. Daquela coragem que só uma menina que nasceu pra ser uma mulher bem grande e madura e forte teria.
O amor não presta. Mas exige coragem.
Daquele tipo de coragem que só um tipo de pessoa sabe ter.
É de você que eu tô falando.
Os outros são simples covardes.
Nunca vão saber o que é vida. Coisa que jorra de você.
Um beijo. Estou aqui de ouvidos atentos e olhos bem abertos pra você, amiga.

Atmosferas

Em 01/03


E eu não fui.
Eu que disse que ia. Que queria estar entre os meus.
Porque sou deles e eles são meus. De uma forma ou de outra reconhecemos que sim.
Porque somos queridos e não queremos nada em troca.
Estamos ali pela diversão, pela afinidade.
Simplesmente estamos.
E mesmo depois de longos meses de sol e chuva, sem qualquer forma de contato, nos vimos como se a última fofoca tivesse sido dividida nessa madrugada.
Como se o afago nos cabelos ou o calor do abraço ainda estivesse presente e quente na pele.
Porque estava.
Mas não fui. Porque meus lábios foram monopolizados e minhas vontades ficaram amarradas.
Porque choveu de forma fina e gélida.
Porque minha razão lutava contra meu organismo, contra minha fisiologia e dizia coisas insanas à minha sorte.
Porque eu tinha mãos e palavras por todos os lados, mas eu ainda me sentia a pessoa mais sozinha e cúmplice daquela atmosfera.
Porque ao redor disso tudo tinha cansaço. Muito cansaço.
Então não fui.

Em 17/02

E assim, com a concentração de uma pipoca, ela partiu, em direção aos dias frios
Porque fazia calor demais
Depois que ela decidira abraçar o mundo, viu que esse largou todo seu peso nos ombros dela
Então partiu
Os dias frios tinham algo de atraente em suas cores
Algo refrescante, como se fossem a composição de um espírito jovem
Tudo que ela precisava
Diferente do seu espírito tão cansado e surrado e quente
Algo novo e fresco
Como raspadinhas de morango
Ou a neve, ou mesmo um ar condicionado gelado
Nas costas
Um dia bem branco e cinza, sem chuva
Só frio

Em 09/02

“E, do nada, ele é acometido por uma motivação desconhecida, bem no meio de seu dia, e envia um e-mail com apenas uma palavra:

!Delícia!

Ela, totalmente surpresa, rola parede acima de rir e, não podemos negar, acha toda a situação muito interessante. Igualmente interessante, a palavra escrita ativa um dispositivo em sua mente, jogando cada um de seus pensamentos aos céus, em meio a deleites e memórias. Memórias de brincadeiras, línguas, arrepios, movimentos, respirações, frases soltas, claridade do dia penetrando as frestas da janela, sons proibidos, descobertas, toques, quente e frio, insistências, pedidos e muitas satisfações. Uma vontade irresistível a amolece. Vontade de cama, vontade de inexistência das horas, inexistência de preocupações e perigos, vontade maior de reprise em câmera lenta.

Em outros tempos, quando os sentimentos não eram saudáveis...

Todos os dias, as pessoas me perguntam:
Por que você não namora?
Tenho certeza que vocês não vão querer saber a verdade.
Porque as pessoas tem problemas com a verdade, não sabem lidar.
Por quê? A razão é simples. Vaidade.
Por isso a verdade dói tanto, porque fere a vaidade.
Qual a relação disso com a pergunta feita ali em cima?
Hahaha

