terça-feira, 26 de julho de 2011

Fui pega.
Me entreguei aos acontecimentos simples. Lugares comuns. Deixei de lado meus sonhos. Quase todos. Me vendi. Aceitei. Não ouço mais meu corpo, nem minhas vontades, meus impulsos. Deixei de existir. Me conformei com todo o resto. Me conformei com dormir, acordar, ouvir o que acontece na novela, me alegrar com os nascimentos dos filhos alheios, trabalhar. Não busco mais. Não tento ver diferente. Entrei para o fluxo daqueles que acordam, correm e morrem. Massinha de modelar. Não lutei pelo meu amor. Não mudei de país. Não tive bolas para largar tudo e escrever um livro. Para viver de arte. Para passar fome por arte. Aceitei o amor que tinha por aí. Qualquer amor, se é que há. Aceitei ser amada pela piedade. Não me reconheço mais, nem minha voz, nem minha pele. Aceito docilmente conversas triviais. Fui domesticada pelo chicote da impossibilidade e da inércia. Deixei carimbarem cifras em todas minhas células. Não penso mais. Não faço mais. Não luto mais. Sofro mais. Sequer existo. Enquanto alguns por aí morrem por viver demais, já morri por viver de menos.

4 comentários:

Karina Zichelle disse...

Minha noite se fez mais triste depois de ler isso.
E olha que hoje estou com dor no vazio, que a minha alma deixou, quando me largou e foi deitar-se escondida, encolhida debaixo de um banco qualquer dessa cidade fria.

Torço para que a vida volte a lhe sorrir, e se eu puder, eu peço pra vc passar na minha frente pra ser feliz.

Amo vc! Garota dos olhos de prata.

Nandalí disse...

Não consigo me desviar.Toda essa melancolia me atrai. Uma identificação que me recuso a assumir.

Anônimo disse...

Belas palavras! Mas ao mesmo tempo, tristes...se forem reais, talvez esta seja apenas mais uma das muitas fases ruins que permeiam nosso caminho nesta vida. cabe um pouco de sabedoria e muita coragem para sobrepô-la! Sucesso.

Serrano disse...

Muito pessimista!