sábado, 26 de fevereiro de 2011

A pé.

*

Você não entende
Nem nunca vai entender
O que é acordar cedo
E se prostituir
Todos os dias
Sentindo nojo
Vendendo a alma
Por alguns centavos a mais
Pra imbecis que não prestam
Atenção em qualquer palavra
Porque estão olhando para os seus
Seios
Pra garantir o seu sustento
E os dos outros
Você nunca vai entender
O que é ter que engolir
Cada palavra errada
E cada orgulho fútil
Segurar tudo isso goela
Abaixo
Enquanto você sente a raiva
Crescendo
Olhando pra esse monte de
Bolsos cheios e mentes fúteis
Querer tomar um trago
Pra rir e relaxar com os amigos
E lembrar da carteira vazia
E das caras vazias
Do coração vazio
E saber que ninguém ali
Vai compreender sua
Pobreza ou sua carência
E te pagar uma bebida
Você nunca vai entender
O que é considerar a possibilidade
De ir pra casa de madrugada
chorando
A pé

*

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

*


Quero acordar beija-flor
E escutar nada além do som constante
das minhas asas
desenhando o infinito no espaço
quero acordar beija-flor
e só conhecer o sabor
das flores
viver para voar
nada além
abusar dessa minha liberdade
de pássaro
enquanto observo os humanos
em seus aquários-escritórios
em seus aquários-casas
em seus aquários-carros
em seus aquários-pensamentos
quero acordar beija-flor
nada além.


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Latente

*

Eu só consigo olhar para a paisagem
Porque todo o resto não me interessa.
Nasci em meio aos lobos e sei que
Humano nenhum vai me entender...
Vejo no escuro o brilho dos
Longos caninos brancos
E aguardo meu resgate.
Tenho tentado deixar minhas
Unhas crescerem
Para cavar uma saída
Porque tenho ouvido seu chamado
Mas perdi o tom do meu
Uivo.
Permaneço imóvel
Olhando a lua
E aguardo meu resgate,
Pois sou feita de
Material selvagem
E tudo que tentar me prender
Pede pra me perder.

***