quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Enquanto Buenos Aires dói no peito...
Tenho as manhãs apegadas aos sonhos. Não distingo o sono da realidade. Ainda mais quando são dias frios assim, nublados e cinzas, como sonhos. Saio de casa lutando para não mastigar os ramos e os galhos das árvores que vejo, enquanto Buenos Aires dói no peito. O fundo do meu olho direito pede silêncio à cidade. Mas tão incrível como é, e como só esse mundo sabe ser, nada silencia. Caminhando descubro egos inflados de Hélio, flutuando e assombrando o que havia de bom na cidade. As lembranças porteñas cortam meus pulsos. É quando as cores das construções, dos carros, das pessoas, do rio pinheiros, se misturam. Tudo vira um grande cinza petróleo. Mas sem a beleza ou poesia de um filme em preto e branco. Meu sangue escorre pelos meus pés como se fosse confete. Amor aqui não há. É vida que foi pelo ralo. Sigo buscando pessoas que tenham seus egos menores do que suas idéias. Que saibam que sentir não é coisa pra adolescente. Adultos decentes. Me encolho nas esquinas mastigando cigarros. Minha fome partiu pra longe. Nem a comida, nem os cheiros, nem os sons, nem as imagens ou as cores, nada disso me apetece por aqui. Eu não faço mais sentido quando penso, menos ainda quando falo. Eu sabia que faltava alguma coisa na minha vida. Sempre soube. O que eu não sabia é o estrago que a ausência poderia causar. Veio e perturbou meu juízo, minha cólera. Arrancou minha língua sem que desse tempo de sangrar. Estancou minhas energias, castigou minhas artérias. Um passo a mais não alcança. Não há rumo a escolher pois todas as ruas foram bloqueadas. As músicas dançam em mim como se meu interior fosse oco. Não importa quantas linhas eu desenhe, quantas folhas eu gaste, quantos suspiros nasçam de pesadelo após pesadelo, a frieza do meu travesseiro e dos meus pés. A lua vai me olhar todas as noites com aquele sorriso gordo e iluminado, toda cheia de si e vai me dizer: você poderia ler um livro embaixo da minha luz. E o apocalipse vai tomar conta do meu peito.
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