quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Matilha

Lá fora faz frio.
Aqui dentro se confunde com verao.
Nao na alma, na casa.
A alma desliza congelada.
Entao eu como bis. Toda uma caixa.
E envio músicas para as pessoas que me conhecem bem lá dentro e me julgam bem lá dentro, só pra eu sentir dor, só para parecer que possuo sentimentos.
Num é só para parecer, porque eu possuo.
Sentimentos.
Mas sempre me esqueço disso, entao a tortura é ficar lembrando, mandando músicas, como pedidos de socorro escritos na neve, comendo toda uma caixa de bis e fumando os meus cigarros. Todos eles. Um após o outro. Até eu comprar a próxima caixa.
Só pra eu lembrar que tenho pulmao, tossir e ver que estou viva. Às vezes lembrar que tenho pulmao dá uma sensaçao de ter sentimento. Mas é só porque o pulmao tá bem perto do coraçao. Num sei se ao lado ou por cima dele. Talvez por isso quando dói, aperta. O pulmao deve ficar tentando lembrar o coraçao que ele tem que bater. E por isso aperta. Dói.
Cada dia mais sinto umas garras crescendo bem fortes no meu peito. Nao, nao é tuberculose, deve ser angústia mesmo. Elas vem querendo rasgar tudo de dentro pra fora. Ainda nao sei se sao garras de lobo ou de leao. Mas há uma diferença bem importante entre elas.
Entao eu acordo e corro e grito, mesmo que silenciosamente, todos os dias.
Escuto músicas xamanicas e afasto pessoas com atitudes inaudíveis e palavras controversas.
Acho que me acostumei a ser sozinha. Ainda que eu devesse correr em matilha.
Esse tamanho de solidao nao deixa espaço para muita coisa.
Só pra uivar pra lua.

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