Agora, respondendo aos curiosos de plantão:
Porque eu sei somente ser leal. Não sei ser fiel.
Porque eu tenho medo de me comprometer.
Porque eu uso as pessoas (não se espantem, vocês também usam).
E não gosto de iludir.
Porque eu só sei amar coletivamente. Porque eu não amo um mais do que o outro.
Porque eu não suporto expectativas e pressão. Principalmente dos amigos que metem o bedelho.
Porque tenho alma de Frida Kahlo.
Porque não conheci alguém com coragem. Não aquela de heróis que salvam o mundo. É da coragem de verdade que eu tô falando. Tenho mais culhão que muito homem por aí.
Porque eu não quero ser vista como um casal.
Porque sou um indivíduo. Indivisível. Que sempre existiu. E sempre foi cheia de opiniões árduas e próprias e únicas.
Independente de quem está ou não ao meu lado.
Porque ninguém é igual a ninguém. Eu não sou. E todos em volta começam a dizer: Nossa, como eles são parecidos, nossa isso, nossa aquilo. E quando você perceber, fundiram os dois numa coisa só, sem sal e sem idéias independentes.
Porque ele usa seu MSN, se mete no seu Orkut, fica amigo dos seus amigos e quando você se der conta, sua melhor amiga já deu pra ele 732 vezes.
Porque depois que se começa a namorar você passa a ser visto como: o fulano e a fulana. Isso é simplesmente insuportável.
Todos os programas são em dois. As pessoas deixam de te chamar para alguns eventos, porque não sabem se o namorado vai gostar, ou usam a desculpinha eles devem estar fazendo sexo.
As pessoas tornam-se chatas e você menos interessante para o mundo. Para todo mundo.
Porque um dia você acorda só querendo beber e farrear e falar merda e tem lá um cara no seu pé, te agarrando, ou te beijando, ou te tocando. Ei, ei, ei! Que é isso? Eu deixei ou pedi pra você me beijar? Agora não... não vê que eu tô concentrada em me divertir ou em qualquer outra coisa!
E se eu quiser ir a um show sozinha?
E se eu quiser ir pro bar tomar meu uísque com alguns bons amigos e conhecer gente nova? Passar mal?
Dar vexame?
E se eu quiser fazer uma música ou um texto romântico para ninguém, assim descompromissadamente?
Ou para alguém diferente? Pela simples vontade de criar algo diferente?
Viajar pra longe? Sumir do mapa?
E se eu não quiser fazer sexo, só assistir televisão mesmo?
E seu eu quiser ter paz?
Porque, independente de quem está ao meu lado, eu vou fazer isso e quero fazer isso.
Porque sou humana e tenho desejos, tenho impulsos, tenho vontades.
Porque o mundo tem bilhões de possibilidades e de pessoas com seus universos interessantes.
Porque amor-amor mesmo, pelo menos a metade dos que estão lendo isso aqui não sabem e nunca saberão o que é.
Porque eu já aprendi e já senti e já doeu e já perdi e já morri um milhão de vezes no mesmo instante.
Porque amor-amor mesmo é insubstituível e inexplicável e imperdível e incomparável e não sufoca e não se cobra nem se julga. É assim mesmo, num fôlego só, porque é intenso e suave, e eu juro que não me refiro à parte carnal.
Não há jogo e um não rouba a energia do outro. É equilíbrio. Porque um não precisa do outro, porque não são necessárias explicações ou satisfações, porque um não espera nada do outro. Não se agregam, pois já são completos.
Simplesmente estão ali. E mesmo que nunca se toquem ou nunca mais se falem, um sorriso basta e ilumina uma eternidade.

Então, por favor, parem de perguntar por quê eu não quero namorar o fulano ou siclano ou beltrano. Eu também tenho o direito de escolha, de liberdade, de sentimento. Também sou um indivíduo que pensa e existe e sente.
Mas isso ninguém respeita.

“Bebo para afogar as mágoas. Mas as danadas aprenderam a nadar.”
Frida Kahlo

Quanto tempo tenho
Prá matar essa saudade
Meu bem o ciúme
É pura vaidade


Se tu foges o tempo
Logo traz ansiedade
Respirar o amor
Aspirando liberdade...

Tenho a vida doida
Encabeço o mundo
Sou ariano torto
Vivo de amor profundo


Sou perecível ao tempo
Vivo por um segundo
Perdoa meu amor
Esse Nobre Vagabundo...

Em 08/02...

Quero asas
Tenho a concentração de uma pipoca
E deveres
Muitos deveres e obrigações
Escutar uma música inteira tem sido difícil
As mãos não param
Os olhos procuram
Os pés descontam no chão
Quero abraços
Mas meus braços não cabem em si
Cantigas a plenos pulmões
Sem estranhamentos
Ou julgamentos
Tenho o corpo todo amarrado
Socialmente amarrado
Então dói