Velvet.
Às vezes eu acho que seu segredo residia na forma como você dizia meu nome. Na entonação da sua voz. Um artista da voz. Que me faz derreter cada vez que pronuncia meu nome. Nunca me chamaram assim, com tanta delícia na voz. Com tanto carinho. Quando você me olhava de perfil com cara de quem ia roubar um beijo apaixonado. Mas não podia. Resistia. Enquanto sua mão segurava meu pescoço. E você resistia, e eu resistia. Por medo de tanto desejo, de tanta violência e de tanto sentimento que nascia dentro de mim. E enquanto você se divertia e eu me divertia, fui me entregando aos pouquinhos, sem saber da dor que estava por vir, ignorando toda a insanidade daquela situação. Ignorando que tudo tem um fim. E esquecendo o quanto o fim dói. Aquele começo parecia que seria pra sempre. Eu fiquei bem séria e não te fiz um carinho. No meio daqueles espectadores todos. Fui ignorante. Eu só queria te abraçar, você e sua garrafa de cerveja ansiosa. Eu vi seu perfil na escada me esperando e me analisando. Carente. Eu tive medo. De você, da sua rejeição, de tanta força pulsando em mim. Tive medo da entrega que já tinha acontecido e da falta que você ia fazer depois que chegasse nosso último dia. Então você esfriou. E eu também. Me desesperei. Porque sei que você é do mundo. Como eu. O que eu não sabia é que você ia fazer tanta falta assim. Até hoje. Até agora. E eu não consigo mais seguir um dia adiante sem doer. Sem chorar. Esperando qualquer sinal seu ou divino. Um olá ou um bom dia. Arrependida de todas as coisas erradas que eu disse. De todos olhares errados, para as pessoas erradas. Quando eu juro que minha cabeça e meu peito só pertencem a você. Até hoje, até agora. Eu espero que sua cama me espere, enquanto meu travesseiro sente falta do peso da sua cabeça. Assim como quando eu tentava afastar as horas e os raios do sol, que ameaçavam entrar pela fresta da sua janela, com os pensamentos e ficava tensa. E você notava, sem saber o que fazer, tentando resolver tudo com beijos na minha testa, cabeça, ombros. Insistindo para dormirmos abraçados. Sem ligar para o incômodo do braço. Porque não havia incômodo para nós ali tão dentro daquele abraço. Encontrei finalmente um abraço do tamanho certo e compreendi. Dormíamos imóveis com medo de afastar o momento ou perder os segundos. Muitas vezes eu não dormia e podia sentir a sua respiração na minha nuca, também sem dormir, observando minha alma que tentava não escapar dali. Imóveis.
Sua N.