terça-feira, 22 de junho de 2010

Muitas pernas no metrô.
Todas dividindo um mesmo vagão. Que é só um.
Ainda assim, cheio de pernas, dentre tantas outras que andam por aí. Todas buscando um caminho. A maior parte indo por inércia...
Acordam, se apóiam nos pés e partem rumo às ruas. Descontroladas.
Do futuro, só sabem que retornam pra casa.
Talvez, nem isso.

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Quantos?

Quantos de nós?

Quantos de nós gostamos?

Quantos de nós gostamos do que fazemos?

Quantos de nós gostamos do que fazemos?

Quantos de nós gostamos do que fazemos?

Quantos de nós realmente gostamos do que fazemos?

Twenty years of clean ou o conto de uma geração

Se o mundo não fizer silêncio
A natureza vai se encarregar disso
E daí não vai adiantar
Reclamar
Dos coquetéis molotov
Das inundações
E dos acidentes de trânsito
Ou da dor nos pulmões
Eu quero saber o nome
Daquele que vai ter a coragem
De olhar nos olhos do passado
E explicar ao presente
O tamanho da culpa que (não) sente
Eu estava tão acostumada a sua calma
E ao teu modo de tentar mostrar coragem
Esse modo bruto de mostrar que gosta das coisas
E das pessoas
Que achava que minha calma longe de você
Não existiria
Mas foi tudo sendo domesticado
E a nossa extinção arranjou explicação
As horas começaram a passar de um jeito
Mais tranquilamente rebelde
O frio que existia do lado de fora
Passou a incomodar só do lado de dentro
Quando eu vi, já estava toda coberta
Por todos os lados
Mas o maior frio ainda mora
onde
só você sabe incendiar

Uma dose de asas cortadas

Cada vez mais decepcionada com o ser humano
que é cada vez menos humano
Só uma boa dose de Bukowski
pra me fazer recuperar a lucidez
Eu já sabia que seria assim
só assim
Asfixiada e aconselhando os outros a
respirarem mais
Porque eu só acredito
no oxigênio
Mesmo quando o oxigênio
não acredita mais em mim
E agora é assim
tem essas cordas por todos os lados
e goteiras dentro das orelhas
Como um pássaro que conhece aquele horizonte
lindo
e observa a tudo com as asas cortadas
Com Dylan ao pé do ouvido
O sol me chamou pra dançar
Um horizonte que não conseguia tirar os olhos de mim
Uma imaginação trabalhando para não desperdiçar a beleza do dia
O balanço das vozes pendurando o ar em varais
Copa do mundo e férias iminentes acariciando minha pele
Um sorriso secreto escondido nas nuvens
A vida acontece de forma orgástica
Pode ser um grande prazer ou uma grande agonia
Você passa sua infância e adolescência ali parado, tranqüilo ou não
Esperando sabe lá deus o quê
Então é jogado num fluxo esmagador
E se vê obrigado a correr em direção a um objetivo desconhecido
Não importa como nem porque, você tem que chegar lá
É obrigado
A disputa é desleal e você nem sabe se o resultado desse desespero
Vai ser bom ou ruim
Pode ser um grande prazer ou uma grande agonia
Correndo sem saber pra onde, tentando chegar
Carregando um milhão de incertezas na mão
Nós somos um orgasmo do universo

sexta-feira, 4 de junho de 2010















Vai bater 18 horas no relógio, mas não vai dar 17h.
Preciso fazer as unhas, que começam a africanizar.
Sei que estou muito ansiosa, mas não fico mais magra ou mais nova com isso.
Preciso estudar, o sono não deixa.
Quero olhar aquela carinha linda do meu amigo pra ficar melhor. As horas estão congeladas.
Tenho saudade de outros tempos, de quando eu era virgem das histórias do mundo.
Mas dois aviões invadiram as torres gêmeas e tudo mudou. Era apenas irremediável.
E muitos corpos bateram no chão fazendo aquele barulho horrível de fim.
É necessário estar alegre para viver até os 102 anos.
Deus deve ser muito alegre.
O dia em que ele não foi alegre, Nietzsche teve uma grande sacada.
E o rio pinheiros chorava até ontem, antes da chuva. Agora está calmo como criança cheia de lodo no colo da mãe.
Eu não. Vejo o lodo, mas não vejo o colo da mãe.

Salas sem gravidade











Papai do céu, por que as pessoas não aprendem a calar suas bocarras?
Assim não dá, assim não quero.
Falam coisas inúteis em alto e bom som e me desconcentram. De tudo.
O tempo todo.
E eu, que já tenho a concentração de uma pipoca, tenho os pensamentos desmembrados
Flutuantes
Alheios de si
Fugazes
Suspensos do lado de fora da janela
Sobrevoando o Jockey clube
Aquela pracinha em Pinheiros
O apartamento da Daniela Cicarelli
O Palácio do Governo
E a Avenida Paulista
As horas correndo
Em sentido contrário às minhas obrigações.
E meus pensamentos organizados como bolinhas de ping pong
Em salas sem gravidade.