domingo, 31 de janeiro de 2010











E assim, como o sol se põe, a menina que um dia amava dois homens deixou de amar.
Deixou de gostar de outros também.
Descobriu o terror que era cativar alguém e ficou com mais medo ainda de se tornar responsável.
Ou de responsabilizar.
Perderam-na, simplesmente porque era mais fácil perdê-la do que ganhá-la.
Porque a liberdade e a falta de espaço, da mesma forma que confundem, sufocam.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Asfixia



Sufocando
Not allowed
Você ultrapassa meus limites
Don't touch me
Não lhe dei liberdade
Minha liberdade
Tão minha
Meu corpo e minha pele
Tão meus
Você não me respeita
Anymore
I'm suffocating...

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Na existência

Eu queria um sinal
De que vai parar de doer
Tudo que mora aqui dentro
De que os medos vão acalmar
A tempestade vai baixar
Quero calmaria
“um amor tranquilo com sabor de fruta mordida”
Oferecer meu colo e ser embalada daquele jeito lento
Quente
Sem moscas sobrevoando meu pão doce
Cheiro de café invadindo a varanda
Sem contar horas
Crianças pulando amarelinha
Meu cachorro deitado ao lado
Suor e saliva se encontrando
Fundindo a tarde e a madrugada
Dois corpos tentando ocupar o mesmo espaço
Numa briga pacífica e macia
Sem banalizações
Fins de semana de vinho e pizzas
De frenesis febris
Confusões de cheiros
Em todos os cantos da casa
Sem dores no peito
Sol no rosto
Sal no gosto
Pimenta na existência
De nós dois

Boleia

Em 12/01/10

É essa vontade de rasgar papéis.
De fugir correndo até o deserto do Atacama.
Vontade de ouvir só silêncios.
Closes de câmeras.
Sussurro de água escorrendo pelos pés em mortes de cachoeiras.
De estar além de qualquer pensamento. Além do bem e do mal.
Retornar aos lugares bonitos da infância. Cheios de verde.
Encontrar a paz nos colos de alguns meninos. Talvez em um colo, em especial.
De sentir aquelas mãos rodando em meus cabelos, descobrindo sensações.
Enxergar-me através das descobertas dos olhos, das mãos e da boca dele.
Aquele beijo púbico, precipitadamente proibido.
Um encontro de línguas que se mereciam. Desejavam-se.
Dedos frenéticos de inspiração castigando um teclado privado.
Palavras que não cabem na boca e que não sabem ganhar o ar.
- Adeus. Desculpe. Não posso mais.
Vontade de sentar com os pés balançando ao vento no parapeito do edifício mais alto.
Ser toda cigarros. Cinzas e lenços ao vento.
Dourar a pele e os sentimentos ao sol.
Saudade de ouvi-lo descobrindo o calor da minha pele.
Mãos por todos os lados, suavemente, como sua boca e seu beijo.
O som da saliva invadindo meus poros.
Fazendo acrobacias com o chiclete.
A vida girando em câmera lenta naquela madrugada.
Elogios à meia luz.
Mais closes de câmeras.
Dois corpos que se cabem e se entendem muito bem e um cinzeiro.
Segredos de caminhoneiros.
A saudade antecipada da falta do toque.
Uma despedida e o medo de nunca mais ouvir o timbre da voz do outro.

Domesticada

Tenho o coração suspenso no ar. Ao léu. Para qualquer ventania reduzi-lo a pó.
E se eu assumisse, como no conto dos três mal amados, como no conto de qualquer mal amado, que o amor comeu meu juízo, que “o amor comeu meu medo da morte”?
Porque algo recente aconteceu, e eu não tenho mais medo. Só tenho medo da ausência.
A ausência das palavras. Ausência da presença. Ausência do carinho. Ausência do olhar. Ausência das atitudes mal criadas. Ausência dele.
Só quero a sensação do toque dele, do peso dele, da respiração dele, da voz dele, das mãos dele no meu cabelo, da língua dele, do olhar dele, do descontrole dele, da admiração dele.
De nenhum outro.
Não quero ser fiel. Nunca quis.
Agora, meu corpo e meu juízo me seguram. Rejeitam outros. Estou me traindo.
Ele dominou minha essência. Do-mes-ti-cou-me.
E nós fizemos tudo errado. O sono me fez trair minhas intenções.
Meus gestos me abandonaram e só sobrou meu cansaço e as palavras mal ditas.
Fui invadida por um milhão de aflições e passei todas as impressões erradas. Fui uma baita duma chata.

Ele nunca mais vai me procurar. Nunca mais. Porque o universo é assim, tem uns planos bem estranhos.
Ilude. E eu que sempre odiei ilusões... Iludi.
*
*
*
Eu acreditei, do fundo da minha existência, que eu não pertencia a ninguém.
Descobri que tenho muito a aprender.
Agora, pago e recebo na mesma moeda. Mas a dor, ah, essa eu conheço bem.
Porque algo recente aconteceu, algo que eu realmente não esperava, apesar de saber que poderia acontecer.
Verdadeiramente, não pertenço. O perigo reside no querer pertencer.
À pessoa errada.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

E viva a insônia!

Farei uma ode...

Ah, xápralá.

Medos

É que eu tô com medo, pela minha vida.
E eu sei que não tenho uma mão segurando a minha e dizendo “fica tranqüila, vai dar tudo certo, não é nada”. E eu nem quero ter. Porque se precisar chegar a esse ponto, terei certeza que a casa caiu, hermano.
Tenho também um medo fútil. Medo de ficar deformada. De ninguém olhar mais pra mim.
Tenho um medo aterrorizante do irremediável, mas sobre esse eu prefiro não pensar.
Sempre que algo assim atormenta os pensamentos, nascem algumas reflexões.
Por quê? O que fiz de errado? Será que mereço? Quem pode me ajudar? O que isso é realmente?...
Medo do medo. Medo do sofrimento. Medo da morte.
Medo do julgamento, medo da cara que minha mãe vai escolher para olhar pra mim, medo da dor que vou sentir e da dor que vou causar.
Medo de saber que ainda quero realizar tantas outras coisas. Medo de não realizar.
Medo da rejeição e do isolamento. Medo do medo dos outros.
Deus, eu tentei ser melhor, mas não consigo lembrar porque eu não consegui.
Deve ter sido por medo. Pelo pior deles, o de solidão
Escrevo aqui porque não encontrei outra forma de me comunicar.
Deus, preciso de ajuda.
Faço mal às pessoas. Carrego o caos dentro do meu peito e, algumas vezes, nas minhas palavras e nos meus olhares.
Agora entendo porque o amor é tão difícil. O amor é punição.
Não sei se resisto. Preciso também de força. Preciso de leveza.
Preciso de saúde. Quero saúde.
Meu peito tá apertado demais...
Preciso de alguém que cuide de mim. Segure minha mão.
Tenho os olhos mareados e a sinceridade cálida do espelho. Não há um colo seco que possa acalmar as aflições.
A maciez gelada das mãos dos médicos que não dão a mínima, mas atuam fingindo consideração.
Alguém que tenha consideração. Um humano de verdade ao meu lado.
Não estou pedindo muito. Apenas um.
Estou pagando pelos pecados de quem? Esse desespero brega me entorpece.
Eu quero um humano, demasiado humano, como eu.